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O Liberal: da oposição política à modernização da imprensa paraense

Pesquisadores da história da mídia impressa no Pará falam sobre a trajetória do jornal que se encaminha para os 80 anos como referência no registro da história amazônica

Gabriel da Mota

Fundado em 15 de novembro de 1946, O LIBERAL nasceu para ocupar um espaço de destaque na imprensa paraense, em um momento de transformações políticas e sociais no Brasil e no Pará. Criado inicialmente como um veículo de oposição, o jornal rapidamente se consolidou como um dos mais importantes do estado, ajudando a moldar o jornalismo regional e se tornando referência no registro da história da Amazônia. Hoje, sua trajetória é reconhecida como um marco na preservação da memória e na construção de uma narrativa amazônica moderna, conforme contextualizado por pesquisadores da história da mídia impressa paraense.

Netília Seixas, professora dos cursos de graduação e pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), relata: “Antes de O Liberal, nós tínhamos em circulação aqui no Pará algumas revistas e pequenos jornais. A Província do Pará, que foi criada em 1876, e a Folha do Norte, que foi criada em 1896, eram os jornais de maior duração até o momento. No início do século XX, em 1911, nós temos o surgimento de outro grande jornal, que é o Estado do Pará. Depois, o outro grande jornal que nós vamos ter é justamente O Liberal, que foi criado em 1946”.

A criação de O LIBERAL foi diretamente influenciada pelo cenário político da época. O jornal nasceu para fazer frente à Folha do Norte, que tinha uma postura política de oposição ao baratista Partido Social Democrático (PSD). Apesar desse alinhamento político inicial, o jornal começou a construir uma identidade que o diferenciava de seus concorrentes. Ao contrário da Folha do Norte, que Netília descreve como “bastante sisudo”, com textos densos e poucas imagens, O LIBERAL trazia um formato mais dinâmico e acessível:

“Surgiu quase como um tabloide. Era mais curto, tinha mais imagens e textos mais diversos. A Folha do Norte era um jornal grande, com colunas de textos com pouco respiro. Era um jornal bastante ‘pesado’ para ler”, compara.

image Netília Seixas, professora doutora da graduação e pós-graduação em Comunicação na UFPA (Adriano Nascimento / especial para O Liberal)

A rivalidade entre O LIBERAL e a Folha do Norte moldou não apenas o perfil dos veículos, mas também o consumo de informação no Pará. Jessé Santa Brígida, professor de Comunicação Social na Universidade da Amazônia (Unama), analisa como essa disputa foi decisiva para a consolidação do jornalismo local: “A rivalidade entre os dois periódicos foi muito grande. Isso moldou muito a sociedade da época, porque essa virada de 1940 para 1950 era um período que o jornalismo estava começando a se moldar. O LIBERAL e a Folha do Norte caminharam exatamente nessa perspectiva de mostrar cada vez mais a cidade e os contornos que ela tem”.

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Essa transformação foi parte de um movimento mais amplo no jornalismo brasileiro, que começava a valorizar o cotidiano e a vida social, além das questões políticas e econômicas. “Até então, os jornais se preocupavam muito mais com questões políticas, econômicas, estrangeiras. A própria cidade, a vida das pessoas, não era tão retratada. Aí, nessa virada de 1940 para 1950 e daí por diante, isso vai ficar muito forte”, destaca Jessé.

Aquisição pela família Maiorana

A primeira grande transformação no perfil de O LIBERAL aconteceu em 1966, com sua aquisição pela Família Maiorana. Sob a gestão de Romulo Maiorana, o jornal passou a adotar uma linha editorial mais diversificada e um formato gráfico ainda mais moderno. Netília observa: “Quando passa a ser propriedade de Romulo Maiorana, realmente muda o jornal. Ele passa a ter uma diversidade de colunistas, a abordar as temáticas do estado. O Liberal, realmente, teve uma outra perspectiva editorial”.

Essa nova fase consolidou o jornal como referência na imprensa regional. A aposta em colunas políticas, sociais e culturais, aliada à ampliação do uso de fotografias e recursos gráficos, garantiu a conexão do jornal com o público e reforçou sua relevância no cenário amazônico.

Memória e narrativa amazônica

Mais do que um veículo de notícias, O LIBERAL se consolidou como um espaço de preservação da memória amazônica. Jessé aponta que o jornal tem um papel crucial nesse sentido: “Por ser um dos jornais mais antigos ainda em circulação, ele tem um acervo riquíssimo, inestimável. O que ele acompanhou, o crescimento da cidade, é muito importante não só para os estudos, para as pesquisas científicas, mas para a própria sociedade”. 

image Exemplares antigos de O Liberal, como este de 1977, estão disponíveis para consulta pública na Biblioteca Arthur Vianna, no Centur (Carmem Helena / O Liberal)

Além de preservar a memória, na opinião do pesquisador, O Liberal ajudou a construir uma narrativa regional, destacando a identidade amazônica no contexto nacional. Tal relevância é ainda mais significativa em um momento em que a Amazônia está no centro das discussões globais. “O Liberal dá holofotes para as narrativas amazônicas e para os estudos desse espaço que é tão rico. Ele não cumpre só a função de um preservador de identidade, mas também avança para mostrar como a sociedade amazônica se constituiu, se constitui e vai se constituir”, completa Jessé.

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Belém
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