Documentário sobre mulheres que cuidam de canais em Belém será lançado neste domingo (10)
Iniciativa é do Laboratório da Cidade e Rede Jandyras e se intitula 'Guardiãs dos Rios: Histórias das Margens'. Lançamento será às 16h no Canal de São Joaquim, no Barreiro
Diante do processo de urbnaização que os descaracteriza, os rios urbanos da Cidade de Belém recebem de mulheres que moram nas suas margens o cuidado diário para não sucumbirem de vez. Essa relação marcada por histórias de resiliência climática poderá ser conferida a partir das 18 horas deste domingo (10), com o lançamento do documentário “Guardiãs dos Rios: Histórias das Margens”, a cargo do Laboratório da Cidade e a Rede Jandyras. Será no Canal São Joaquim, na esquina com a passagem Caju, no bairro do Barreiro. Antes, às 16 horas, acontecerá a inauguração de uma praça na área.
O documentário tem produção de Lucas Mont e Luiza Ribeiro, e roteiro e direção de Samyla Blois, Taynara Gomes, Julia Dias e Isabela Rocha. O trabalho nasceu da campanha Guardiões dos Rios, desenvolvida pelo Laboratório da Cidade e pela Rede Jandiras, financiada pela Purpose Brasil e acelerada pelo edital Iara.
A ideia era mostrar a história de como os rios urbanos de Belém, que influenciam a dinâmica da vida das pessoas, foram apagados por um processo violento de urbanização, que não respeitou sua existência. E se hoje estes rios resistem a duras penas, isto se deve à dedicação de um seleto grupo de guardiãs. E é justamente por estarem mais expostas à vulnerabilidade destes locais que as mulheres tomaram para si esta função.
Taynara Gomes é uma das coordenadoras da campanha. Ela explica que o foco da campanha e o documentário exaltam o protagonismo das guardiãs. “A maior parte das pessoas que moram nessas margens são mulheres, predominantemente pretas, chefes de família, expostas ao descaso e omissão do poder público ou de projetos. O lixo, o esgoto in natura, a falta de acesso ao saneamento básico, o acesso à água potável, problemas de pele, tudo isso afeta muito mais as mulheres”, ressalta.
“Para além dessa camada da vulnerabilidade, as mulheres sempre foram as guardiãs desses territórios, sempre resistiram, sempre criaram iniciativas comunitárias, coletivas, colaborativas para manter a relação com essas águas: elas que plantam, manejam, criam hortas, roçam, mandam limpar, criam espaços de convivência, banco, pracinha, campinho. São elas que participam das reuniões que o Poder Público faz sobre obras, macrodrenagem, parque”, acrescenta Taynara.
Canal São Joaquim
A campanha e o documentário focam na relação que estas guardiãs têm com o Igarapé São Joaquim, um dos rios urbanos mais longos de Belém, passando por sete bairros. Este rio, onde as guardiãs no passado já se banharam, pescaram e plantaram açaí em sua margem, foi asfixiado pela ocupação desordenada da cidade - e agora aparece como uma das obras prioritárias da Prefeitura de Belém para a COP 30, sob o nome de Parque Urbano Igarapé São Joaquim. Na avaliação das pessoas envolvidas com a campanha em prol dos rios urbanos, esse projeto, porém, apesar de apresentar uma proposta inovadora de urbanismo e lazer, não contempla o básico, como saneamento, coleta de lixo regular e outros serviços essenciais.
“Estas guardiãs desenvolveram trabalhos lindos, que recuperaram margens deste rio, com hortas medicinais, parques para crianças, manejo da vegetação local. E agora, com a iminência de um projeto como este, elas querem o básico: esgoto tratado, saneamento, coleta de lixo, acesso à água potável”, explica Taynara, alertando para o fato de que a interlocução com quem vem mantendo o São Joaquim vivo é essencial para a execução do projeto. “Elas sequer sabem o que é COP 30 e o que vai acontecer com este projeto, e deveriam ser procuradas pelo poder público”, acrescenta.
Neste domingo (10), está prevista ainda a entrega de uma praça, revitalizada em conjunto pelos voluntários das entidades. Na próxima semana, haverá uma audiência pública no território do São Joaquim, pensada para que a Prefeitura e o escritório que desenvolveu o projeto possam apresentar às Guardiãs o projeto do Parque Urbano São Joaquim. Além disso, as entidades conseguiram uma sessão especial na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) para discutir os rios urbanos da cidade e o protagonismo das mulheres em sua conservação.
Prefeitura
A Prefeitura de Belém informa que o Parque Urbano Igarapé São Joaquim, localizado na Bacia Hidrográfica do Una, abrange uma área de 6,48 hectares e tem 4,6 km de extensão, com um orçamento de R$ 150 milhões. Em 23 de agosto de 2023, a Prefeitura de Belém assinou convênio com o governo federal, por meio do Ministério das Cidades, para a construção do Parque Urbano São Joaquim, na presença do presidente Lula, em Belém. E é um dos projetos prioritários da COP-30 para a cidade.
Como repassa a Prefeitura de Belém, o projeto, vencedor de um concurso público nacional em abril de 2022, é conduzido pelo escritório GRS Arquitetura de Brasília, e envolve urbanização, sistema de esgotamento sanitário, drenagem pluvial, abastecimento de água, mobilidade urbana e outros elementos. Com sua extensão e localização estratégica, a iniciativa irá transformar a região, proporcionando uma melhor qualidade de vida para todos os habitantes do entorno.
Serviço:
Lançamento do documentário “Guardiãs dos Rios: Histórias das Margens”.
Inauguração da Praça: 16 horas.
Exibição do documentário: 18 horas.
Endereço: Canal São Joaquim, esquina com Passagem Caju.