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Excesso de carros em Belém afeta qualidade de vida dos moradores, dizem especialistas

Em 2024, o número de veículos, na capital, já correspondia a quase 40% da população da cidade

Dilson Pimentel

No ano passado, o número de veículos, em Belém, já correspondia a quase 40% da população da cidade. Até julho de 2024, a frota de veículos era de 545.161 para uma população de 1,3 milhão de habitantes (também até julho de 2024), conforme dados do Detran e do IBGE, respectivamente. Ter tantos carros circulando pela capital impacta diretamente na qualidade de vida das pessoas.

“Quanto maior a frota de veículos, mais temos os maiores impactos tanto no meio ambiente quanto na qualidade de vida das pessoas. A qualidade de vida acaba sendo reduzida com as maiores emissões de gases poluentes e, também, com o aumento do barulho e dos ruídos, que causam possíveis perturbações em determinadas pessoas”, disse Benedito Luiz de França, especialista em Engenharia dos Transportes e Engenharia de Tráfego. “Logicamente que, se todos esses veículos existentes na frota de Belém fossem elétricos ou híbridos, consequentemente nós teríamos uma diminuição na poluição ambiental e um menor impacto no meio ambiente”, disse ele, que também é especialista em trânsito urbano.

Mas a maioria desses veículos ainda é movida a gasolina, resultando em uma maior emissão de gases poluentes. Há, também, a poluição sonora. Muitos motoristas deixam de fazer as manutenções preventivas em seus veículos. “E, quando essa manutenção preventiva não é realizada a contento, o funcionamento do veículo fica prejudicado e aumenta não somente a poluição, as emissões de gases poluentes, como aumenta também o barulho. Aumentam os ruídos, afeta a vida das pessoas, diminuindo sua qualidade de vida”, explicou.

Para Benedito França, porém, o aumento da frota de veículos não tem relação direta com o desrespeito no trânsito. Ele disse que o desrespeito ao trânsito advém do mau comportamento de alguns motoristas. E esse mau comportamento, disse, pode ser oriundo de uma má formação desse motorista. Logicamente,afirmou, que vários fatores vão afetar esse motorista para que ele desrespeite as normas de trânsito. "Mas tudo diretamente ligado à questão do comportamento da sua formação, até mesmo enquanto cidadão. Na minha opinião, o verdadeiro cidadão é aquele que respeita as normas e a legislação de trânsito, como também respeita todas as legislações e o bom convívio em qualquer lugar”, disse. "No trânsito, temos os nossos direitos - direito a um trânsito seguro, a uma via bem sinalizada, vias em boas condições -, mas também temos os nossos direitos. Temos que, sobretudo, respeitarmos a lei federal 9.503 (Código de Trânsito Brasileiro”), afirmou.

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Transporte público de ônibus deve ter preferência sobre transporte individual, diz especialista

Benedito França defende melhorias no sistema de transporte público por ônibus, que deve ter total preferência sobre o transporte individual. “Nós vamos fazer isso implantando projetos como nós temos o BRT. O BRT é um sistema de transporte onde temos ônibus com capacidade maior de conduzir mais passageiros. Temos vias exclusivas, canaletas exclusivas para que esse ônibus do BRT transitem com mais conforto, com menos paradas e menos retardos”, disse. “Como o BRT tem uma canaleta exclusiva, o ônibus do BRT não vai se envolver em congestionamento e engarrafamento. Então, se você tem um sistema de BRT eficiente, bem projetado, bem planejado, você estará estimulando o uso do transporte coletivo”, afirmou.

O especialista também disse que há necessidade de organização do trânsito, com a sinalização das vias e dos logradouros: “Sinalização de trânsito é fundamental”. Ele defende ainda a construção de elevados e viadutos. "A função do elevado e do viaduto é eliminar todos os movimentos conflitantes em determinado local, principalmente uma intersecção, cruzamento. E, eliminando os movimentos conflitantes, você elimina a ocorrência de sinistros e eliminando os sinistros de trânsito, você vai eliminar o número de vítimas fatais. E hoje nós já estamos vendo construções de elevados viadutos em Belém e na região metropolitana de Belém”, disse.

Também é importante a realização de campanhas educativas. “A educação para o trânsito é fundamental. A inserção da educação para o trânsito de forma transversal nas escolas de ensino fundamental, de ensino infantil e de ensino médio, nas escolas existentes em Belém, na região metropolitana de Belém, todo o estado do Pará, é fundamental. Até para que você forme o cidadão melhor para amanhã. E, para os motoristas atuais logicamente as campanhas educativas são realizadas constantemente todos os meses, todos os anos, também de forma continuada”, disse Benedito.

