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Eventos climáticos foram piores em 2024 para 7 em cada 10 moradores da região Norte, aponta pesquisa

Quase um terço da população acredita que estamos diante de uma crise climática agravada pela ação humana. Jovens lideram essa percepção.

O Liberal

Os efeitos das mudanças climáticas, como o calor extremo, as secas, as enchentes e inundações, foram mais severos em 2024 para a maioria da população do Norte do Brasil. Uma pesquisa da Nexus - Pesquisa e Inteligência de Dados aponta que 72% dos entrevistados tiveram a sensação de piora no clima.

De acordo com a pesquisa "A visão do Norte sobre mudanças climáticas", para 22% dos ouvidos no levantamento a sensação foi "muito pior", especialmente entre moradores de regiões metropolitanas (34%), pessoas com renda familiar acima de cinco salários mínimos (35%) e aqueles com ensino superior (31%).

A pesquisa ouviu 1.195 pessoas em 57 municípios da região Norte, respeitando a distribuição populacional conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Foram entrevistas domiciliares, feitas face a face, para garantir que conseguíssemos alcançar pessoas de diferentes perfis socioeconômicos e localidades", explica André Jácome, diretor de pesquisa da Nexus.

O levantamento também buscou compreender como os moradores do Norte percebem os impactos das mudanças climáticas na rotina. O aumento da temperatura foi o fator mais citado (91%), seguido pela redução das chuvas (76%) e secas mais severas (78%).

Para quem vive em regiões metropolitanas, a principal mudança percebida foi a diminuição das chuvas (81%). Já no interior, 84% relataram sofrer com secas mais intensas.

Impactos preocupam os jovens

Na Vila da Barca, área periférica de Belém, uma das maiores comunidades em palafitas da América Latina, a sensação dos moradores é que as chuvas e o calor foram piores que nos últimos anos. É o que crianças do projeto Barca Literária têm dito à adolescente Syanny Cristina, de 14 anos, que atua como educadora voluntária. A iniciativa atende cerca de 80 crianças do bairro.

A principal atividade da Barca Literária é funcionar como um clube de leitura com crianças e jovens. Cada mês é escolhido um tema e, em fevereiro, o assunto foi racismo e crise climática. "Eles dizem que vem percebendo as mudanças, com mais chuva, mais calor. Uma hora está calor, outra está frio. Algumas adoeceram, falaram que no meio das férias a água do rio estava salgada. Tudo isso eles contaram nas aulas sobre clima".

A pesquisa da Nexus aponta que a preocupação é ainda mais evidente entre os mais jovens. Entre os entrevistados de 16 a 24 anos, 41% acreditam que a situação atual já se configura como uma crise climática. "Esse dado segue uma tendência global: as novas gerações demonstram maior atenção e preocupação com os impactos das mudanças climáticas", ressalta Jácome.

Expectativas para o futuro e adaptação das cidades

A pesquisa também questionou os entrevistados sobre o que esperam para os próximos cinco anos.
Para 65%, os eventos climáticos extremos serão mais intensos, sendo que 12% acreditam que serão "extremamente mais fortes" e 53% consideram que serão "muito mais fortes". Os dados reforçam a necessidade urgente de adaptação das cidades amazônicas para enfrentar os desafios climáticos.

Para Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), os fenômenos decorrentes da mudança sistêmica no planeta têm efeito prático na vida das pessoas, principalmente as consideradas mais vulneráveis.

"Na Amazônia, muitas pessoas dependem de um rio para se locomover, para ter água, proteína. Se o rio seca ou há inundações, tudo isso é perdido em muitas camadas. Então pensar na mitigação para reduzir as emissões de gás do efeito exige investimento alto, e maior ainda é o investimento para garantir o mínimo de condições de vida digna para quem mais sofre com os eventos climáticos extremos", afirma.

O estudo da Nexus foi realizado entre 12 e 17 de dezembro de 2024, com 1.195 entrevistados. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.

Belém