Malhação de Judas reúne críticas e cultura no bairro da Cremação neste sábado (19)
Festa tradicional celebra 85 anos em 2025 com bonecos que representam temas polêmicos
Comemorando 85 anos em 2025, a tradicional Malhação de Judas promete animar o Sábado de Aleluia (19) na rua Fernando Guilhon, no bairro da Cremação, em Belém. A celebração contará com mais de dez bonecos criados pelos próprios moradores, que simbolizam temas rejeitados pela comunidade, como preconceito, racismo, homofobia e doenças como a dengue. Como de costume, os personagens serão “malhados” pelo público. As apostas sobre quais figuras ou celebridades polêmicas do mundo virtual vão aparecer circulam nos bastidores, mas os organizadores preferem manter o mistério até o momento da festa.
A programação da Malhação do Judas 2025 abrirá nesta sexta (18), por volta das 19h, no tradicional “velório” do personagem e, no sábado (19), a brincadeira se inicia por volta das 9h com atividades de quebra-pote, corrida de saco entre outros, e vai até o meio-dia, com a malhação, hora em que os bonecos são espancados pelo público, em sua maioria crianças e jovens. A coordenação avisa que haverá pequenas quantias em dinheiro nas vestimentas dos bonecos, que este ano, estão com modelos diversos – passando pelo social terno e gravata e esportivos.
A Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Semcult), em parceria com outros órgãos da administração municipal e estadual, está garantindo apoio de segurança, trânsito, comércio ambulante e shows artísticos. A rua Fernando Guilhon, no perímetro da avenida Alcindo Cacela e até a Travessa 14 de Março, deverá ser fechada ao trânsito para garantir segurança ao público.
A programação da Malhação de Judas em outros bairros, como Condor e Guamá, também receberão apoio para realização dos eventos. A expectativa é reunir grande público para festa, considerando o feriadão de Sexta-feira da Paixão, sábado de Aleluia, Domingo de Páscoa e segunda-feira (21), dia de homenagear Tiradentes.
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Tradição
A festa da Malhação do Judas no bairro da Cremação iniciou na década de 1940 pelo morador Raimundo Flaviano da Silva, autor do primeiro boneco de pano simbolizando o apóstolo Judas Iscariotes que, segundo a tradição de origem católica, foi o traidor de Jesus. Com o passar do tempo a brincadeira ganhou força já com Francisco Raimundo Neto, mais conhecido como “Quincas”, filho do idealizador da festa.
De acordo com Ana Paula Holles, liderança comunitária da área, a festa da Malhação do Judas encontra raízes na cultura popular de Belém. “Por isso, precisamos mantê-la viva e estamos muito felizes por receber apoio da Prefeitura de Belém para realização do evento, que é único em nossa cidade”, contou ela, que conseguiu resumir a história da manifestação popular e publicar um projeto chamado Manifestações Culturais Populares: “A Malhação de Judas no Bairro da Cremação”, no qual ela defende a salvaguarda e a importância da manifestação cultura de rua. “Isso aqui é meu orgulho e gratidão ao seu Quincas que começou essa festa popular”, completou.
Malhação de Judas foi trazida ao Brasil pelos portugueses
Segundo o historiador Brasilino Assaid Sfair da Costa, graduado pela Universidade Federal do Pará, as celebrações da chamada Semana Santa, que inicia com o Domingo de Ramos e vai até o Domingo de Páscoa, tem raízes pagãs e judaicas, como várias outras festividades cristãs, notadamente católicas. Dentre essas festividades, ainda segundo professor, encontra-se a Malhação de Judas que, mesmo popular, e presente em países da América do Sul e da Europa, não faz parte da liturgia católica.
"A prática foi trazida pelos portugueses, ainda no período colonial, para o Brasil. Há vários registros da prática, em obras literárias ou em pinturas, por exemplo, como a do conhecido pintor francês Jean-Baptiste Debret, que a registrou em suas telas, na primeira metade do século XIX”, explica. A Malhação de Judas também já foi vista como ato de baderna e, por isso, sofreu repressão e migrou às periferias das cidades, quase desaparecendo totalmente. Em Belém, o bairro da Cremação segue resistindo, realizando evento no Sábado de Aleluia, com mais de 70 anos de existência, segundo explicou o historiador Brasilino Assaid Sfair da Costa.
Programação
Malhação de Judas:
Rua Fernando Guilhon, entre Quintino Bocaiúva e Alcindo Cacela
- Velório - 18/04, de 18h às 2h
- Malhação - 19/04, de 7h às 12h
Rua dos Tambés, entre Padre Eutiquio e Apinagés
- Velório - 18/04, de 18h à 1h
- Malhação - 19h/04, de 9h às 22h
Travessa Honório José dos Santos, entre Fernando Guilhon e São Miguel - 20/04, de 12h às 21h
Paixão de Cristo:
- Avenida Cipriano Santos, entre Guerra Passos e Francisco Monteiro - 16 e 18/04, a partir das 18h30
- Avenida Castelo Branco, esquina com a Conselheiro Furtado - 18/04, a partir das 19h