"Infelizmente, vivemos em uma sociedade acelerada”, diz professora da Uepa

A professora Diana Lemes coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas Pedagogia em Movimento (Geppem), do Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE) da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Ela disse que há três pilares importantes de educação para o trânsito, para garantir uma mobilidade fluida e adequada. Primeiro, é a educação. “Educar as pessoas, sejam elas pedestres, ciclistas, condutores de veículos”, disse. Depois, disse, a gestão pública tem que ofertar as vias adequadas. Bem sinalizadas, para garantir a mobilidade urbana e humana. E o terceiro pilar é a fiscalização. “Isso aí é o último lá na ponta. Depois que você educou, ofertou uma engenharia de tráfego adequada, a gente pode fiscalizar e cobrar”, afirmou.

Sobre o número elevado de carros, a professora explicou que isso prejudica o meio ambiente, porque emite mais gases para o meio ambiente. “Infelizmente, nós vivemos uma sociedade muito acelerada, muito preocupada com seus compromissos, mas a gente procura trabalhar a questão da empatia, da humanização”, contou. Ela cita, por exemplo, um problema crônico em Belém: estacionamento. “Se você sabe que o estacionamento tem poucas vagas, acorde um pouco mais cedo para garantir seu estacionamento, desacelere, cumpra as regras do trânsito, porque a gente cumprindo as regras, a gente salva vidas, e melhora a vida de todas as pessoas que convivem também ao nosso país”, afirmou.

Ela também defende a realização de campanhas educativas. "Os órgãos que trabalham com o trânsito, do sistema nacional, do sistema municipal e estadual, precisam trabalhar as campanhas educativas e as universidades têm que fazer o seu papel”, afirmou.

Em relação às demais capitais, o trânsito tem algumas particularidades, disse. “Temos características específicas. Uma delas é a chuva que afeta bastante o trânsito. Outra é a questão do lixo”, disse, obervando que a frota de veículos aumentou, mas a engenharia não acompanhou esse aumento da quantidade de carros. “Por exemplo, o número de vias que nós temos de ciclovias é pequena. Então o ciclista hoje tem muita dificuldade de andar na cidade. A mobilidade precisa ser trabalhada: o pedestre, o ciclista, o condutor de veículos. E, infelizmente, nós estamos muito abaixo do esperado de outras capitais, por exemplo, como Brasília, Curitiba”, afirmou a professora Diana.

Fisioterapeuta trocou carro pela bike: qualidade de vida

Morando em Belém, há quase cinco anos a fisioterapeuta Mara Rúbia, 53 anos, decidiu trocar o carro pela bicicleta. A decisão foi tomada pelos gastos mensais com o veículo e, também, com o estresse causado diariamente ao circular pelas ruas da cidade. “Eu passava muito tempo no trânsito. Gastava de 45 minutos a uma hora para sair de casa e chegar até o centro, para trazer minha filha para a escola. Resolvi mudar para mais perto do centro e praticamente abandonei o carro”, disse. “Tive uma redução muito grande de combustível, de mil reais passei a gastar 200, 300 reais”, contou.

Mara, então, passou a usar a bicicleta em seu dia a dia: para trabalhar, para o esporte, para o lazer. “Pra basicamente tudo”, disse. Ela lembrou do tempo que perdia no trânsito. “A gente sabe que tempo é dinheiro. Tem a saúde também porque, no trânsito, no carro, você se estressa. E a bicicleta te dá esse benefício de aliviar o seu estresse”, afirmou.

Mara contou ainda que tinha colesterol alto. “Depois que comecei a pedalar reduzi drasticamente meu colesterol. Eu tinha muita insônia. E passei a dormir melhor. Tive uma melhora na minha respiração. Também perdi peso. Melhorou a parte cardíaca, triglicerídeo. A Mara de hoje, aos 53 anos, é melhor que a Mara de 30 anos”, contou.

Ela disse que só recorre ao carro quando está chovendo e para ir ao médico. Nas demais atividades, bicicleta. “Bike para trabalhar, para ir ao banco, para ir no supermercado. Inclusive tenho mais de uma bike. Eu uso uma bike com cestinha urbana para me ir ao supermercado, para trazer as coisas na cestinha, e uma bike para fazer atividades de lazer, esporte. E minha filha também tem bike”, disse.

Para as pessoas que ainda usam muito carro, ela deixa a seguinte mensagem: “Se libertar, experimentar uma vida mais saudável. O uso rotineiro da bike na sua vida. Você vai verificar que vai mudar muito a sua saúde, vai ter um ganho de bem-estar, de melhoria de vida, um bem-estar mental também muito grande. Comigo, transformou a minha vida e eu desejo que transforme a vida de muitas pessoas”, afirmou.

O trânsito de Belém em números:

População: 1.303.403 habitantes (IBGE, 2022)
Frota: 545.161 veículos registrados até 07/2024
Índice de inadimplência da frota: 46,32%
Condutores com CNH vencida: 24,73%
Acidentes: Em 2023, foram registrados 9.560 acidentes, com 3.486 feridos e 98 mortes.

O número de mortos em 2022 foi de 145 pessoas.

Fonte: Detran

 

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