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Especialista aponta caminhos para vencer problemas de abastecimento de água em Belém

Moradores de vários conjuntos da Região Metropolitana foram obrigados a se adaptar à rotina de fornecimento precário

João Thiago Dias
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A Região Metropolitana de Belém é uma das áreas do Pará que enfrenta problemas recorrentes no abastecimento de água e saneamento básico. Quem avalia é o engenheiro sanitarista da Universidade Federal do Pará (UFPA), Neyson Martins, que aponta três prioridades para que os gargalos sejam resolvidos: identificação de perdas no sistema de abastecimento, sustentabilidade e aumento da capacidade de reservação. 

"No sistema de abastecimento de água há a necessidade de aumentar a cobertura para tentar universalizar e chegar a 100%. Na questão no tratamento de efluentes dos esgotos, precisamos partir para um sistema que funcione da seguinte forma: depois que a água for utilizada, deve ser tratada e voltar para os rios sem possibilidades de contaminação", sugeriu. 

O primeiro passo é identificar a questão das perdas. "De que forma a gente perde água, desde a captação até à distribuição. Se a gente conseguir identificar qual é a forma de perda, poderemos atuar mais efetivamente para diagnosticar o sistema e intervir de forma mais inteligente", pontuou o pesquisador.

Já a sustentabilidade deve ser primada diante de qualquer sistema de abastecimento. "É essencial. Uma vez que as obras venham, as pessoas devem ser conscientes do que estão consumindo. Tem que instalar micromedidores nessas unidades de consumo. Não adianta fazer uma obra muito cara e a pessoa esbanjar água sem necessidade. Lavar calçada com água potável, por exemplo, eu acho um crime", criticou.

O terceiro passo seria partir para os projetos complementares. "Quais os projetos que vou sequenciar em termos de reservação. Precisamos aumentar nossa capacidade de reservação na cidade para que possamos garantir a continuidade do sistema. Onde a população enfrenta problema na pressão da água, precisaríamos rever sobre onde colocar reservatórios em pontos estratégicos para garantir a pressão e o abastecimento contínuo", finalizou Neyson Martins.

MORADORES ESTÃO HÁ ANOS SEM ABASTECIMENTO CONTÍNUO 

Durante toda esta semana, 65% das residências da capital paraense foram atingidas por interrupções no abastecimento de água, em detrimento da limpeza de oito dos 16 filtros do Complexo Bolonha, principal estação de tratamento de Belém. No entanto, há conjuntos da Região Metropolitana em que a ausência de fornecimento contínuo se perdura por anos, obrigando os cidadãos a se adaptarem à uma rotina de transtornos. 

PROMORAR, CDP E PROVIDÊNCIA

No conjunto Promorar, no bairro Maracangalha, em Belém, os moradores até retiraram à força o relógio medidor de suas residências. Quem informa é o funcionário público José Antonio (51), que não aguenta mais subir a escada de sua casa carregando baldes.

image O funcionário público José Antonio, de 51 anos, que não aguenta mais subir a escada de sua casa carregando baldes, um problema que segundo ele também alcança os conjuntos Providência e CDP. (Ivan Duarte / O Liberal)

"Encho o balde na torneira de baixo todo dia. Arrancamos o relógio porque não servia para nada. Há mais de cinco anos que a água é amarelada com suspensão duas vezes por dia: das 12h às 17h e das 22h às 6h. Isso de domingo a domingo", disse. "E esse problema também alcança os conjuntos Providência e CDP".

GUAJARÁ I

No Conjunto Guajará I, no bairro do Coqueiro, em Ananindeua, a suspensão é sempre das 22h às 5h, segundo a dona de restaurante Vilma Oliveira (54). Por conta da limpeza dos filtros do Bolonha, o horário de desligamento passou a ser 13h.

image No Conjunto Guajará I, no bairro do Coqueiro, em Ananindeua, a suspensão é inarredável, sempre das 22 às 5 da manhã, segundo a dona de restaurante Vilma Oliveira (Ivan Duarte / O Liberal)

"Para quem trabalha com alimentação é um pesadelo ficar sem água. Vendemos refeição no almoço e no jantar, mas fica muita louça suja acumulada. Prejudica atrasando nosso serviço. É o jeito usar balde para encher e carregar. Gastamos até com descartáveis para evitar tanta sujeira", contou.

ICOARACI

Já na viela Santo Antônio, no bairro do Cruzeiro, em Icoaraci, não existe água na torneira há muitos anos. Para contornar as dificuldades, o carroceiro Raimundo Bandeira (67) teve que investir na construção de um poço artesiano.

image Seu Raimundo Bandeira, morador do Cruzeiro, investiu na construção de um poço artesiano para não ter mais que pagar por um serviço que não tem (Ivan Duarte / O Liberal)

"Há um ano eu fiz o poço e comecei a doar água para toda a viela. Não dá água na casa de ninguém. Eu deixei de pagar a conta da Cosanpa há dois meses. Me recuso! E tenho duas torneiras na pia. Uma do poço e outra da água que nunca chegou ou vem muito fina raramente".

COSANPA

Em nota, a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) informou que as áreas do Maracangalha e Cruzeiro são abastecidas por poços e esclareceu que um deles entrou em operação em janeiro, mas ainda não é suficiente pra atender a demanda. 

"O recadastramento dos moradores da área está sendo feito para que possamos quantificar a necessidade da população para planejar as ações de melhoria. O sistema que abastece o Cruzeiro, por exemplo, era da antiga Saaeb, do município, e passou para a responsabilidade da Cosanpa".

"Além do crescimento populacional, existem muitas ligações irregulares na área, o que compromete a qualidade do serviço. A atualização dos dados dos moradores será fundamental para o planejamento de melhorias".

Sobre o Guajará I, a Companhia informou que faz parte da zona de expansão do complexo Bolonha e foi afetada pelo problema que prejudicou o sistema nesta semana.

"Com a normalização do Bolonha até o fim da noite de sexta, o abastecimento deve regularizar no conjunto Guajará também", garantiu.

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