Fumaça de incêndio expõe moradores da Cidade Velha a riscos de saúde
Gases tóxicos podem agravar enfermidades e levar a óbito, diz epidemiologista
Uma semana após o incêndio que destruiu um depósito de produtos importados na rua Avertano Rocha com a avenida 16 de novembro, no bairro da Cidade Velha, os moradores e trabalhadores do perímetro ainda são obrigados a conviver com os riscos à saúde trazidos pela fumaça dos escombros, que continua adentrando casas e estabelecimentos comerciais no local.
Morador do bairro há 42 anos, o técnico de manutenção Nader Monteiro destaca que a comunidade da Cidade Velha está muito preocupada e incomodada com a fumaça que vem dos escombros. De acordo com ele, a maioria das famílias do bairro é formada por pessoas idosas, que são ainda mais suscetíveis a problemas de saúde ocasionados pela poluição. “É horrível passar o dia sentindo o cheiro da fumaça dentro de casa. Moro com idosos e crianças, é um absurdo termos que passar por isso”, reclama.
Já o aposentado Nazareno Silva, de 83 anos, precisou viajar para São Paulo, para a casa de uma filha, para não correr o risco de adoecer. “Ele já tem enfermidades, não poderíamos deixar que ele ficasse exposto assim”, conta o filho de Nazareno, o servidor público Benjamin Silva. “E esse é apenas um caso de tantos que estão ocorrendo aqui. A população da Cidade Velha está muito vulnerável e precisando de atenção para que esse problema seja resolvido logo”, completa.
De acordo com a professora e médica pneumologista Marília Pinheiro, a fumaça pode causar dois tipos de efeitos, os agudos e os crônicos. Os de primeiro tipo são mais imediatos, como ardência nos olhos, irritação na garganta, tosse com catarro e coceira na narina, que são ocasionados pela liberação de gases tóxicos como monóxido de carbono e ozônio, de acordo com a pesquisadora.
Os efeitos crônicos consistem na deflagração de crises de asma, bronquites crônicas, por exemplo, que podem levar a óbito por insuficiência respiratória, pois a poluição estimula inflamações. “As células macrófago, fundamentais para a defesa do nosso organismo, são atingidas pelos gases de fumaça, o que torna as pessoas mais vulneráveis, principalmente os idosos e as crianças”, explica.
A empresa Rofama Ferragens, que fica ao lado do local do incêndio e teve janelas e paredes danificadas pelo fogo, também foi prejudicada pela fumaça, pois foi impedida de abrir durante quase toda a última semana. “Tentei abrir no início, mas depois vi que não havia condições. O cheiro era muito forte e a fumaça também. Só agora, depois de uma semana, é que estamos conseguindo trabalhar”, afirma Richard Massoud, proprietário da loja.
A reportagem do Grupo Liberal constatou também na manhã deste sábado (29), na área, a presença de pessoas que estão revirando continuamente o terreno em busca de materiais que possam ser revendidos, com destaque para mochilas escolares. A ação dos transeuntes contribui para que a fumaça seja ainda mais espalhada, ao mesmo tempo em que expõe os próprios a outros riscos, como queimaduras e a possíveis novos desabamentos.
Em nota, o Corpo de Bombeiros afirma que realiza diariamente o serviço de resfriamento no local da, “onde ainda há focos de incêndio e formação de fumaça, em consequência da grande quantidade de materiais combustíveis”. Sobre os transeuntes, afirma que orienta que saiam do local, mas que a ordem “nem sempre é obedecida”.
Ainda segundo a nota, a Defesa Civil do Município esteve no local e constatou o risco de desabamento, orientando a derrubada do que restou do prédio, no entanto, “por se tratar de um prédio histórico, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, pretende preservar a fachada do prédio. Estamos aguardando uma decisão em comum entre os dois órgãos”.
O Iphan comunicou à reportagem que enviará nota sobre o assunto na próxima segunda-feira (29). A Prefeitura de Belém, por sua vez, informa que acompanha os trâmites sobre a demolição por meio da Secretaria de Urbanismo (Seurb) e da Fundação Cultural de Belém.