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Colégio de educação adventista obriga leitura de livro com considerações LGBTIfóbicas

Escola fica no bairro da Marambaia. O livro "De bem com a vida" é usado desde 2016 e trata homossexualidade como doença

Victor Furtado

O irmão de uma aluna do Colégio Adventista de Correios, no bairro da Marambaia, usou as redes sociais digitais para denunciar uma atividade com caráter LGBTIfóbico. Para uma atividade da disciplina de Língua Portuguesa, os estudantes do nono ano do ensino fundamental precisavam ler o livro "De bem com a vida". No livro, os autores Sueli Nunes Ferreira e Marcos de Benedicto tratam a homossexualidade como doença. Desde junho deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que LGBTIfobia é crime no Brasil.

Além de a LGBTIfobia ser crime equiparado ao racismo — imprescritível e inafiançável —, a Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda que tardiamente (em 1990), não considera homossexualidade doença. Logo, não pode ser tratada e nem pode ter uma "cura". Nem o termo "homossexualismo", que indica doença, é mais usado. Essas posições são técnicas e internacionais. Independem de posicionamentos religiosos ou políticos.

Herisson Lopes, jornalista e maquiador profissional, foi quem fez a denúncia nas redes. Tudo começou na noite desta segunda-feira (18). A irmã dele chegou em casa com uma tarefa de sete páginas e 50 questões relacionadas ao livro. Entre elas, questões sobre como os autores tratam o tema homossexualidade. A jovem ficou constrangida por conta do irmão. Ainda nesta segunda, ele procurou a escola.

Entre as perguntas, havia "homossexualismo tem perdão?", "a Bíblia condena relação homossexual?", "a pessoa nasce ou se torna homossexual?" e "como evitar o homossexualismo?".

"Me disseram que a coordenação da escola não sabia. Achei estranho. Como não sabia se todas as atividades foram impressas na própria escola? Ninguém aprovou ou revisou? Então voltei na manhã desta terça (19) e conversei com a coordenação pedagógica. Pareciam ter sido orientadas a não falar e só iriam publicar um pronunciamento oficial. Mas eu sou da família. Quero saber qual o interesse pedagógico, no conteúdo de Língua Portuguesa, tratar de homossexualidade de forma tão tendenciosa e irresponsável, numa escola, no país que mais mata LGBTIs no mundo. São crianças!", comentou Herisson.

Herisson adianta que já pretende procurar o Conselho Estadual de Educação e também a Ordem dos Advogados do Brasil Seção Pará (OAB-PA). Também criticou que, ao registrar a visita no livro de ocorrências da escola, não havia nenhuma informação sobre o motivo da visita.

 

Colégio se pronuncia sobre o caso

Por nota, o Colégio Adventista de Correios afirmou que "As questões contidas no questionário tinham como objetivo colher as diversas opiniões e sentimentos sobre a temática em estudo e davam a cada estudante a oportunidade de expressar livremente sua opinião. Um livro serviu como auxílio na tarefa, o que ocorre em várias disciplinas".

"A tarefa que o professor elegeu levou em conta o conhecimento prévio do aluno. E, com isso, procura proporcionar um debate qualificado a respeito do assunto. A ideia é a de formar um cidadão que respeita opiniões diversas, bem como seja capaz de pensar por si próprio sobre as temáticas apresentadas" dizia a nota.

Ainda na nota, o Colégio afirma que "...acima de tudo, respeita todos os indivíduos sem qualquer tipo de discriminação sexual, racial, religiosa, ou de outra natureza. O Colégio, que é uma instituição confessional, é reconhecido pela confiança e credibilidade que transmite, especialmente por apresentar uma proposta educacional de alta qualidade, pautada em valores baseados na Bíblia e direcionada a promover o desenvolvimento harmonioso das faculdades físicas, intelectuais, espirituais e sociais de cada aluno".

Por fim, o Colégio garantia, na nota, que estava "...e sempre esteve à disposição para os que desejam esclarecer dúvidas a respeito de qualquer tipo de tarefa utilizada".

Belém