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Pará apresenta redução em casos de crianças nascidas com baixo peso

No Pará, a Santa Casa de Misericórdia, que é referência em atendimentos neonatais, também registra queda nos números de bebês abaixo do peso e oferece serviços especializados para os nascidos nessa condição.

O Liberal

O nascimento de bebês abaixo do peso – condição responsável por aumentar em 25 vezes o risco de mortalidade neonatal – apresentou redução de 9,4% em dois anos no Pará, como mostram dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). A queda foi verificada do ano de 2022 para 2024, quando o número de crianças nascidas com menos de 2,5 kg saiu de 10.691 para 9.682 casos. Atualmente, o Norte possui o menor percentual (8,7%) de recém-nascidos (RN) nessa condição na comparação com as demais regiões do Brasil, segundo um estudo da Fundação Abrinq. Em Belém, a Santa Casa de Misericórdia, referência em atendimento neonatal, reflete essa tendência e oferece serviços especializados para os que vêm ao mundo nessa condição. Além disso, o acompanhamento nas Unidades Básicas de Saúde da capital também preveem esse cuidado.


A Sespa comunicou que no levantamento sobre nascidos com menos de 2,5 kg no Estado não estão incluídos os bebês com peso abaixo de 500 gramas. Além disso, o órgão também ressalta que a maior parte dos registros dessa condição tem relação com a prematuridade, o que reforça a necessidade de um pré-natal adequado, como forma de prevenção.

“Este acompanhamento médico realizado durante a gravidez é feito pela atenção básica, de responsabilidade dos municípios. Para melhorar o atendimento e reduzir os casos de complicações, a Sespa, em parceria com os municípios e o Ministério da Saúde, trabalha na construção dos Planos Regionais da Rede Alyne. Esses planos devem garantir mais recursos para a qualificação do pré-natal, além de melhorias como ambulatórios especializados em pré-natal de alto risco e o acompanhamento médico dos bebês após a alta da UTI Neonatal”, disse a secretaria, em nota.

Na Santa Casa, que recebe pacientes de todo o Estado, desde 2022 os nascimentos abaixo do peso apresentam redução. O hospital possui, no Ambulatório da Mulher, o Pré-Natal de Alto Risco que atende gestantes consideradas de alto risco gestacional por conta de doenças como diabetes, hipertensão e anemia. Esse atendimento especializado contribui para a diminuição da mortalidade materna e infantil e pode contribuir com a redução de nascimentos de crianças prematuras e de baixo peso.

Redução

Na Santa Casa, nos últimos três anos, o percentual de casos de nascidos com peso baixo do considerado mínimo está caindo. Em 2024, foram 1.699 bebês nessa condição, de um total de 9.702, o que significa somente 17,51% dos nascimentos realizados na maternidade. Em 2023, o percentual foi de 18,92% e, em 2022, de 21,84%.

A enfermeira Gisele Carvalho Lima, que atua na Santa Casa e é especialista em neonatologia, explica o que ocorre para o bebê ser considerado de baixo peso e como cada caso depende da evolução da gravidez.

“É considerada de baixo peso aquela criança que nasce de 2,5 kg para baixo. Mas tudo vai depender da idade gestacional. Uma criança que nasce no tempo certo, como a gente fala, é de 40 semanas gestacionais. O bebê é considerado prematuro quando nasce de 37 semanas para baixo. Mas é importante entender que eu posso ter um prematuro de baixo peso e o contrário também, um de baixo peso, que nasceu no tempo gestacional correto. Os casos que são preocupantes são os bebês que estão com as 40 semanas e não têm o desenvolvimento bom, não evoluíram e nasceram abaixo do peso”, explica.

Os casos de nascidos no tempo certo de gestação, mas abaixo do peso ideal, podem estar relacionados com problemas de saúde da mãe ou por situações que afetam o desenvolvimento da gravidez. Além disso, bebês nessa condição têm risco 25 vezes maior de mortalidade neonatal.

Já os prematuros com baixo peso nascem devido à gestação se interromper antes da 37ª semana completa de idade gestacional. Eles são classificados de acordo com o peso ao nascer, podendo estar na condição de prematuro extremo: nascer entre a semana 26 e a 29, com peso entre 750 e 1.200 g; e micro-prematuros: nascem antes da semana 26 de gestação. Os prematuros têm maior risco de problemas respiratórios.


Pré-Natal

De acordo com a enfermeira, quando a mãe realiza adequadamente o pré-natal, é possível identificar se a criança está abaixo do peso e tendo o desenvolvimento adequado.

