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Devotos de São Cosme e Damião mantêm a tradição de distribuir doces

Famílias de Belém se preparam dias antes para cumprir promessas feitas aos irmãos santos

Bruna Lima

A tradição de São Cosme e Damião segue presente entre algumas famílias de Belém, e os preparativos para a tradicional distribuição de doces já toma conta dos lares de devotos como Loreta Brandão e Maria do Carmo Vilhena, moradoras do bairro da Pedreira. Na próxima sexta-feira (27), dia em que os adeptos das religiões de matrizes africanas celebram os santos, elas vão entregar doces e bombons para a comunidade.

Há 40 anos Maria do Carmo Vilhena, 72, já tem a promessa. Ela conta que tudo começou após uma gestação complicada. Diante disso, ela firmou uma devoção com os santos e desde aí vem cumprindo todos os anos. "Eu estava grávida e tive complicações na gestação. Na ocasião, eu pedi para os santos e meu pedido foi atendido. O meu filho ficou bem e, hoje, ele está com 40 anos e me ajuda nessa promessa", explica a comerciante.

Ela conta que a cada ano o número de entregas aumenta e fica feliz em poder seguir com a tradição, que vem perdendo destaque entre as famílias. "Antes era muito mais forte essa prática, hoje em dia a gente já não vê de forma tão comum", pontua.

Maria do Carmo entrega cerca de 2.500 caixas e 500 pacotes de bombons. A entrega começa às 16h, na esquina das travessas Lomas Valentinas com Pirajá. "Aqui vira uma festa, vêm crianças de vários bairros", relata a devota.

Loreta Brandão, 39, também adotou a tradição. Ela conta que começou com a distribuição dos doces e bombons há seis anos, quando o marido morreu e ela passou a receber uma pensão. "Eu firmei um propósito que enquanto eu receber esse dinheiro eu vou distribuir os bombons nos dias de Cosme e Damião", explica.

Loreta acrescenta que a iniciativa também é uma forma de incentivar a continuidade dessa tradição. Ela recorda que quando era criança costumava fazer uma peregrinação por várias ruas de Belém para pegar bombons. "Antigamente essa cultura era muito mais forte aqui na rua da minha casa, quando todos os moradores faziam a distribuição de bombons. E quando eu fiz essa promessa foi muito por conta de ter essa referência", destaca Loreta.

De onde vem a tradição de distribuir doces para crianças no dia 27 de setembro?

Embora seja popularmente celebrada em 27 de setembro no Brasil, a data para a Igreja Católica acontece no dia 26. O dia 27 é comumente adotado pelos praticantes de religiões de matriz africana, como a Umbanda e o Candomblé, de onde vem a tradição da entrega dos doces como forma de cumprir promessas, por conta da associação dos irmãos gêmeos aos orixás Ibejis, filhos de Xangô e Iansã. 

Também é costume entre os adeptos dessas religiões oferecer comidas como caruru, vatapá e bolinhos às entidades e aos frequentadores dos terreiros.

Porém, tanto entre os católicos como entre os umbandistas, São Cosme e Damião são considerados santos protetores das crianças, orfanatos, creches e das doceiras. Nas religiões de matrizes africanas, algumas imagens de Cosme e Damião têm uma terceira criança menor entre os gêmeos, que seria Doum, o terceiro gêmeo dos irmãos. Com a morte de Doum, os outros irmãos se tornaram médicos para curar a todas as crianças, sempre de forma gratuita.

Segundo registros, Cosme e Damião teriam sido irmãos gêmeos que atuavam como médicos de forma voluntária na região da Síria, por volta do século 3º. Por serem cristãos em uma época que essa prática ainda não era aceita pelas autoridades, eles foram perseguidos pelo Império Romano. 

A morte dos irmãos gêmeos teria acontecido em um 27 de setembro do século 4º, por esse motivo a data ficou associada aos padroeiros. Contudo, em 1969, a partir de uma reforma no calendário católico, foi decidido que Cosme e Damião seriam celebrados um dia antes. A decisão tentou evitar um choque de datas com São Vicente de Paulo, cuja morte, comprovadamente, foi em 27 de setembro, o que já não se pode confirmar no caso dos irmãos.

Belém