Gravidez na adolescência exige mudanças na rotina
Psicóloga afirma que meninas que engravidam nessa fase da vida precisam receber mais atenção para super desafios
Psicóloga afirma que meninas que engravidam nessa fase da vida precisam receber mais atenção para super desafios
No Brasil, um em cada cinco bebês nasce de uma mãe com idade entre 10 e 19 anos. Estima-se que mais de 400 mil adolescentes se tornam mães por ano no País, segundo o Ministério da Saúde. Isso significa que cerca de 18% dos brasileiros nascidos são filhos de mães adolescentes.
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, por meio da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, lançou agora o “Guia de Autocuidado: Recomendações para a Prevenção do Risco Sexual Precoce e da Gravidez na Adolescência”. É uma ferramenta para auxiliar crianças e adolescentes de todo o país no entendimento sobre riscos de uma gestação nesta fase da vida.
O material, que está disponível no hotsite do Plano Nacional de Prevenção Primária do Risco Sexual Precoce e Gravidez de Adolescentes, tem linguagem fácil para abordar a importância do autocuidado.
O texto informa que é preciso que esse autocuidado seja reforçado com informações sobre o risco sexual precoce e suas consequências, de modo que vivam as relações afetivas e a sexualidade com responsabilidade no tempo certo, desenvolvendo aprendizagens e experiências que lhes permitem tomar decisões saudáveis e por si mesmos.
Entre as dicas apontadas, recomenda-se o autocuidado em diferentes áreas da vida: psicológico, emocional, físico, espiritual, social. Em relação ao contexto psicológico, o material convida a praticar atividades que ajudam a gerenciar o estresse da rotina, como escrever um diário, ler, ficar atento aos pensamentos, atitudes e sentimentos, estabelecer limites e dizer “não” quando for preciso e reconhecer as qualidades.
“Eu achava que o mundo estava desabando naquele momento”. A frase, dita por Ana Paula Corrêa, resume o que ela sentiu ao engravidar aos 14 anos. “Foi um baque muito forte pra mim e pra minha família”, contou ela, que hoje tem 22 anos.
Morando em Ananindeua, e trabalhando em casa de família, onde cuida de uma criança, Ana Paula conta que, por ser adolescente, foi difícil para fazer o pré-natal. “O SUS não queria me aceitar, porque eu tinha 14 anos e ninguém queria fazer o meu pré-natal. A moça que me atendeu me esculhambava que só porque eu tinha engravidado cedo”, disse.
A “ficha caiu” quando começou a ver a barriga grande. “E comecei a dizer assim: ‘eu sou nova, mas tenho que ter a minha responsabilidade de mãe’. No começo, não queria acreditar que estava grávida. Mas o tempo foi passando e decidi que daria todo o amor do mundo para a minha filha. Ela vai precisar, ela merece”, acrescentou a jovem.
Durante o parto, tudo correu bem. Mas, depois do procedimento, ela teve complicações. “Eu fiquei em coma. O meu medo era, naquele momento, deixar a minha filha. Mas, graças a Deus, deu tudo certo”, contou. Por ser mãe nova, ouviu muitas críticas. Mas que, hoje em dia, é grata por ser mãe.
“Sou muito grata a Deus por ter colocado a minha filha em minha vida. Eu passaria tudo de novo pela minha filha. Valeu a pena. Ver a minha filha grande, sendo a minha parceira, pra todo canto que eu vou ela vai comigo”, contou. A filha, Paloma Letícia, tem seis anos.
Ana Paula aconselha as meninas a não engravidarem cedo. “É muito difícil não ter experiência ainda na vida É complicado ser mãe nova. Previnam-se, se cuidem, tenham na idade certa filho”, contou. Já as meninas que engravidaram na adolescência não devem se arrepender, segundo ela. “Tudo no começo é difícil. Mas, depois, vale a pena. Não é fácil engravidar cedo, mas daqui a pouco a pessoa vai olhar para sua filha e vai dizer: o quanto valeu a pena”, disse.
A psicóloga Danielle Almeida diz que a adolescência é um momento de transição da fase infantil da criança para o adulto para a fase adulta. Esse momento de transição vem com a descoberta de mundo, com a descoberta do próprio corpo, com os relacionamentos afetivos, com os interesses em relação ao sexo, seja o sexo oposto ou do mesmo sexo. A adolescência também traz grandes desafios.
E muitos adolescentes, na descoberta do corpo e da sexualidade, e no início de relações afetivas, têm relacionamentos sexuais, e, com a falta de conhecimento, engravidam. E, quando isso ocorre, essa adolescente precisa de uma maior atenção. “Muitos sonhos já são impedidos de serem realizados”, disse a psicóloga Danielle Almeida. Há, também, a dificuldade para manter a rotina na escola e os encontros com os amigos. “Muitas vezes, o adolescente que é o pai, que teve a relação sexual, não fica com a adolescente. Então são momentos bem difíceis, momentos traumáticos, onde essa adolescentes precisam de uma atenção e um cuidado maior”, disse.
E os pais, os responsáveis, e muitas vezes alguns professores, têm essa visão de acolhimento do adolescente. “E isso aí, sim, é muito importante”, contou. O autocuidado é a responsabilidade com o próprio corpo na fase da adolescência. Para que esse momento não seja de grande dificuldade para esse adolescente, cabe ao Ministério da Saúde e aos familiares esse cuidado maior. “Muitas vezes algumas escolas, professores, através de aulas, de campanhas, de semanas que passam a instruir esses jovens com relação ao autocuidado com o corpo, demonstrando vários meios e formas de prevenção do ato sexual”, disse.
A todos os adolescentes cabe esse autocuidado com relação ao seu corpo, com respeito aos seus desejos e também com respeito e os desejos do próximo. “É um momento de instrução, desse autocuidado, onde ensinamos aos jovens, aos adolescentes, no momento da relação sexual que possam se prevenir e tenham esse cuidado para que não venham a ter uma gravidez indesejada”, afirmou.
Em Belém, o Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), no distrito de Icoaraci, segue o panorama nacional: em média, 36 mulheres com menos de 18 anos dão à luz na unidade por mês - isso representa 12% dos partos feitos na unidade em 30 dias. Em 2021, esse número totalizou 433 entre cesárias e a concepção natural. Atualmente, o HRAS é a segunda maior maternidade do Estado.
“E, no dia a dia, percebemos um número significativo de mulheres com menos de 18 anos sendo mãe. Dessa forma, a equipe de profissionais da unidade vem se empenhando em fazer o alerta para esses adolescentes e suas famílias, já que o assunto se tornou um debate de políticas públicas e de saúde pública em todo o mundo”, disse Marcos Silveira, diretor executivo do hospital.