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Dia da Árvore: falta de manutenção agrava riscos de quedas em Belém, diz especialista

De janeiro a 20 de setembro, 35 árvores caíram na capital paraense, como apontam dados da Semma

Gabriel Pires

No Dia da Árvore, comemorado nesta quinta-feira (21), chama-se atenção para a falta de manutenção e a ausência de acompanhamento do estado desses vegetais em Belém, como afirma o engenheiro florestal Deryck Martins. Esses fatores, segundo o especialista, podem estar ligados às diversas quedas de vegetais registradas ao longo de 2023. De janeiro a 20 de setembro, 35 árvores caíram na capital paraense, como apontam dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), divulgados nesta quarta-feira (20).

Belém tem acumulado um histórico de ocorrências frequentes de desabamento de árvores. No dia 19 de julho, um vendaval derrubou várias árvores na cidade, deixando um rastro de destruição em diversas ruas do centro. Em fevereiro, uma samaumeira caiu na Praça Santuário, no bairro de Nazaré. Já o caso mais recente foi registrado na manhã desta terça-feira (20), quando uma mangueira caiu em uma calçada na avenida Comandante Brás de Aguiar, também no bairro de Nazaré.

Dentro desse balanço, a Semma explica, ainda, que entre as espécies que caíram estão: ficus (5), oitizeiro (8), ipê (1), flamboyant (3), andirá-uxi (1), castanhola (1), jambeiro (1), palheteira (1), véu de noiva (1) e mangueira (13). Quanto à queda da Samaumeira, que era centenária, o caso não consta no balanço divulgado pela Semma, já que a ocorrência se tratou de queda de galhos, como pontuou o órgão.

Manutenção

Deryck Martins destaca que, parte das quedas das árvores que têm ocorrido, pode ser movida pela carência de manutenção e monitoramento escasso do estado desses vegetais pelo poder público. “Eu diria que é pela falta de manutenção e falta de monitoramento. As ações, que são realizadas por parte do poder público, são muito pontuais, são específicas. Não há, de fato, um monitoramento contínuo dessas árvores: de medição, de crescimento, de inclinação, de ocorrência de pragas, da saúde do vegetal”, pontua.

“A manutenção deve ocorrer de forma permanente. Então, você sabe que aquele vegetal, o quanto que ele está crescendo, como está se distribuindo a copa. Tem que observar a angulação, se está havendo uma inclinação, rachadura nas calçadas. É importante que se converse com a manutenção das árvores, com a manutenção dos outros equipamentos, como tubulações e fiações, por exemplo, para que haja realmente a compreensão do que está acontecendo e que atividades precisam ser realizadas”, avalia Deryck.

O especialista lembra, também, que o conflito das árvores com outros equipamentos urbanos, como fiações elétricas, também pode favorecer o risco de tombamento. “Quase sempre não há a priorização da vegetação. Pelo contrário, prioriza-se a fiação elétrica. E vai sendo feito uma poda para livrar a parte elétrica das árvores, o que muitas vezes vai causando tortuosidade, vai tornando elas inclinadas. Muitas vezes elas perdem equilíbrio, o que acaba acontecendo, quando expostas a intempéries, chuvas, vento forte, acabam vindo a cair”, afirma o especialista.

“É importante, para que haja uma manutenção adequada, para que haja um monitoramento adequado, que se conheça os vegetais. O primeiro passo é um inventário florestal, é um levantamento de todas as espécies vegetais para se conseguir fazer um monitoramento adequado. Existe uma especificidade da arborização urbana de Belém que são as mangueiras. Mais comumente tem sido observada a queda de vegetais centenários, o que acaba favorecendo. Então, há que se atentar para a necessidade de um plano específico para as mangueiras de Belém. O que não há hoje. É preciso considerar isso”, relata Deryck.

Meta

Até 2024, o esperado é que a gestão municipal realize o plantio de 120 mil novas árvores na capital. Atualmente, Belém reúne 15 árvores samaumeiras em espaço público e mais duas em locais particulares perto de via pública na área urbana, de acordo com um levantamento da Prefeitura de Belém, divulgado em fevereiro deste ano.

O agrônomo Cândido Neto pontua que a arborização contribui para o conforto térmico, além de promover melhorias à sustentabilidade e à biodiversidade. Com relação à árvore que caiu nesta quarta-feira, o especialista aponta as possíveis motivações: “A planta estava muito próxima do meio-fio, o solo estava um pouco compactado, pela visualização, e ela não teve, no crescimento, um bom desenvolvimento de profundidade da raiz”, diz.

