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Defesa pessoal: prática reforça segurança e autoconfiança para mulheres em Belém

A prática de defesa pessoal por mulheres vai além da simples aquisição de técnicas de luta e representa um passo fundamental para a autonomia e benefícios físicos quanto e emocionais.

O Liberal

Neste mês, a campanha ‘Agosto Lilás’ se dedica a conscientização sobre o combate a violência contra a mulher, e também destaca a postura proativa daquelas que lutam contra esse mal em busca da própria proteção. Em Belém, muitas mulheres buscam por aulas onde aprendem técnicas de defesa pessoal. A prática é uma garantia de segurança para lidar com situações de risco e também autoconfiança para a melhoria da autoestima e da qualidade de vida.  

As alunas e professoras de um estúdio de lutas para mulheres, localizado no bairro da Cidade Velha, em Belém, relatam como o local proporciona um ambiente acolhedor e seguro para todas elas. Carol Leão, proprietária e professora de Karatê no estúdio, explica que o intuito do local é justamente fazer com que as alunas se sintam à vontade e confortáveis. 

“O estúdio foi criado em 2021. Eu tive essa ideia desde a minha graduação em Educação Física, quando estava escrevendo meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre violência contra a mulher e arte marciais. Na pesquisa, eu percebi que muitas mulheres que haviam procurando a defesa pessoal já tinham sofrido violência, então elas estavam procurando algo para se sentirem mais seguras. E nesse período, eu ouvi muitos relatos de mulheres que sofreram abuso nas próprias academias. Então isso foi algo que me chamou muito a atenção”, relata a professora.

A professora de karatê diz que o estúdio vai na contra-mão de todos os relatos negativos das alunas. Justamente por isso é exclusivo para mulheres e, recentemente, o público LGBTQIA +. “Esse é um lugar que a gente procura para se sentir mais segura e acolhida. Em outros locais, muitas vezes as mulheres passam por uma situação de piadinha, um olhar, uma chamada ou algo que incomoda. E, então, acaba sendo um espaço que, às vezes, nós mulheres que praticamos defesa pessoal não nos sentimos à vontade. Quando montei o estúdio, percebi que elas sentiam a vontade de conhecer e de praticar as lutas que ensinamos aqui. Muitas mulheres que vêm aqui nunca fizeram luta antes. Então, é a primeira vez, é o primeiro contato e elas se sentem mais acolhidas, mais compreendidas, até porque nossa equipe é composta só por professoras”, diz Carol Leão.

Autoconfiança e bem-estar

Atualmente, no estúdio ocorrem aulas de três modalidades para defesa pessoal: Muay-thai, karatê e capoeira. Para Carol Leão, as questões que envolvem o aprendizado de defesa pessoal vão além da proteção contra assédio ou violência física, pois a prática proporciona confiança para as alunas.

“Sempre que converso com as alunas, o relato que recebo é da segurança e que elas se sentem mais seguras, mais confiantes na rua. E isso é muito importante, porque elas treinam aqui, mas não é com a intenção só de melhorar nessa parte da defesa. A gente, como mulher, tem essa questão da autoconfiança. De se sentir capaz de fazer as coisas, então essa questão melhora bastante. Eu sempre falo que ‘é melhor saber e não precisar do que precisar e não saber’. Então, assim, fico feliz por elas não relatarem terem precisado da autodefesa para se proteger, mas fico tranquila porque elas vão estar preparadas para quando precisarem”, garante Carol.

De acordo com a professora, atualmente a procura por locais para se exercitar e praticar algum tipo de luta cresceu bastante em Belém. A escolha de treinar essas habilidades em um local onde o aluno se sinta bem faz a diferença.

“O público tem que se sentir acolhido. Muitas vezes vi que o preconceito pode afastar as pessoas e ser muito prejudicial. Um dos meus alunos é um homem-trans e fez um relato muito emocionante sobre pensar em desistir de tudo, por não se sentir bem em lugar nenhum. Mas quando chegou aqui e viu que seria aceito, que ficou a vontade, sem sofrer preconceito, isso chamou atenção e fez ele ficar. Acho importante a gente oferecer esse apoio para receber essas pessoas e receber com respeito e saber lidar. Não adianta a gente receber e continuar com esse tipo de violência ou então perguntando coisas desagradáveis, tratando pelo nome que era antes, olhando estranho. Mostrar que esse estúdio não é assim e que aqui há respeito é a prioridade”, declara Carol Leão.

Proteção

A prática de defesa pessoal por mulheres vai além da simples aquisição de técnicas de luta. Ela representa um passo fundamental para a autonomia, promovendo benefícios tanto físicos quanto emocionais. Geovanna Rodrigues, de 26 anos, que é universitária e uma das alunas do estúdio, várias áreas da sua vida foram beneficiadas após o início das atividades para aprender as lutas.  

“Eu estou aqui no estúdio há um ano e o que me motivou foram principalmente questões de autoconfiança e autodefesa. A gente como mulher, enquanto minoria, precisa sempre saber como se defender, como se portar diante de situações adversas. Além disso, tem a questão da autoestima, trabalhar o corpo, saúde, entre outros”, conta.

Geovanna conta que a defesa pessoal a ajudou a desenvolver a consciência corporal, melhorou a disposição e a fez adotar comportamentos de determinação.

“Aqui tem sido um acolhimento absurdo, cercado de mulheres que entendem a minha questão, que passam por situações semelhantes às minhas. Eu tô aqui toda segunda e quarta pras aulas de Muay Thai, mas eu já pratiquei boxe e eu já fiz experimental de capoeira. Eu ainda não fiz o Karate, ainda não transitei. Cada modalidade é única, é peculiar, então tem a questão muito da tradição também. Cada movimento, aplicação de força é diferente, é uma disciplina diferente para cada. As professoras têm muito isso de respeitar o meu tempo, respeitar o meu limite, mas sempre me motivando a ir além”, finaliza Geovanna.

Agosto lilás

Criado por meio da Lei nº 14.448/2022, o Agosto Lilás é uma campanha que visa instruir a população a como identificar e reagir a casos de violência, alertando ainda que muitos desses podem ser pouco perceptíveis, como em situações de violência patrimonial, moral, psicológica, sexual e até mesmo física. Identificada ou sob suspeita, a violência pode ser denunciada através do Ligue 180, pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil, pelo site da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos e ainda por meio do canal Direitos Humanos Brasil no Telegram. Vale destacar ainda que a omissão em casos de violência doméstica também se qualifica como tal, conforme dita o artigo 5° da Lei Maria da Penha.

 

Belém