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Cozinheiras encontram na culinária o sustento e felicidade em meio à rotina

Uma pesquisa do Instituto Gallup revelou que 60% das pessoas se sentem mais satisfeitas ao cozinhar

Gabriel Pires

Cozinhar pode ser mais do que uma simples rotina no dia a dia — para muitos, é uma verdadeira terapia. Uma pesquisa do Instituto Gallup revelou que 60% das pessoas se sentem mais satisfeitas ao cozinhar, enquanto 20% afirmaram que o ato aumenta a visão otimista sobre a vida. Em Belém, no Mercado do Ver-o-Peso, mais do que uma profissão, cozinheiras encontram na culinária um refúgio para aliviar o estresse e até mesmo a receita para a felicidade. 

Com 60 anos, a cozinheira Lúcia Torres trabalha há três décadas em um box no mercado. Para ela, a profissão de cozinhar é motivo de muita alegria no dia a dia. Prova dessa felicidade é o sorriso no rosto que ela demonstra quando algum cliente chega. “Cozinhar é uma forma de terapia, a gente tem que fazer com amor. Se não tiver amor, a gente nem pega na panela para cozinhar. Essa é a nossa rotina no Ver-o-Peso. Tem que ter amor para vim para cá”, diz a cozinheira.

“Isso tudo porque, também, a gente precisa estar com um sorriso no rosto para agradar os clientes, quando eles chegam. Imagina se o cliente chegar e a gente estiver com a cara fechada. O cliente vai embora. É até por isso que temos que cozinhar e trabalhar com otimismo. Atender, dar um bom dia. Estar em paz. E eu sempre cozinhei e me senti bem. Traz um bem-estar para a gente e para quem está ao nosso redor. Eu amo cozinhar. E é aqui que se tira o estresse. Releva que dá tudo certo”, conta Lúcia.

Para Lúcia, foi essa profissão que a fez conquistar muitos sonhos. Por isso, cozinhar é muito significativo e marcante para ela. O trabalho que ela escolheu traz muita leveza e até mesmo força para encarar as dificuldades do dia a  dia, como relata a cozinheira. “Tudo isso é muito gratificante. Tenho gratidão. O Ver-o-Peso é a raiz onde comecei a minha trajetória como cozinheira. Eu aprendi no dia a dia. Cozinhar com alegria, com amor”, relata.

Satisfação

Esse efeito terapêutico de trabalhar com a gastronomia é compartilhado pela cozinheira Paloma Prestes, de 32 anos. Mesmo em meio à correria e grande demanda de clientes no Ver-o-Peso, a satisfação toma conta dela todos os dias. “Cozinhar desestressa. E ajuda muito a aliviar o nosso estresse diário de casa. A gente trabalhar, é como se fosse uma rotina de casa, mas, de certa forma, é bom. Cozinhar melhora o humor e ainda dou uma pitadinha de amor [na preparação dos pratos]”, afirma

E todo sentimento de felicidade é gerado por conta das relações na rotina com os clientes, como Paloma faz questão de pontuar. “Aqui a gente une o útil ao agradável. Para mim, cozinhar é gratificante. Eu gosto. É gratificante quando o freguês vem e fala que gostou do prato. E não pode faltar o sorriso no rosto no dia a dia. A receita é cozinhar com amor. São várias pessoas que a gente não conhece. E já vai completar cinco anos que trabalho no Ver-o-Peso”, completa.

Otimismo também faz parte da cozinheira Raquel dos Santos, de 52 anos. “Cozinhar é terapêutico. E como cozinheira, a gente sempre quer dar o nosso melhor para os clientes, uma comida boa, uma comida saudável. E isso motiva. É uma tradição, em casa. Passou de vó para neta. E é uma felicidade preparar refeições. Com essa felicidade, conseguimos agradar os clientes, com educação, com alegria. E os clientes bem atendidos voltam, sempre param para comer aqui”.

Bem-estar

A psicóloga Rafaela Guedes explica que a sensação de bem-estar e prazer ao cozinhar está associada com a liberação de dopamina, o hormônio da felicidade. “Cozinhar é considerado um hobby. E pode virar eventualmente a profissão e é a profissão de muitas pessoas. Mas, todas às vezes que você realiza atividades que têm sentido e causam prazer, elas têm um efeito terapêutico e fortalecedor”. O preparo dos alimentos pode, para algumas pessoas, ser uma forma de ritual", observa a terapeuta.

“E, por si mesmo, já reduz a ansiedade, já reduz a angústia, mas tem outros sentidos também, como dar prazer a pessoas que se gosta, que se ama e ter reconhecimento profissional, se aquela é a profissão de uma pessoa. Sobre cozinhar e melhora dos sintomas de ansiedade, a gente não tem como generalizar. Não são todas as pessoas que vão se dispor a preparar, fazer a cocção e terão, necessariamente, esse alívio de tensão, essa redução de angústia. Tem que ter sentido para o sujeito”, reforça.

Rafaela ainda completa: E aí, sim, quando tem sentido para aquela pessoa, tem relação com o sentido que há para ela. Quando se prepara e se faz algo que todo mundo deseja e todo mundo quer, isso promove satisfação. Necessariamente, isso reduz a ansiedade. Quando a gente cozinha, quando tem sentido para a gente cozinhar, temos prazer e libera os hormônios, a dopamina, os hormônios do prazer. Esses são os efeitos e são o resultado da execução daquela atividade que é prazerosa.

Belém