“Durante o acompanhamento com o médico, a mãe fará o exame de ultrassonografia. E nessa etapa dá para identificar se essa criança está se desenvolvendo de acordo com a idade gestacional dela. Além disso, a não realização do pré-natal pode ser uma das causas para essa condição do recém-nascido. Ou talvez não estar tomando as vitaminas que são prescritas no primeiro trimestre. Às vezes, uma infecção urinária que ela apresenta ou até mesmo o tamanho e condição da placenta”, garante Gisele Lima.

Nascimentos

A Santa Casa disponibiliza atendimento hospitalar para gestantes que necessitam de internação e com a Casa da Gestante, um espaço que abriga as grávidas que, por condições de saúde ou sociais, precisam estar próximas de uma unidade hospitalar. O hospital também conta com uma unidade neonatal equipada, além de uma Unidade Canguru para o atendimento humanizado ao recém-nascido de baixo peso.

O Método Canguru é um modelo de assistência que reúne estratégias biopsicossociais para o cuidado de recém-nascidos prematuros e suas famílias. O método incentiva o contato pele a pele entre a mãe e o recém-nascido. O bebê é colocado sobre o abdômen da mãe e coberto com uma manta seca e aquecida. Assim, ele traz o benefício de reduzir o tempo de separação entre a criança e a família; favorece o vínculo com o bebê; melhora o desenvolvimento do recém-nascido; estimula o aleitamento materno; reduz o risco de infecção hospitalar; reduz o estresse e a dor; além de melhorar a comunicação da família com a equipe de saúde. A Santa Casa de Misericórdia do Pará foi pioneira no Método Canguru no Norte do Brasil.

Além disso, segundo explica a enfermeira Gisele Lima, o ambulatório do prematuro da instituição faz o acompanhamento de todas as crianças que nascem na Santa Casa em condição de menor ou igual a 35 semanas. Os bebês passam por uma equipe multidisciplinar para garantir um melhor desenvolvimento. O mesmo método é aplicado em bebês com peso baixo.

“Aqui eles são assistidos por médicos pediatras, enfermeira, que sou eu, neonatologista, terapia, terapia ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionista e a neuropediatra. Todos esses profissionais fazem parte do programa do Hospital do Prematuro para prevenir possíveis sequelas da prematuridade. A gente acompanha as crianças de zero a quatro anos. São pacientes de Belém e também de várias cidades do estado”, ressalta a especialista.

Conforme Gisele Lima, a demanda de novas mães e bebês recém-nascidos, com prematuridade ou baixo peso, que dão entrada na Santa Casa é muito alta. “Por mês, a gente tem aqui um livro só de casos novos. É uma média de 65 casos que chegam para o ambulatório. Fora os retornos, que já estão em tratamento na unidade”, aponta a enfermeira.

Suporte

A professora Margarete Barbosa dos Santos, de 26 anos, leva o filho Henrique Rafael para realizar o acompanhamento no ambulatório de Prematuro da Santa Casa. Ele nasceu com 1,180 kg, em 2023, quando tinha somente 32 semanas de gestação.

“Eu venho de Ponta de Pedras, no Marajó, todos os meses para ele passar pelos médicos aqui. Hoje ele está com um ano e quatro meses. Minha gestação passou a ser de risco com seis meses, quando descobri que estava com pressão alta. Fiz todos os exames e me alimentei direito, mas ainda assim precisei ser internada para fazer a cesárea. Desde que nasceu, ele já fez a cirurgia do pé torto congênito e hoje tem o acompanhamento com fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo e pediatra aqui. No início, isso foi um susto para mim, mas agora fico feliz por ele ter saúde e estar sendo bem cuidado. Ele teve ganho de peso e consegue dar uns passos sozinho”, diz a professora.

O agricultor Eraldo Reis dos Passos, de 46 anos, acompanha o filho todos os meses durante o tratamento na Santa Casa. André Joaquim, de um ano e quatro meses, nasceu prematuro extremo, com 30 semanas, pesando 900 g. Ele teve falta de oxigenação no cérebro devido a complicações no parto.

“Eu moro na zona rural de Bujaru e, pela distância, ele teve complicações no parto. Atualmente, ele tá com 9,400 kg e tem consultas com a fono, pediatra, enfermeira, psicólogo, terapia ocupacional e o fisioterapeuta. A gente, como pai, também é orientado aqui. Os médicos me explicaram o que podia acontecer devido à complicação dele. Ser pai de uma criança especial não foi difícil de aceitar. Eu olhei pelo meu sofrimento da ocasião, pois queria tanto o meu filho. Ele é especial, mas eu vejo a evolução todos os dias. Ele só mexia a cabeça e a mão era fechada. Hoje ele pula e presta atenção no que falamos. Ele também está começando a falar. Dá para ver que melhorou muito”, declarou o pai.

