Círio de Icoaraci: tradicional procissão em homenagem à Nossa Senhora das Graças chega à 72ª edição
A organização da procissão tem a expectativa de reunir 200 mil participantes neste domingo (24)
Fiéis católicos saem às ruas de Icoaraci neste domingo (24) para celebrar o Círio de Nossa Senhora das Graças, uma tradição que chega à 72ª edição no distrito de Belém. Marcada pela fé e devoção, a procissão reúne milhares de devotos em homenagem à santa, com expectativa de reunir mais de 100 mil fiéis na romaria deste ano. Com o tema “Maria, cheia de graça, mestra da oração”, a festividade em louvor à padroeira começou na quinta-feira (21) e segue até o início de dezembro.
No domingo, o Círio será antecedido por uma missa, que será celebrada em frente à Igreja de São Sebastião, na Orla de Icoaraci, de onde partirá a procissão. A celebração será presidida pelo Padre Luan Tavares, vigário do Santuário Nossa Senhora do Bom Remédio. Em seguida, a peregrinação seguirá pelas ruas do distrito em direção ao Santuário de São João Batista e Nossa Senhora das Graças. A chegada da romaria será marcada por uma missa presidida pelo Arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa.
Além da Grande Procissão, no domingo, a programação do festejo segue com a Quinzena do Círio até o dia 3 de dezembro. Todos os dias, a partir das 18h, haverá missas com padres convidados e atividades culturais. Entre os momentos da festividade, destacam-se a 19ª Caminhada da Juventude, no sábado (30), e o 32º Círio das Crianças, no domingo, 1º de dezembro. A festividade encerra no dia 3 de dezembro com uma Santa Missa presidida por Dom Paulo Andreolli, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém.
Devoção
Para muitos devotos, o Círio não é apenas uma celebração religiosa, mas parte essencial de suas vidas. Acompanhar a procissão todos os anos faz parte da história do auxiliar administrativo Marco Antônio Souza, de 50 anos, que tem grande veneração pela padroeira de Icoaraci e a considera como “mãe protetora”. Além de devoto, ele também é um profundo conhecedor da devoção mariana. Para este ano, ele espera viver um Círio “de graças, como diz nosso tema central”.
“O Círio faz parte da minha vida. Desde criança participo da Paróquia de São João Batista e Nossa Senhora das Graças e dos Círios. É algo que realmente vem desde a infância. E cada ano o Círio não é o mesmo. Fica algo parecido com o do ano anterior, mas não é igual por vários aspectos. O sentimento é diferente. Todos os anos, a nossa fé é renovada. A minha e de tantas outras pessoas que eu vejo. Por tudo que eu ouço e consigo sentir. É uma emoção que a gente vive a cada ano enquanto família”, relata.
Para Marco, que também é membro da Guarda de Nossa Senhora, essa missão, segundo ele, é um instrumento de Maria a serviço da evangelização, e seus integrantes são chamados a servir à padroeira e ao Santuário: “Aos olhos da fé, nós enxergamos dessa forma. E estamos aqui para servir. É um trabalho voluntário. E eu amo estar na igreja como Guarda e servindo.” “Fazer parte da Guarda já é uma graça. E eu só tenho a agradecer a Nossa Senhora: pela minha saúde, pela minha família e por estar aqui”, completa.
Gerações
Outro traço marcante é que a devoção a Nossa Senhora das Graças atravessa gerações e é transmitida de pais para filhos ao longo dos anos. É o caso do estudante universitário Marcos Galhardo, de 24 anos. “É uma tradição de família viver o Círio intensamente. Sempre fui criado dessa forma: entender que a gente celebra em outubro o Círio de Nazaré, no centro de Belém. E, em novembro, os olhares se voltam para Icoaraci. Sempre fui ensinado pelos meus avós, tios e pelos meus pais a viver essa devoção”, conta.
“Tenho ainda uma história particular. Eu perdi a minha mãe há pouco mais de três anos. Ela foi quem me ensinou a rezar, a ser devoto de Nossa Senhora e me ensinou a ter esse amor e dedicação pelas coisas de Deus. É de mãe para mãe. A minha me ensinou a amar essa mãe. Em vários momentos da minha vida, é Nossa Senhora quem me socorre. Digo que sou o filho que sempre pede muito socorro. Nossa Senhora me acompanha diariamente. Essas graças de pouco a pouco vão acontecendo”, relata o jovem.
Tradição
O padre Everson Vianna, vigário do Santuário São João Batista e Nossa Senhora das Graças, observa que o Círio de Icoaraci é uma manifestação profunda de fé e devoção que une a comunidade em torno de Nossa Senhora das Graças: "Mais do que uma celebração religiosa, é um momento de renovação espiritual e fortalecimento dos laços comunitários. A procissão pelas ruas do distrito simboliza a caminhada conjunta dos fiéis, guiados pela luz da fé, em busca de uma vida mais próxima dos ensinamentos de Cristo".
“Essa tradição reforça a identidade cultural e religiosa de Icoaraci, sendo um testemunho vivo da importância da evangelização e da propagação da fé na vida cotidiana. A devoção em Icoaraci ganhou destaque a partir de 1949, quando um quadro da Virgem Maria teria derramado lágrimas na casa da devota Zenóbia Castro, atraindo milhares de fiéis. Esse evento deu início a várias romarias e peregrinações, que levaram à criação do Círio de Nossa Senhora das Graças em 1952. Desde então, a fé e a devoção cresceram, consolidando o Círio como uma das maiores expressões de fé em Icoaraci", acrescenta.
Refletindo o tema da festividade, o vigário ainda pondera que “neste ano, a celebração de Nossa Senhora das Graças em Icoaraci “convida os fiéis a seguirem o exemplo de Maria, que, mais do que mãe, foi discípula fiel de seu Filho, Jesus Cristo”. Maria nos ensina que a verdadeira grandeza está em ouvir e praticar a Palavra de Deus, sendo mestres na oração e na vivência do Evangelho. Ela nos mostra que a evangelização começa em nossos corações, através de uma vida de oração e entrega a Deus”, adiciona o padre.
Expectativa
Para este ano, a expectativa da organização da festa é que entre 180 mil e 200 mil fiéis acompanhem a procissão. O vice-coordenador do Círio, Wagner Pena, 35, explica que a festividade deste ano vem com uma grande novidade. Nesta edição da romaria, a corda que puxa a Berlinda com a Imagem de Nossa Senhora será atrelada às estações, ao invés de ser em volta da multidão, como nos anos anteriores. Wagner, que é “filho de Icoaraci” e devoto de Nossa Senhora desde sempre, também resume essa devoção.
“Depois do Círio de Nazaré, quando a maioria das pessoas de Belém já pensam no Natal, em Icoaraci já pensamos no Círio de Nossa Senhora das Graças. Só depois que vamos pensar no Natal. As ruas ficam enfeitadas. Recebemos visitas em nosso distrito. Vem pessoas de todo lugar conhecer e apreciar o nosso Círio. No domingo, depois da procissão, sempre tem um almoço, com maniçoba e tudo que se tem direito no Círio”, conta Wagner, comentando a vivência dos devotos em Icoaraci.