Inteligência Artificial e Educação Positiva transformam o ensino em Belém
Oportunidades da IA e a abordagem empática da Educação Positiva destacam caminhos inovadores para o desenvolvimento socioemocional e cognitivo nas escolas da capital paraense
O Dia Internacional da Educação, celebrado neste 24 de janeiro, foi dedicado pela UNESCO, em 2025, às oportunidades e desafios da Inteligência Artificial (IA) no ensino. Em Belém, uma pesquisa de pós-graduação leva a IA até as salas de aula da rede municipal para auxiliar na materialização intelectual de jovens e adultos. Além dessa realidade, o conceito de Educação Positiva, que promove empatia e respeito mútuo, é parte da estrutura curricular da rede estadual, criando um ambiente onde o desenvolvimento socioemocional e o bem-estar dos alunos são prioridades.
Para Yuri Soares, professor da rede municipal e pesquisador, a IA representa uma revolução no ensino. Em sua pesquisa de mestrado na Universidade Federal do Pará (UFPA), ele estuda como a tecnologia pode ampliar as capacidades de produção textual e visual dos alunos, além de facilitar o trabalho dos professores. “Estamos realizando uma pesquisa sobre a relação da IA com o currículo escolar, especialmente na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Nosso foco é usar tecnologias, como a geração de imagens, para ampliar a linguagem”, explica.
Na Escola Municipal Walter Leite Caminha, no bairro do Mangueirão, alunos da EJA participaram de uma atividade que uniu narrativas amazônicas à criação de imagens com IA. As histórias foram transcritas pelos professores e usadas como prompts para gerar ilustrações, ajustadas com base no feedback dos estudantes. “Essas imagens refletem a identidade dos alunos e expandem as possibilidades de aprendizado”, afirma Yuri. O material final foi compartilhado no blog imaginemuseu.blogspot.com, estimulando o senso de pertencimento e a criatividade.
Para o pesquisador, a adoção de IA no ensino também implica desafios. Yuri alerta para a necessidade de formação continuada dos professores para o uso adequado da tecnologia.
“Sem capacitação, o potencial da IA não será plenamente explorado, e corremos o risco de aumentar as desigualdades”. Ele também enfatiza que a tecnologia deve ser utilizada como um suporte ao trabalho docente, e não como uma substituição.
Outro ponto destacado por Yuri é a importância de conscientizar a comunidade escolar sobre o uso ético da IA. “As ferramentas tecnológicas devem ser integradas ao ensino de forma a preservar a autonomia criativa dos alunos, garantindo que o aprendizado seja significativo e humanizado”. Para ele, o sucesso dessa integração depende de planejamento e investimento.
Educação positiva
Enquanto a IA transforma o ensino, a Educação Positiva complementa essa evolução com uma abordagem centrada no bem-estar emocional. Segundo Maya Eigenmann, neuropedagoga e autora best-seller, a Educação Positiva se baseia em cinco pilares: criar um ambiente seguro e previsível para as crianças; compreender o impacto de fatores biológicos e químicos no desenvolvimento cerebral; validar sentimentos e ensinar crianças a lidar com emoções de forma saudável; respeitar a autenticidade e as necessidades biológicas de cada criança; e promover a consciência sobre desigualdades e incentivar uma sociedade mais igualitária.
Maya explica que pequenos momentos de frustração podem ser oportunidades de aprendizado emocional. “Quando uma criança se frustra ao ver uma torre de blocos desmoronar, o adulto pode validar o sentimento dela, mostrando empatia. Isso a ajuda a processar as emoções e seguir em frente”, detalha. Ela também ressalta a importância de adultos estudarem e buscarem terapia para lidar com seus próprios desafios emocionais.
Outro aspecto abordado por Maya é a integração de uma visão mais ampla na Educação Positiva. “Tratar as desigualdades sociais de forma pedagógica e promover um ambiente inclusivo são passos essenciais para formar indivíduos mais empáticos e preparados para lidar com as diversidades do mundo”, afirma.
Acolhimento nas escolas
A gestora Regeane Esteves, gestora da Escola Municipal Walter Leite Caminha, descreve como a Educação Positiva foi incorporada à rotina escolar. “Promovemos acolhimento e superamos vulnerabilidades. Incluímos estudantes com deficiências e oferecemos atividades como libras para todos os alunos, criando um ambiente inclusivo e colaborativo”.
Para Regeane, a inclusão vai além da integração de alunos atípicos. “Acolhemos também crianças e jovens em situações de vulnerabilidade social, oferecendo suporte emocional e educacional. Isso cria um espaço de pertencimento para todos”, afirma. Projetos como o ensino bilíngue de Libras têm sido fundamentais na construção de uma escola mais acessível.
“Todos os estudantes aprendem Libras, o que fortalece a inclusão e amplia as possibilidades de comunicação entre eles. Isso mostra que a Educação Positiva pode transformar relações e contribuir para uma sociedade mais igualitária”, ressalta.
“Projeto de Vida”
Gabriela Bonfim, coordenadora do Programa de Ensino Integral da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), reforça que a escola deve promover o desenvolvimento integral, incluindo dimensões cognitiva, social e emocional. “Estudos mostram que estudantes com um vínculo forte com a comunidade escolar apresentam melhor desempenho acadêmico e menor incidência de ansiedade e abandono escolar”, aponta.
A SEDUC oferece materiais e formações para educadores, além do componente curricular “Projeto de Vida”, que estimula autoconhecimento, empatia e autonomia. Gabriela explica que o objetivo é ajudar os alunos a traçarem metas claras e transformarem sonhos em realidade. “Queremos que os alunos não apenas planejem suas próprias trajetórias, mas que também contribuam para a construção de comunidades mais solidárias e conscientes”, enfatiza.
5 pilares da educação positiva
- Teoria do apego: criar um ambiente seguro e previsível para as crianças.
- Ciência do desenvolvimento humano: Compreender o impacto de fatores biológicos e químicos, como o hormônio do estresse (cortisol), no desenvolvimento cerebral.
- Inteligência emocional: validar sentimentos e ensinar crianças a lidar com emoções de forma saudável.
- Desenho original do ser humano: Respeitar a autenticidade e as necessidades biológicas de cada criança.
- Estudos sociais: promover a consciência sobre desigualdades e incentivar uma sociedade mais igualitária.
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