Krav Maga: mulheres buscam a prática para autodefesa em Belém
Em março, academias de Krav Maga oferecem treinamentos gratuitos de defesa pessoal para mulheres; confira
No mês de celebração à mulher, a violência contra esse grupo segue alarmante no Brasil, com mais de 1,2 milhão de vítimas em 2024, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O país também registrou um estupro a cada seis minutos e um aumento de 0,8% no registro de feminicídios. Diante desse cenário, muitas mulheres buscam no Krav Maga uma forma de autodefesa. O sistema de defesa pessoal combina técnicas de artes marciais como boxe, jiu-jitsu, judô e muay thai, focando em respostas rápidas e eficazes para situações reais de perigo. Em Belém, cada vez mais mulheres são adeptas à prática.
Criado na década de 1940 por Imi Lichtenfeld para o exército israelense, o Krav Maga foi desenvolvido para que qualquer pessoa, independentemente de sexo, idade ou condicionamento físico, pudesse se defender. O instrutor Marco Viana explica de que forma a prática possibilita que uma mulher tenha chance de sobreviver em uma situação de agressão.
“O objetivo é acertar pontos sensíveis do corpo do agressor, não medir forças contra ele. Logo, a gente vai tentar sempre achar uma vantagem a ser explorada. Por exemplo, um dedo no olho, um soco no nariz, um golpe na garganta ou um chute na região genital. Isso faz com que as forças se equalizem”, detalha.
Diferente dos esportes de combate, o Krav Maga não possui regras ou competições, priorizando a neutralização da ameaça. Utilizado por forças militares, policiais e civis que buscam autodefesa, os treinos incluem golpes diretos, defesa contra armas, técnicas de escape e controle emocional sob estresse. As aulas simulam situações reais, como roubos, puxões de cabelo, enforcamentos e tentativas de estupro.
O instrutor conta que a maioria das alunas procuram a arte de defesa pessoal após vivenciar alguma situação de assédio ou agressão, seja verbal, física, urbana ou doméstica. “É bem difícil que a gente encontre mulheres que não passaram, infelizmente, por uma situação de agressão”, pontua. Recentemente, uma aluna relatou ter enfrentado assédio no trabalho, enquanto outra contou que sofreu bullying na escola e precisou reagir para mostrar que não era indefesa.
Marco destaca que percebe uma evolução marcante nas alunas tanto física quanto emocionalmente. Ele observa que, além do aumento da resistência e da força, há também uma mudança na postura e na forma como se comportam, tanto no tatame quanto no dia a dia. Com o tempo, elas passam a andar com mais confiança e a ter uma percepção diferente do ambiente ao redor. Além do aprimoramento técnico, o Krav Maga contribui para um melhor condicionamento físico e cardiovascular.
Como incentivo para que mais mulheres recorram à prática, ele aconselha: “Tome uma atitude e não deixe que outras pessoas comandem o seu destino. Comande suas ações perante a sociedade. Você domina essa ação e é capaz de tornar possível qualquer uma das suas metas, inclusive a de andar segura pela rua”.
Krav Maga proporciona ambiente acolhedor e de autoconfiança para mulheres
Após ser assaltada mais de uma vez, a médica veterinária Suellen Monger, de 36 anos, decidiu buscar uma academia de Krav Maga em Belém. Desde que começou os treinos, nunca mais enfrentou uma situação de agressão e acredita que isso não seja por acaso. “Acredito que não é por coincidência. Com o ensinamento dos treinos, você começa a andar de uma forma diferente na rua, mais autoconfiante”, diz.
Suellen destaca que o ambiente da academia é acolhedor para as mulheres, com treinos que evoluem gradualmente, das técnicas mais simples às mais complexas. Além da presença de outras alunas, ela ressalta que as aulas ajudam a fortalecer a autoconfiança e a sensação de segurança. "Todo mundo que está ali está procurando melhorar em algum ponto, seja em relação à violência ou até mesmo ao aspecto psicológico. É uma atividade física que contribui muito para isso", acrescenta.
A estudante de psicologia Laila Macedo, de 18 anos, também comenta sobre o ambiente durante as aulas. “No começo me senti insegura, mas aí me acolheram muito bem. É como se fosse uma grande família, a gente tentando se ajudar e aprender junto. Hoje em dia já é bem mais fácil e me sinto bem mais disposta também”, reflete.
Já a analista de sistemas Letícia Macedo, de 24 anos, compartilha sobre o que a motivou a começar a treinar Krav Maga. “Proteção e defesa. Têm vários momentos da nossa vida em que a gente já se encontrou e, possivelmente vai se encontrar, em situações que exigem algum tipo de defesa ou reação, mesmo que seja mínima. É de extrema importância”, conclui.
Programação gratuita de Krav Maga para mulheres em março
Em março, todas as academias da Federação Sul-Americana de Krav Maga oferecerão treinamentos gratuitos de defesa pessoal para mulheres. Além disso, instrutores da federação realizarão treinamentos exclusivos para empresas, associações e clubes.
No fim de semana de 15 e 16 de março, acontecerá um aulão comemorativo pelo Dia das Mulheres, realizado simultaneamente em diversas cidades do país, permitindo que as participantes experimentem na prática as técnicas de autodefesa.
No Pará, mulheres a partir de 14 anos que estejam interessadas em participar da iniciativa podem acessar o site, encontrar a academia mais próxima e se inscrever.