A dona de casa Evellyn Maria Costa Carneiro saiu de Nova Timboteua, no nordeste do Estado, para ter a filha, Maria Mavie, na Santa Casa. A bebê, que tem somente um mês de vida, nasceu com oito meses de gestação, com 1,924 kg. A mãe disse que entrou em trabalho de parto de repente e teve que ir às pressas para o hospital.

“Eu tive alguns sangramentos e dores na gestação. Fazia o pré-natal lá perto da minha casa e nunca falaram que eu tinha gravidez de risco. Então foi uma surpresa quando ela nasceu. Como eu perdi muito sangue, me encaminharam aqui para a Santa Casa. Agora a Maria está fazendo o acompanhamento para ganhar peso e se desenvolver. Esse é o momento mais importante porque ela tem que sair do peso de risco. Então vai ficar até os quatro anos aqui e está no processo para ser enviada para os outros médicos especialistas”, relata a mãe.

Cuidados em Belém

Belém também apresentou uma redução, que chega a 10,56%, em casos de crianças nascidas abaixo do peso no período de um ano. Os dados da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) mostram que, em 2024, foram registrados 1.364 casos de nascidos nessa condição, enquanto em 2023 foram 1.525 bebês abaixo do peso. De acordo com a Sesma, nos dois primeiros meses de 2025, nasceram 187 bebês com peso baixo na capital paraense. Sendo 129 registros em janeiro e 58 casos dessa condição em fevereiro.

“A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) disponibiliza nas unidades básicas de saúde o acompanhamento pré-natal de risco habitual e de alto risco”, disse em nota.

Um dos locais onde há o acompanhamento de gestantes durante o pré-natal, para evitar o caso de baixo peso no recém-nascido, é a Unidade Básica de Saúde (UBS) da Providência, no bairro Maracangalha. Segundo a enfermeira Valéria Vitorino, que atua como enfermeira na unidade, todas as grávidas têm acesso a uma equipe completa que auxilia em várias especialidades durante a gestação.

“Somos formados por seis equipes aqui na unidade. Elas são formadas por um médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, dentista e nutricionista. Eles fazem o levantamento de grávidas na área e elas vêm para a unidade iniciar o pré-natal. Fazemos exames, testes rápidos para detectar hipertensão e, na primeira consulta, ela já é encaminhada para os exames laboratoriais. As grávidas também passam pelo educador físico, para realizar atividades físicas de maneira adequada”, explica.

A enfermeira Valéria Vitorino também ressalta que a unidade auxilia para o correto desenvolvimento dos bebês. “Nos primeiros dias de vida, nós vamos observando o ganho de peso do bebê. Então, nos 15 primeiros dias, ele passa com a enfermagem, pediatra e, caso necessário, com a nutricionista. A caderneta da criança tem um gráfico para ver se o bebê está com baixo peso. Articulamos para melhor atender o bebê”, garante a profissional de saúde.

Taísa da Silva Santos Gemaque fez o pré-natal na unidade desde que descobriu que estava grávida de Maria Júlia, que atualmente tem um ano e um mês. “A minha pressão era alterada, aí eu tive que fazer todo o acompanhamento. E quando eu engravidei dela, eu estava acima do peso. Então tive um certo cuidado da nutricionista. Foi muito bom o acompanhamento aqui comigo e, depois que minha filha nasceu, ela também passou a ser monitorada. Sempre estamos aqui para os exames de crescimento, peso e desenvolvimento em geral”, diz a mãe.

Lorena Amador Vilhena, de 26 anos, está com três meses de gestação e iniciou o pré-natal na UBS. “Estou tomando minha suplementação e vitamina. Eles são bem atenciosos com relação às minhas perguntas, meus questionamentos e tudo. Eu faço acompanhamento com a nutricionista, pois comecei a gestação com um pouquinho de sobrepeso. Penso muito nessa questão do peso da criança, para não ficar baixo e nem muito alto”, diz a mãe.

Dayse Magno Fiel, de 30 anos, está há poucos dias de dar à luz ao segundo filho. Ela também fez o pré-natal na unidade e conta sobre os cuidados que recebeu da equipe da UBS Providência.

“Tive três abortos espontâneos antes e isso faz essa gestação ser de risco. Mas desde que estou sendo acompanhada aqui, tenho sido muito bem atendida. Os profissionais têm um cuidado muito grande com as medicações, vitaminas e as consultas para garantir que o bebê tenha saúde e eu também. Até agora está sendo muito tranquilo e estou só aguardando o dia do meu filho nascer”, relata a dona de casa.

Belém