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Moradores de Mosqueiro relatam prejuízos das queimadas à saúde; especialista orienta o que fazer

Pneumologista explica as principais consequências do contato prolongado com a fumaça resultante do incêndio florestal

Camila Guimarães

Com as queimadas atingindo o patamar de incêndio florestal em Mosqueiro, além de perdas materiais, os moradores da ilha também têm enfrentado prejuízos à saúde por terem que conviver com a fumaça e a fuligem, resultados do fogo que se alastra pela região. De acordo com especialista em pneumologia, a inalação prolongada desse tipo de resíduo pode levar a sérios danos à saúde.

Na última quinta-feira, 7, a equipe de reportagem de O Liberal esteve em Mosqueiro e conversou com pessoas que moram próximas a áreas que pegaram fogo nas últimas semanas. Uma das moradoras, Maria Machado, de 49 anos de idade, descreveu o mal-estar que sente por conviver com os resquícios da fumaça:

"Faz mal para os nossos olhos, para a nossa garganta e para a nossa respiração", diz a dona de casa que também afirma que mal consegue dormir à noite, quando o vento costuma trazer ainda mais fumaça para a residência.

O agricultor José Natalino, de 46 anos, que teve a plantação carbonizada há quase três semanas afirma que ainda sente os prejuízos causados pela inalação da fumaça resultante do incêndio florestal. Sem ter como se mudar com a família, ele conta que tenta fazer o que está a seu alcance para manter a saúde e o mínimo bem-estar:

"A gente vai tomando leite. Faz bem forte, todo dia, e toma, por causa da fumaça. Porque por dentro da gente parece que queima e dá tipo um catarro, que parece uma goma. Então a gente toma leite logo de manhã cedo", relata o agricultor.

Apesar de a medida ser bem-vinda, ela está entre um dos cuidados considerados paliativos pelo médico pneumologista José Antônio Cordero. "[Quando a pessoa convive com a fumaça] tem que ter muita hidratação e uma alimentação saudável, com ingestão de frutas, leite... Mas, nesse cenário de prolongada exposição, essas medidas não são suficientes", diz o médico.

A situação de quem inala por muito tempo produtos resultantes da queima, sobretudo de material orgânico e vegetal, é de maior vulnerabilidade a complicações do trato respiratório, como pontua o pneumologista:

"Tosse, falta de ar, irritação das narinas e da faringe, que é a garganta, estão entre os sintomas mais imediatos. Mas esse problema pode evoluir para um quadro infeccioso, que é mais grave para as faixas etárias das crianças e dos idosos. Pode desencadear, ainda, crise de asma, bronquite e pneumonia".

Para o especialista, a solução mais eficiente é o combate rígido aos incêndios ou, na outra ponta, o remanejamento dos moradores da área diretamente afetada pelo incêndio florestal. Diante das limitações em que vivem, ele orienta que a população tente se manter o mais hidratada possível. Além da ingestão de líquidos, colocar vasilhas com água dentro dos ambientes para tentar melhorar a umidade do ar é outra dica importante.

"Se a pessoa tiver tosse contínua, ou seja, por 24 horas, dor no peito, falta de ar e chiado na respiração, ela tem que procurar imediatamente uma unidade de saúde", orienta o médico.

Indiciados

A Polícia Civil informou que indiciou três pessoas acusadas de provocarem incêndios em Mosqueiro. A Semma também prepara o relatório da fiscalização realizada em Mosqueiro sobre a extensão dos danos e a possível autoria dos incêndios. As três pessoas indiciadas pela Polícia Civil deverão ser autuadas e multadas também pela Semma. “Vamos solicitar a cópia do inquérito policial para lavrar o auto de infração que vai responsabilizar administrativamente (os acusados). A multa para esse crime ambiental varia de R$ 500 a R$ 50 milhões”, explica o diretor-geral da Semma, Leonardo de Jesus.

Atendimento a pacientes com problemas respiratórios

A situação em Mosqueiro tem gerado uma série de problemas respiratórios na população. Dados do Hospital Municipal de Mosqueiro mostram um crescimento expressivo nos atendimentos a pacientes com doenças respiratórias, especialmente entre crianças, desde o início das queimadas. Na última semana, o número de atendimentos diários quase quadruplicou, indo de 3 para cerca de 40 em poucos dias.

A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) monitora, junto ao gabinete de crise, o atendimento de pacientes pelo Hospital Municipal de Mosqueiro com doenças do aparelho respiratório. A incidência de fumaça na ilha reduziu em cerca de 70% nas últimas 24 horas, segundo o coordenador da Defesa Civil. Os reflexos do controle do incêndio começam a ser notados no início da redução do número de pacientes com esse perfil, nesta sexta-feira, 8. Porém, não é possível confirmar se os casos atendidos estejam diretamente relacionados à inalação de fumaça.

O Hospital de Mosqueiro registrou aumento do número de casos de doenças respiratórias esta semana, principalmente em crianças. Esse perfil de paciente cresceu de 3 para 18 casos entre o domingo, 3, e a segunda-feira, 4, e saltou para quase 40 atendimentos diários nos dias seguintes.

Belém