“Geralmente, as quedas dessas árvores são mais frequentes naqueles locais onde são mais antigas, com grande porte. Você vê que muitas árvores que caem aí, por exemplo as mangueiras, principalmente, são as plantas que têm uma vulnerabilidade por causa da idade, do crescimento. E, em época de chuva, ventania, tem um risco de queda maior”, acrescenta Cândido.

Ações

Em uma primeira nota enviada à reportagem, a Semma detalhou que “tem buscado identificar e erradicar esses problemas, para mitigar os acidentes com queda de árvores na cidade de Belém”. O órgão pontuou que “ações preventivas para evitar quedas de árvores na área urbana são feitas por meio de fiscalizações, que levam em conta problemas como podas irregulares não autorizadas, que provocam o desequilíbrio do vegetal; colocação de cimento na raiz de árvores, o que acaba por provocar o enfraquecimento da mesma; além das podas de rebaixamento e de equilíbrio, que contribuem para evitar quedas”.

Em outra nota, a Semma comentou que muitos são os fatores que podem afetar a saúde e estabilidade do vegetal urbano e que, diariamente, os técnicos da Secretaria estão nas ruas realizando ações para preveni-los. "Fosse 'falta de manutenção', a causa das quedas de árvores em Belém por que a espécie com maior incidência de queda ocupa apenas a quarta posição no ranking das mais comuns na cidade?', ponderou a Semma.

"De 1 de janeiro a 20 de setembro de 2023, houve a queda de 35 árvores em Belém; dessas, 13 mangueiras, a mais recente ocorrida na manhã desta quarta-feira, 20, uma árvore jovem, saudável, porém com enraizamento superficial no solo, ou seja: a raiz não se aprofundou o suficiente para garantir a sustentação do vegetal. Situação que não causa estranheza, visto que a mangueira, a despeito de toda a identificação com Belém, não é uma espécie nativa e não se adaptou completamente ao nosso solo. Vale ressaltar que 22 das 35 árvores que caíram até o momento tombaram na noite de 19 de julho, durante um evento climático atípico", acrescenta a nota.

Segundo a Semma, fícus e mangueira são as árvores que mais caem: além de serem espécies inadequadas para Belém, frequentemente estão plantadas em locais inadequados ou de forma inadequada (plantio sem orientação técnica). Em árvores localizadas no centro da cidade, a maioria das quedas está relacionada a problemas nas raízes das árvores e não à sua parte aérea, conforme pontua a Secretaria.

"Por exemplo, o corte de raiz durante obras, enovelamento, não enraizamento consequente de estruturas construídas próximas do vegetal, além de podas irregulares que provocam o desequilíbrio do vegetal e a prática de colocarem cimento sobre a raiz de árvores, o que acaba por provocar o enfraquecimento da mesma", explica.

"Além disso, a falta de colaboração de alguns munícipes (que optam por fazer a base das árvores de banheiro ou de lixeira) e o crescimento com alta inclinação por sombreamento de prédios podem causar o tombamento delas. A Prefeitura de Belém realiza constantemente manutenções nas áreas verdes públicas da cidade; nas árvores, são feitas limpeza de pragas, retirada de galhos podres ou com lesões, diminuição de peso e, principalmente, avaliação constantes da saúde dos vegetais. Além disso, desde o dia 1 de setembro deste ano, é possível localizar e identificar cada uma das 3.422 árvores existentes nos bairros de Fátima e do Marco, os primeiros a integrarem o inventário das árvores de Belém, em produção pela Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), em parceria com a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e com a Companhia de Tecnologia da Informação de Belém (Cinbesa) que disponibiliza as informações no endereço eletrônico: semma.belem.pa.gov.br, podendo ser acessado pela população por meio de computador, tablet ou celular", acrescenta a Semma.

A nota finaliza explicando que o objetivo é, pela primeira vez, quantificar e qualificar todas as árvores existentes na cidade. "O trabalho mais recente no setor foi elaborado em 2022 pela Diretoria de Áreas Verdes Públicas da Semma e identifica os índices percentuais de áreas verdes no perímetro urbano de Belém. Diante de todo o exposto, afirmar que falta de manutenção e ausência de acompanhamento do estado das árvores, pela Prefeitura de Belém, é total falta de conhecimento da atuação da Semma ou simples e pura má-fé". conclui a nota.

(Gabriel Pires, estagiário, sob a supervisão de Lázaro Magalhães, coordenador do Núcleo de Atualidades)

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