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Dia da Amazônia: preservação e diversidade cultural refletem a essência dos amazônidas

Cuidar da floresta, e dos seres que nela vivem, é visto como uma garantia de vida

O Liberal

No dia 5 de setembro é celebrado o Dia da Amazônia, data criada para refletir sobre a importância desse patrimônio natural do planeta. Lar de milhões de espécies de plantas, animais e com uma biodiversidade única, em meio a floresta também há uma rica cultura, feita por pessoas com diversidade étnica e profunda conexão com a natureza. Para quem vive na região amazônica, preservar e cuidar da floresta, e dos seres que nela vivem, é uma garantia de vida hoje e para as futuras gerações.

Ser amazônida vai além de apenas residir na região, é uma questão de pertencimento. A indígena Raimunda Moreira Viana, de 70 anos, nasceu em Mocajuba, no interior do Pará, e há muitos anos vende coco perto da Catedral Metropolitana de Belém. Para ela, a floresta possui encantos que muitos desconhecem.

“Eu morava no meio da mata e vim para Belém quando tinha 10 anos. Lembro de tudo o que tinha lá. Eu andava só com um pano na cintura e caminhava pela floresta. Sempre fui uma guerreira valente. Os mais antigos falavam que tínhamos que tomar cuidado ao andar sozinha na floresta, mas eu sempre enfrentei o que tinha na mata. Tem gente que não acredita nas histórias que eu conto, das coisas que vi quando morava no mato, mas tudo é verdade. Tem coisas que ninguém imagina, mas vive lá”, afirma a indígena.  

Dona Raimunda diz que sempre cuidou da floresta e continuou a fazer isso depois que passou a morar em Belém. “A floresta somos nós que vivemos nela. Temos que cuidar, temos que deixar limpo. Eu amava quando era criança, morava na beira do rio. Depois que vim morar em Belém, também cuido. Limpo perto do meu carrinho de coco todos os dias. Se não cuidar, pode acabar e todos vão sofrer. Eu amo essa cidade, moro com meus quatro filhos aqui e não quero mais ir embora. Amo essas árvores, o rio, as frutas, sou grata a Nossa Senhora de Nazaré e Jesus por nos dar isso”, declara a indígena.

Quem também cuida do meio ambiente e acredita na preservação como o único caminho possível é o funcionário público José Maria Vale, que faz parte do grupo 'Os defensores do rio limpo de Belém, saneado, ajardinado e arborizado', que reúne moradores da Terra Firme que voluntariamente desenvolvem o plantio de árvores ao longo do rio Tucunduba - igarapé que corta pelo menos quatro bairros de Belém.

"Em 2017, a gente montou um grupo com esse nome e começamos a fazer o plantio na beira do rio Tucunduba, conscientizando os moradores a cuidar tanto do rio quanto da vegetação na margem do rio. Plantamos ipê, açaizeiro, cuieira, ingazeira, cajueiro, cacaueiro - são várias vegetações que, além de fazer a arborização, dão a fruta para a pessoa usufruir. A ideia é arborizar toda a extensão do igarapé", ele conta.

Para José Maria, todos deveriam fazer sua parte e colaborar para a preservação ambiental mesmo na cidade: "Esse igarapé, antes de ser ocupado, era limpo, as pessoas pescavam, tinha as aves também. Quando veio as ocupações, ele passou a ser poluído. Essa arborização ameniza o igarapé poluído e faz com que o meio ambiente fique vivo. As pessoas sentam debaixo das árvores para bater papo e a gente contribui para a questão climática. Todo mundo devia plantar mais. Isso faz bem para toda a comunidade da Terra Firme, além de embelezar o local. Faz bem para quem planta, para quem mora e é um exemplo para outros locais que não tem arborização".

Ser Amazônida

O professor Fabrício Machado Ferreira, especialista em metodologia do ensino de sociologia e filosofia, explica que o Dia da Amazônia serve como um chamamento para a sociedade civil, entidades políticas e não governamentais, para refletir sobre a necessidade de preservação e conservação das riquezas naturais. Sem deixar de fora a memória dos povos que habitam a floresta, como etnias indígenas e ribeirinhos, fazendo se manter as práticas e saberes que abrangem a cultura diversa da região.

“O sentimento e o reconhecimento de pertencer a amazônia sempre esteve em nosso povo, pois temos um imenso orgulho em valorizar aquilo que nos marca como herdeiros da floresta. A exemplo disto, temos os chá de cascas de tronco de árvores, ou folhas que usamos como ervas medicinais. Nossa ancestralidade é exposta através da comercialização de adereços como brincos e pulseiras de sementes vindas da mata. Nossa identidade, como reflexo da cultura indígena, hoje é refletida na construção civil, pois as casas já são construídas com armadores de rede. E a culinária?! exótica, detentora de sabores únicos. Ainda podemos falar das frutas que são específicas da região”, destaca o professor.

Para Fabrício Ferreira, os grandes eventos que ocorrem em Belém também tem papel fundamental na valorização da cultura. “É necessário promover um entendimento que os amazônidas também são brasileiros, pois a séculos somos um povo estigmatizado e esquecidos pelo restante do país e do mundo, gerando diversas formas de preconceitos. Mas acredito que a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30) está possibilitando a difusão da nossa gente, nossa cultura e nossa identidade”, aponta o sociólogo.

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O que é ser amazônida?

image Turismólogo que atua no centro histórico de Belém (Foto: Igor Mota / O Liberal)

Fernando Diniz, 41 anos, Turismólogo - “Ser amazônida é ter orgulho de compartilhar as nossas experiências de natureza, gastronomia, de cultura, de viver no meio da floresta, mesmo dentro de um centro urbano como é Belém”.

Rafaela Cavalcanti, 35 anos, influenciadora digital - “Ser e estar na Amazônia, pra mim, envolve natureza. Tudo é tudo. É importante que as pessoas tenham a consciência de cuidar e preservar aqui, pois é onde vivemos.”

Everton Pessoa de Oliveira, 61 anos, bancário - “Amazônia é um privilégio que nós habitamos. A diversidade da flora e da fauna é o que nos dá todo esse clima. Ser da Amazônia é estar em família. Temos que preservar, guardando sempre o devido equilíbrio, porque nós precisamos também nos desenvolver.”

image Terapeuta ocupacional que frequenta o centro de Belém (Foto: Igor Mota / O Liberal)

Karina Saunders Montenegro, 39 anos, terapeuta ocupacional - “Primeiro temos que entender que a Amazônia é a nossa casa. Ser amazônida não é só a questão da floresta, mas é todo um bioma. Aqui em Belém a gente tem essa possibilidade de ter locais abertos como a praça, como o Utinga, então acho que educar as crianças com todo esse processo de preservar faz parte do que somos.”

Belém