Moradores do bairro da Terra Firme, em Belém, que dependem diariamente do rio Tucunduba — inclusive para abastecer o comércio local — estão atentos à qualidade das águas, uma preocupação constante na região. Um projeto da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) em parceria com o Instituto Evandro Chagas (IEC) prevê a coleta de água em rios, mananciais e igarapés ao longo de cinco anos em todo o Estado — a começar pela Região Metropolitana. A iniciativa, que pode se tornar a maior ação desse tipo na Amazônia, foi recebida com esperança pela comunidade da capital.
Quem mora no entorno do rio Tucunduba vive de perto o impacto de uma das principais queixas: a poluição das águas. O servidor público José Maria Sousa, de 60 anos, almeja pela melhoria do local. “Acho que pode fazer um impacto, porque se vai averiguar o nível de poluição da água. E a primeira coisa também é trazer o tratamento de esgoto [do canal onde passa o rio]”, observa o morador da área, que também é membro do Movimento Defensores do rio Tucunduba.
O técnico em telecomunicação Leandro Costa, 67, também comenta que esse cuidado pode resgatar a qualidade do rio. Ele lembra, ainda, que o rio é rota para que algumas mercadorias da região das ilhas de Belém cheguem até a uma feira localizada às margens do rio Tucunduba. Por isso, é essencial que a área seja devidamente livre de qualquer poluente. Leandro, que a há mais de 30 anos mora na Terra Firme, fala da expectativa que a iniciativa gere resultados concretos.
Atualmente, ele e alguns membros do movimento de defensores do rio, realizam ações educativas para evitar o descarte de lixo no rio. “Sobre a ajuda que o Rio nos traz: ele traz as frutas dos ribeirinhos, traz o carvão, traz o peixe. Tudo isso movimenta o comércio na margem do rio Tucunduba. Tudo isso ajuda a gente. O rio movimenta esse comércio. A gente tem que tirar essa poluição. E educar as pessoas para ter um mundo melhor para a gente”, relata Leandro.
Políticas públicas
A ação de monitoramento pretende gerar dados para políticas de preservação e gestão dos recursos hídricos. Inicialmente, a iniciativa se concentrará na Região Metropolitana de Belém - devido ao volume populacional dessas cidades. As atividades iniciaram com visitas técnicas no dia 29 de janeiro em vários pontos. A ação abrange os municípios de Marabá, localizado na região do sudeste paraense, e os municípios da RMB. A parceria entre as duas instituições estabelece que as atividades do projeto "Monitoramento e Diagnóstico de Qualidade das Águas Superficiais" que serão realizadas durante 60 meses.
No total, serão 95 pontos de monitoramento, como explica a coordenadora da Diretoria de Recursos Hídricos da Semas, Verônica Bittencourt. Entre os locais já vistoriados estão: o Rio Guamá, Rio Maguari e Rio Caraparu e canais da bacia hidrográfica da capital paraense. “O projeto surgiu da necessidade de ampliarmos a nossa rede de monitoramento da qualidade da água, considerando que a Região Metropolitana por ter uma maior concentração populacional. O projeto surge da necessidade de identificar quais são os pontos de poluição e quais são as fontes de emissão. As coletas serão feitas pelo Instituto Evandro Chagas, porque eles têm um amplo parque analítico voltado especificamente para análise de águas e efluentes”, detalha Verônica.
Coletas
O esperado é que o projeto alcance, em até 60 meses, 3,4 mil coletas nos rios, mananciais, baías, igarapés e furos d’água selecionados. ”Temos pontos de coleta na Bacia do Mata Fome, Bacia do Rio Ariri, em Ananindeua, além do Rio Guamá. É uma ampla rede de monitoramento. Estamos no primeiro ano, com a etapa investigativa de diagnóstico desses pontos. Esses resultados vão subsidiar várias ações no âmbito estadual, de forma que a gente possa investir em projetos de despoluição de bacias urbanas, trazendo benefícios para a população também com relação à qualidade de vida”, enfatiza a coordenadora.
Verônica também conta que, com esses diagnósticos, os órgãos responsáveis pela saúde terão subsídios para avaliar relatórios e ações destinada ao bem-estar dessas comunidades - possivelmente impactadas pelos rios. O objetivo é atuar de forma integrada até mesmo em outros setores; “Sabemos também que muitos bairros em Belém são diretamente cercados pelos rios. Isso também trará maiores investimentos com relação ao turismo e lazer, porque a partir do momento que você tem rios com melhor qualidade de água, nós vamos ter outras atividades que vão poder ser desenvolvidas na nossa cidade”.
E a expectativa também é ampliar esse monitoramento até Parauapebas e para a região de Santarém, no Tapajós. O investimento atual do projeto é orçado aproximadamente de R$ 2,9 milhões. “Hoje, a gente vive a questão da escassez hídrica e de vários problemas de eventos críticos. Esse monitoramento ainda dá subsídios para projetos e ações relacionadas à questão da prevenção de eventos como a escassez. O monitoramento é fundamental até mesmo na questão de poluição e contaminação das águas”, relata a coordenadora da Semas.
Métodos
Segundo o pesquisador da Seção de Meio Ambiente do IEC (SEAMB/IEC) e coordenador do projeto, Adaelson Campelo Medeiros, as amostragens e análises de águas superficiais nos pontos definidos são realizadas de acordo com métodos padronizados e validados por órgãos nacionais e internacionais para avaliação desse material. “As pesquisas ainda estão em processo inicial de avaliação, entretanto, as fontes de poluição podem ser pontuais ou difusas, tais como: efluentes domésticos e industriais, resíduos gerados por atividades de mineração, desmatamentos, etc”, pontua o pesquisador.
“São avaliados [a partir da coleta] 24 parâmetros físico-químicos e microbiológicos: pH, temperatura, condutividade elétrica, sólidos totais dissolvidos, oxigênio dissolvido, salinidade, turbidez, cor verdadeira, sólidos totais em suspensão, Alcalinidade total, Demanda Bioquímica de Oxigênio-DBO, Demanda Química de Oxigênio-DQO, Fluoreto, Cloreto, Nitrogênio Amoniacal, N-Nitrito, N-Nitrato, Sulfato, Fosfato, Fósforo Total, Dureza, Coliformes Totais, Coliformes Termotolerantes e Escherichia Coli”, explica Adaelson.
“Ainda sobre envolvimento do instituto no estudo, ele destaca: “O IEC atua nas ações preventivas para a saúde ambiental dos mananciais superficiais avaliados, gerando informações importantes sobre a qualidade das águas no Estado do Pará, mais especificamente nas macroregiões hidrográficas do Tocantins-Araguaia (Rios Itacaiúnas e Parauapebas) e Costa Atlântica Nordeste (Corpos Hídricos da Região Metropolitana de Belém), a partir do monitoramento e diagnóstico da qualidade das águas avaliadas neste projeto de pesquisa”, acrescenta o pesquisador.
Etapas
O projeto está dividido em 3 etapas de execução. A 1ª etapa vai buscar a caracterização e avaliação dos corpos d’água dessas microrregiões. A 2ª etapa vai consistir no levantamento de dados de poluição/contaminação dos corpos d’água, bem como, o nível necessário de tratamento. E por fim, a 3ª etapa vai fazer o levantamento de informações de dados hidrodinâmicos e hidrográficos para avaliar a capacidade de autodepuração (restaurar suas características ambientais naturalmente) dos corpos d’água.