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Em crise, Unimed Belém tem 94,6% de reclamações sobre cobertura de planos em 2024

Segundo Agência Nacional de Saúde Suplementar, a média de reclamações sobre cobertura da Unimed aumentou nos últimos 6 anos e superou, a partir de março deste ano, o índice geral de reclamações do setor de assistência médica privada.

Jéssica Nascimento

Com a média de 233 reclamações, a Unimed Belém tem um dos maiores índices gerais de queixas do Brasil entre as unidades da mesma rede privada: 85,1. É o que indica a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), agência reguladora responsável pelo setor de planos de saúde do Brasil. Os dados são de setembro de 2024. A rede privada belenense só fica atrás das unidades do Rio de Janeiro, Vitória, Curitiba e Belo Horizonte na média de reclamações sobre a cobertura de assistência médica.

A partir de março, o índice geral de reclamações da Unimed Belém (65,3) superou os números gerais do setor de assistência médica privada do país (58,6). Em abril, a diferença aumentou - índice de 78,4 da Unimed Belém e 65,5 do setor. No entanto, em agosto, a rede privada de saúde da capital paraense chegou ao índice geral de reclamações de 85,1 na cobertura assistencial médica, enquanto o índice do setor ficou em 59,1 - a maior diferença até o momento.

Só em 2024, a Unimed Belém teve uma média de 184 reclamações sobre assistência médica, o equivalente a 94,6% do total de queixas. Mensalidades e reajustes junto com contratos e regulamentos ficaram com 5 reclamações em média neste ano. Os dados da ANS revelam que a média de queixas sobre a cobertura da rede privada na capital paraense só aumentou nos últimos 6 anos. 

O dilema das mães de crianças autistas

Daniela Oliveira, advogada e mãe de um menino autista de 5 anos, afirma ter dificuldade para fazer o tratamento do filho na Unimed Belém. Segundo ela, o tratamento estava sendo realizado de modo aquém ao que o laudo indicava e foram 3 anos de tentativa para a realização dele. Por isso, Oliveira optou por ingressar com uma ação judicial contra a rede de saúde.  

A mãe conseguiu na justiça o tratamento adequado para o filho, mas ainda enfrenta problemas. “Simplesmente a Unimed não faz o repasse de valores para a clínica, não está cumprindo com o contrato deles com a clínica, deixando de efetuar pagamentos, dois, três meses seguidos e a clínica acaba suspendendo o tratamento por falta de pagamento”, relata.

Neste ano, o filho de Daniela Oliveira teve duas vezes a suspensão do tratamento. A primeira foi em abril com 22 dias de suspensão e a segunda, entre agosto e setembro com 15 dias. De acordo com a mãe, o pagamento só foi feito depois de um protesto na frente da sede da Unimed Belém. 

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Segundo a mãe, o cenário de pressão dos clientes contra a rede de saúde tem sido comum nos últimos meses. “Na outra vez, também deixaram acumular dois, três meses sem pagar. Aí nós fizemos um movimento. Fomos juntos, todos os pais, na ouvidoria, pressionamos, tivemos vinte dias de suspensão”, detalha.

Conforme Daniela Oliveira, outras clínicas passam pelo mesmo problema. “Não é só a clínica de tratamento do meu filho. Isso é geral. Eles têm atrasado o pagamento das clínicas. Parece que todo mês eles escolhem quem eles vão pagar, algumas ficam de fora e acaba acontecendo a suspensa”, revela. 

Ana Rita, bancária e mãe de uma menina autista de 2 anos, enfrenta o mesmo problema - a falta de pagamento das terapias, apesar da existência de decisão judicial que obriga a Unimed a arcar com o tratamento. “A Unimed prefere ir contra o judiciário, pagar multa por descumprimento do que pagar as terapias da minha filha”, afirmou.

Assim como Daniela, Rita teve o tratamento suspenso durante 14 dias. “Retomou nessa segunda agora com a promessa de pagamento. No entanto, ontem recebi a informação da clínica que a Unimed não efetuou o pagamento e por isso vai suspender novamente”, lamenta. Segundo a mãe, a filha faz terapias diárias e, devido à suspensão anterior, teve vários problemas na rotina. 

Unimed Belém pode sofrer 4ª intervenção da ANS

A Unimed do Brasil manifestou preocupações sobre o que chama de graves irregularidades econômico-financeiras e administrativas na cooperativa de Belém. Em uma nota oficial assinada pelo presidente da unidade nacional, Omar Abujamra Júnior, há um "risco iminente" de a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) decretar intervenção fiscal e técnica na Unimed Belém

Essa intervenção resultaria no bloqueio dos bens de conselheiros e diretores, além da possível perda do direito de utilizar a marca Unimed. Abujamra Júnior citou, no documento, “anormalidades econômico-financeiras e administrativas na Unimed Belém”.

Se ocorrer, a rede de saúde privada em Belém pode sofrer a quarta intervenção da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Em junho deste ano, a ANS exigiu “correção imediata de inconformidades nos indicadores econômicos e financeiros” da cooperativa. Foi uma “intervenção branca”, não fiscalizatória, visto o prazo de ajustes de apenas 30 dias. 

Embora 2021 e 2022 tenham sido anos pós-pandemia, o setor de saúde privado apresentou resultados positivos. A Unimed Belém, por outro lado, não teve o mesmo cenário. Em novembro de 2021, a cooperativa alcançou a pontuação de apenas 3 pontos, dos 100 possíveis, na avaliação econômico-financeira da Unimed do Brasil. No ano seguinte, a situação piorou, com a rede atingindo só 2 pontos em junho de 2022. Outra intervenção ocorreu entre dezembro de 2016 e agosto de 2017.

Ano  Média de reclamações contra a Unimed Belém
Sobre cobertura da assistência médica
2019 65,7%
2020 82%
2021 78,8%
2022 91,1%
2023 94,7%
2024 94,6% (janeiro a agosto)

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