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Obras raras recuperadas voltam ao acervo do Museu Emílio Goeldi em Belém

Os itens foram localizados, desta vez, na Argentina e na Inglaterra

Camila Guimarães

No fim da manhã desta quinta-feira, 3, as duas obras raras recuperadas mais recentemente pela Polícia Federal foram devolvidas ao acervo do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Elas integram um conjunto de 40 in-fólios e 20 livros raros que foram furtados da instituição em 2008. O diretor do MPEG, Nilson Gabas Júnior, acredita que, em breve, muitas outras obras serão repatriadas e o autor do furto seja localizado.

"A parceria com a Polícia Federal continua. A minha impressão é que, a cada obra que a gente consegue trazer, junto com ela vêm mais evidências de que a gente vai conseguir chegar em quem foi o autor disso e onde estão as demais. Acredito que em breve nós tenhamos uma enxurrada de devolução e de repatriação de obras para para a instituição", diz Nilson Gabas Jr.

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A curadora do setor de obras raras da biblioteca do MPEG há 39 anos, Berenice Bacelar, participou do trabalho de identificação das obras furtadas. Ela explicou como os técnicos tiveram certeza de que as obras recuperadas eram do acervo do museu: "Cada biblioteca tem as suas páginas de segurança, tem os seus carimbos secos e molhados. No caso de uma lavagem química, os carimbos molhados são retirados, mas os carimbos secos não, porque eles são como uma marca d'água".

O chefe do serviço de biblioteca do MPEG, Rodrigo Paiva, ressaltou a importância dos itens recuperados: "A importância dos materiais se retrata na história da ciência, mas sobretudo na história da ciência da América do Sul e da Amazônia. Quando nós observamos a obra de Poeppig, ela retrata todo um processo de viagem e discussão de um naturalista europeu no século XIX para compreender a fauna e a flora e as próprias comunidades locais que habitavam aqui a região".

"Enquanto a obra de Spix já trata mais da fauna, especificamente dos primatas, que ele conseguiu fazer todo o processo de sistematização do que ele observou nessa sua excursão, patrocinada pelo rei da Baviera ainda no século XIX", complementa.

Para evitar que novas obras sejam retiradas ilegalmente do acervo do Museu, o MPEG conta, hoje em dia, com uma sala-cofre, conforme detalha o diretor da instituição: "Criamos uma uma sala-cofre que tem tripla finalidade: evitar o acesso indevido às obras; garantir a preservação os materiais, com temperatura de umidade constantes para que essas obras não se deteriorem; e evitar que haja algum tipo de incidente, como, por exemplo, fogo, evitando que aconteça como aconteceu com o Museu Nacional no Rio de Janeiro".

Entenda mais sobre as obras recuperadas

“Reise in Chile, Peru und auf dem Amazonenstrome” (Viagem no Chile, Peru e no Rio Amazonas), publicada em 1836, foi escrita pelo médico e botânico alemão Eduard Friedrich Poeppig. Este livro raro foi recuperado em dezembro de 2023 pela aduana argentina, durante uma operação em Buenos Aires. O conteúdo da obra é um relato detalhado da viagem de Poeppig por diversas províncias do Chile, Peru e Amazônia. A jornada incluiu a travessia dos Andes, uma imersão de dois anos entre os indígenas de Maynas e culminou na chegada ao Pará em abril de 1831. Poeppig foi o terceiro europeu a viajar por toda a extensão do Rio Amazonas e seu livro é um registro inestimável de uma Amazônia ainda pouco explorada e desconhecida para o resto do mundo no século XIX. A obra tem importância histórica e científica para o patrimônio nacional.

A segunda obra devolvida ao Museu Goeldi é "Simiarum et vespertilionum Brasiliensium species novae" (Novas espécies de macacos e morcegos do Brasil), publicada em 1823, é de autoria de um dos mais importantes cientistas que estudaram a natureza brasileira no século XIX, o naturalista alemão Johann Baptist von Spix. Esta obra, escrita em latim, alemão e francês, documenta a expedição de Spix ao Brasil, ordenada pelo Rei da Baviera. O livro apresenta 38 pranchas litográficas que retratam diversas espécies de macacos e morcegos encontrados na Floresta Amazônica - o extenso legado de Spix, através dessa e outras obras, é um trabalho pioneiro sobre a fauna brasileira da época, de grande impacto científico. A publicação foi recuperada no primeiro semestre de 2024 pela Polícia Federal, em colaboração com a Unidade de Artes e Antiguidades da Polícia Metropolitana de Londres, a Scotland Yard.

Belém