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Mães falam sobre os desafios enfrentados por filhos identificados com altas habilidades

Psicóloga e educadora explica que antes de mais nada se faz importante salientar que cada criança é única

Bruna Lima

Quando se fala em altas habilidades e superdotação é comum pensar, basicamente, nos benefícios, uma vez que são pessoas colocadas como geniais. Mas é importante pensar que acompanhado desse benefício existem algumas questões que são bem difíceis para esses seres, pois até hoje muitas pessoas acabam não passando pelo teste de identificação e vão atropelando sintomas e sentimentos que causam angústias e alguns transtornos.

Thaís Torres, psicóloga e educadora explica que antes de mais nada se faz importante salientar que cada criança é única, e as com altas habilidades também se apresentam de maneira singular, logo as dificuldades apresentadas por elas podem variar.
Dificuldades de socialização com crianças da mesma idade, hipersensibilidade emocional onde tudo torna-se potencializado, perfeccionismo nas coisas que realiza, e um nível de cobrança muito alto consigo mesma, desinteresse nos ambientes de educação que não são desafiadoras para eles.

Em Belém, alguns familiares resolveram organizar um grupo como forma de compartilhar conhecimento e também de acolher outras mães para lidar com as crianças. com altas habilidades. Cleonice Dourado, 44, é mãe da Maria Luiza, 8, identificada com altas habilidades, explica que a iniciativa do grupo surgiu a partir da Superdotação no Mapa, um movimento nacional que também foi organizado a partir de famílias que buscam fazer o levantamento dos casos. A ideia é que o grupo esteja mobilizado para garantir políticas públicas e direitos, pois muita gente acha que as altas habilidades só trazem benefícios.

Cleonice fala da dificuldade de encontrar profissionais especializados no assunto.”Agora que percebo um interesse maior dos profissionais em se aperfeiçoar em altas habilidades, pois temos dificuldade em encontrar terapeutas, neuropsicólogos que realizam as avaliações das altas habilidades”, explica a mãe, que acrescenta que teve dificuldade de identificar as altas habilidades na filha, que está no 3º ano.

A psicóloga explica que nem sempre os sinais são tão óbvios, o que dificulta em alguns momentos o despertar dos pais, da escola, e um possível diagnóstico dos profissionais.
“Se faz necessário um maior preparo dos espaços de educação/escola, para compreenderem as potencialidades de cada criança de maneira única, bem como suas dificuldades. Ao compreendermos que cada indivíduo é único, e que cada um vem dotado de potencialidade e dificuldade, conseguimos preparar um ambiente de educação de acordo com a capacidade e área de interesse ao ponto de ser um convite às pesquisas de aprendizagem da criança”, explica Thais Torres.

Um diagnóstico não é uma definição e limitação da criança, o diagnóstico deve ser mais um item que norteia o educador para preparar seus espaços de educação dentro da escola de maneira mais atrativa para despertar o interesse da criança em estar no ambiente, em aprender, e a desafiar-se a fazer suas pesquisas.

Um tripé fundamental para o desenvolvimento pleno e saudável, acontecendo de maneira respeitosa com as crianças com altas habilidades, é o diálogo e metas de intervenção traçadas entre pais, escola e terapeutas, dando apoio e acolhimento afetivo, emocional, social e cognitivo.

Vanusa Gomes Pessoa. 39, tem dois filhos com altas habilidades, o Héfran Gabriel Gomes Pessoa e Avan Gabriel Gomes Pessoa. Desde os dois anos de idade, Héfran já apresentava um desenvolvimento acima da média em relação aos desenhos, sempre com muitos detalhes, complexidade, expressão e elaboração, sem ter tido contato anteriormente com a técnica. Na escola, sempre foi visto como o aluno que desenha bem, no entanto, Héfran não tem altas habilidades apenas por desenhar e sim porque apresenta desde o nascimento, características como: envolvimento intenso com a tarefa, automotivação, criatividade acima da média e originalidade nos traços de seus desenhos.; associada a uma maior sensibilidade, senso de justiça apurado e intensidade emocional que ocasionou muitas vezes em mudanças repetidas de escola por falta de compreensão.

O laudo de altas habilidades/superdotação só veio em 2022 já que Héfran também apresenta TDL (Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem) e teve suas altas habilidades invisibilizada pelo TDL que também tem seus desafios diários. Hoje com 12 anos, Héfran mostra sacadas e percepções incomuns na construção de seus desenhos e na forma como enxerga e interage com o ambiente à sua volta.

Avan Gabriel foi aceito na Mensa Brasil, Intertel e Infinity International Society, que reúnem respectivamente, 2%, 1% e 0,35% de pessoas mais inteligentes do mundo.Avan foi diagnosticado AHSD ( Altas Habilidades/Superdotação) com 6 anos de idade, mas desde muito novo, apresentava comportamentos que não eram comuns a sua idade cronológica. Com dois anos já sabia escrever seu nome, lendo sem dificuldades palavras com sílabas simples.

Gisele Pantoja é mãe de Giovana Leite, 11, e Giovani Leite, 6, os dois foram identificados como altas habilidades e o primeiro a ser identificado foi Giovani. “Quando ele começou na escola ele já foi adiantado de série. Com isso, começamos a pesquisar e identificamos que ele é de altas habilidades. Por meio dele, verificamos que a Giovana também tem altas habilidades.

Os principais sinais de uma criança com alta habilidade

Dos principais sinais, o mais frequente é a memória acima da média, apresenta facilidade e rapidez no processo de aprendizagem, necessitando sempre de novos desafios além dos esperados para sua faixa etária, também apresenta um vocabulário extenso e rebuscado.
No que é de seu interesse apresenta um tempo enorme de concentração, sempre muito criativa e original (fora da caixinha), apresenta-se extremamente curiosa e questionadora.

O que os pais devem fazer ao perceberem os sinais?

“Se faz necessário uma aldeia inteira para educar uma criança” já diz o provérbio africano, sendo assim família e escola tem que estar sempre alinhadas no que tange o processo de desenvolvimento da criança. A troca de informações entre ambos é fundamental, compreender se os sinais que estão sendo apresentados pela criança em casa são os mesmo observados na escola, procurar uma avaliação de profissionais (psicólogo, neuropsicólogo) capacitados para diagnosticar e preparar material junto a escola e a família para adaptações curriculares, bem como fornecer apoio emocional para o desenvolvimento da criança.

Belém