Medula óssea: entenda a importância de se tornar um doador
Fevereiro é o mês de combate a leucemia e de incentivo a doação de medula óssea
O mês de fevereiro é nacionalmente dedicado a campanha de combate a leucemia e ao incentivo da doação de medula óssea. O transplante de medula óssea também é a única esperança de cura para várias doenças, como linfomas e anemias graves. Atualmente, o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) possui 5.457 milhões de doadores cadastrados. Destes, apenas 120 mil são do Pará, onde 328 pacientes aguardam pelo transplante de medula.
A medula óssea é considerada a ‘fábrica’ de células sanguíneas do corpo humano. Popularmente chamada de tutano, ocupa a cavidade dos ossos longos. É na medula que são formados os glóbulos vermelhos (hemácias), os glóbulos brancos (leucócitos) e as plaquetas. Quando uma dessas células do sangue sofre uma mutação, ocorrem várias mudanças no ambiente medular que, em última instância, resultarão no câncer da medula óssea, que é a leucemia.
Em caso de doenças como a leucemia, existem duas principais alternativas de transplante de medula, o autólogo e o alogênico.
O autólogo é aquele em que o próprio indivíduo é doador das células-tronco (ou seja, da medula óssea) que são coletadas antes que o paciente seja submetido a sessões de quimioterapia, com a finalidade de destruir a medula doente e eliminar o câncer. Após essa fase, é feita a infusão das células-tronco que foram retiradas do paciente.
No tipo alogênico as células-tronco são de um doador. Nesse caso, é sempre investigada a compatibilidade entre membros da família, e é nesse momento que se inicia a análise da presença de doadores compatíveis e, se presentes, do melhor doador para o caso.
O médico hematologista Marcos Laercio, do Centro de Tratamento Oncológico (CTO), explica que para achar alguém 100% compatível ainda é muito difícil, sendo as chances de encontrar um doador compatível 1 em cada 100 mil. Por conta dessas dificuldades que a medicina conseguiu desenvolver tecnologias capazes de adquirir outros doadores de medula óssea.
“Inicialmente, tivemos o sangue de cordão umbilical e, mais recentemente, os ditos doadores haplo-idênticos, ou seja, doadores que têm somente metade das características da medula óssea compatível com o paciente. Isso ampliou as possibilidades de doadores entre pais, mães, parentes consanguíneos ou mesmo irmãos que não se mostraram 100% compatíveis. Dessa forma, um número muito maior de pacientes podem se submeter ao transplante de medula óssea. Entretanto, estimular que as pessoas se tornem doadoras de medula óssea continua sendo extremamente importante”, esclarece Marcos Laercio.
Para que se realize o transplante de medula alogênico, classicamente é necessário haver uma total compatibilidade entre doador e receptor, o que se chama doador 100% compatível. Este doador pode ser tanto aparentado (ou seja, irmãos de mesmo pai e mesma mãe), como também vindo do registro de doadores de medula óssea (REDOME - Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). A análise de compatibilidade é realizada por meio de testes laboratoriais específicos, viabilizados após coleta de amostra de sangue.
Paciente transplantada
Lucília Pereira, de 64 anos, descobriu que estava com leucemia em 2020, durante a pandemia, quando foi contaminada pela covid-19 e precisou passar 10 dias internada. Ela relembra que já saiu da ala de paciente com covid-19 com diagnóstico em mãos. “A pandemia salvou minha vida, porque eu não sentia nada, nunca poderia imaginar que estava com uma doença grave”, lembra.
O diagnóstico em junho de 2020 foi seguido de um tratamento difícil com quimioterapia, mas os efeitos colaterais foram muito fortes e Lucília chegou a ser intubada. “Em julho, um mês depois, eu praticamente ressuscitei, com 20 quilos a menos, e pude retomar a quimioterapia até a leucemia entrar em remissão”, conta.
Nessa fase do tratamento, os médicos recomendaram a Lucília começar a procura por um doador de medula óssea. Com uma família grande, de dez irmãos, ela conseguiu identificar dois compatíveis. O transplante foi feito em abril de 2021 e a medula ‘pegou’ em 10 de maio. “Já estou me preparando para comemorar um ano de cura. Hoje a minha medula é 100% formada pelas células que recebi do meu irmão. Estou bem”, comemora.
Como ser um doador
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), cerca de 10 mil novos casos de leucemia devem ser registrados ao ano. Para dar uma nova oportunidade de vida e saúde a esses pacientes, é fundamental a doação de medula óssea.
No Pará, o Hemopa é responsável pelo registro de doadores. Para se tornar doador basta se dirigir a uma das unidades do hemocentro, de segunda a sexta-feira, munido do documento de identidade. Lá, será necessário coletar uma amostra de 5 ml de sangue e preencher o cadastro.
Os critérios definidos pelo Ministério da Saúde para que alguém seja doador de medula são simples. É necessário ter entre 18 e 35 anos, não ter histórico de câncer, HIV ou doença infectocontagiosa, e estar em bom estado de saúde.
A gerente de Captação de Doadores do Hemopa, Juciara Farias, ressalta que é fundamental manter o cadastro de doador atualizado. “Se a pessoa mudou de telefone, mudou de endereço, deve entrar em contato com o Hemopa para fazer a atualização cadastral”, destaca. Para entrar em contato com o hemocentro basta ligar no número 0800-280-8118
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Caso o doador seja compatível com algum paciente da lista de espera, ele será chamado para realizar exames e, se for o caso, convidado a realizar a doação.
Com as informações do paciente que precisa fazer transplante de medula e não tem doador aparentado, busca-se no REDOME um doador cadastrado que seja compatível com ele. Atualmente, o Brasil possui o 3º maior banco de doadores cadastrados do mundo, com quase 5,5 milhões de registros.
“Nem todo mundo tem a sorte de encontrar um doador na família. As chances ainda são de 25%, considerando-se os doadores aparentados 100% compatíveis. Precisamos aumentar o número de doadores cadastrados. É simples. Precisamos levar essa informação para o maior número possível de pessoas. Além disso, a atualização dos dados de contato dos doadores é muito importante, pois já ocorreram casos de se conseguir uma medula compatível com um paciente e não se conseguir mais contato com o doador”, reforça o hematologista Marcos Laercio.
Enquanto para o doador quase não há efeitos colaterais na doação de medula óssea, o receptor deve se submeter a um tratamento que destrói as células sanguíneas doentes de sua medula óssea, e recebe as células sadias como se fosse uma transfusão de sangue.
Durante o período em que estas células ainda não são capazes de produzir glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas em quantidade suficiente para manter as taxas dentro da normalidade, o paciente fica mais exposto a episódios infecciosos e deve ser mantido preferencialmente em ambiente hospitalar ou próximo do hospital de referência. Cuidados com a dieta, limpeza e esforços físicos são necessários. Esse período dura, em média, 14 dias, tempo para a medula recebida começar a funcionar – quando se diz popularmente que “a medula pegou”.
“Com a ampliação das possibilidades de se conseguir um doador, poderemos alcançar a cura de muitos outros pacientes hematológicos. Pessoas que antes considerávamos que tinham doenças incuráveis”, finaliza o hematologista Marcos Laercio.
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