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Centro Comercial: desordenamento coloca em risco 50 mil pessoas/dia

Desorganização de barracas e de fiação elétrica, piso dificultoso para o público, risco de incêndios em lojas e insegurança são alguns dos problemas estruturais nesse perímetro da cidade que se mostra abandonado pela Prefeitura de Belém

Da Redação

O belenense tem uma certeza: o Centro Comercial de Belém encontra-se totalmente desordenado, o que atinge  cerca de 50 mil  pessoas que circulam pelo local diariamente, entre comerciantes, comerciários, ambulantes e consumidores. Situações de risco são iminentes no local,  como evidenciado no incêndio, em sete lojas na rua 7 de Setembro com  a 13 de Maio, na madrugada da última terça-feira (22). Levantamento do Corpo de Bombeiros indica que somente este ano, até a terça-feira (22), foram 107 ocorrências do tipo no Centro Comercial. 

O questionamento que vem à tona neste momento da parte de quem conhece de perto o Comércio: se ocorrer um incêndio durante o horário de expediente, durante o dia, os bombeiros conseguiriam chegar até o local, dada a desorganização generalizada de barracas nas vias do local, já que tiveram essa dificuldade no evento da semana que termina? 

Os problemas na área envolvem quase tudo, desde a falta de ordenamento de barracas de ambulantes nas vias; piso e calçadas danificados e impróprios para o público, sobretudo, pessoas idosas e crianças;  fiação elétrica repleta de “gatos” (Iigações clandestinas) em postes; falta de maior vigilância contra assaltos até excesso de material armazenado indevidamente em lojas e falta de cuidados com o sistema elétrico nas lojas, com riscos de incêndio e que comprometem o funcionamento do Centro.

Falta organizar

Na área do Centro Comercial, de acordo com levantamento do setor do Comércio, circulam todos os dias cerca de 50 mil pessoas, e esse número varia de 80 mil a 100 mil pessoas em datas comemorativas, como Dia das Mães e Natal, por exemplo.

A assistente administrativa Sílvia Gomes avalia que “o Comércio está desorganizado, o trânsito precisa melhorar, as calçadas estão inviáveis para andar, todas quebradas, está faltando manutenção, organizar as barracas dos ambulantes, melhorar o piso, organizar a fiação elétrica”. Para ela, o Centro Comercial está “sucateado”.

Já a doutoranda em Farmacologia e Bioquímica Jamile Silva da Costa, 26 anos, considera que um grave problema no Comércio são as calçadas quebradas, implicando em falta de acessibilidade, e o piso inapropriado. “É difícil andar no Comércio”, completa.

“Túneis”

Na esquina da travessa Padre Eutíquio com a rua João Diogo, no entorno da Praça da Bandeira, as calçadas em frente a lojas encontram-se quase que cobertas por barracas de vendedores ambulantes, compondo uma espécie de “túneis’ no local, pelos quais circulam os consumidores.  

Na pista da rua 7 de setembro, entre calçadas nas quais é comum a presença de  manequins obstruindo a passagem das pessoas, são estacionadas motos e barracas  para a venda de artigos variados e refeições. No trecho da Padre Eutíquio, entre a João Alfredo e a rua 15 de Novembro, parte das calçadas virou suporte para a venda de produtos ao público, ou seja, as pessoas têm de transitar pela rua. Já na 15 de Novembro, as laterais da via são ocupadas por vendedores de frutas e confecções, por exemplo. 

Abandono 

O espaço central da rua João Alfredo foi ocupado por barracas de ambulantes para venda de produtos, como CDs, além de funcionar como um depósito de mercadorias a céu aberto e ainda como estacionamento de motos. 

Na João Alfredo perto da 7 de Setembro, atua a ambulante Lilian Souza há dez anos. “São vários os problemas para os ambulantes, aqui, principalmente, a gente é largada às traças, a João Alfredo está jogada às traças; aqui Prefeitura só aparece quando querem voto, e quando querem voto eles entram com um sorriso, mas quando a gente vai cobrar… ,  o nosso prefeito Edmilson (Edmilson Rodrigues) nos destratou muito, mandou até um segurança dele voar para cima da gente; então, quando você cobra, as autoridades não gostam”, enfatiza.

Lilian Souza informa que os ambulantes trabalham naquele local sem dispor de um banheiro e lamenta que pessoas com deficiência têm muita dificuldade para circular pela área, inclusive, com piso em blokret. Para buscar soluções para o Centro Comercial, ela defende a união de esforços entre a Prefeitura, os ambulantes  e todos os envolvidos.

Praticamente não há circulação nas ruas do local, por causa do desordenamento das barracas. O antigo espaço da Praça Barão do Guajará, ao lado da loja Paris N´America, foi substituído por um camelódromo, para desafogar a Santo Antônio, mas as novas gerações de ambulantes ocuparam os espaços desse via, como relata uma pessoa no perímetro sem se identificar.

Já na avenida Presidente Vargas, as pessoas circulam em zigue-zague entre tabuleiros e há “gatos” até pelo chão.  Em anos anteriores, na gestão do ex-prefeito Duciomar Costa, o excesso de barracas foi superado na Presidente Vargas, mas elas regressaram e a quantidade aumentou a olhos vistos. O inchaço de ambulantes e a desorganização do Comércio se intensificou a partir do final da gestão do ex-prefeito Hélio Gueiros, como atestam pessoas que conhecem de perto o Centro Comercial.

Situação caótica

Ex-presidente da Associação Comercial do Pará (ACP e atuando como presidente do Conselho Regional de Administração do Pará (CRA-PA),  o empresário do setor de Seguros Fábio Lúcio Costa ressalta que “infelizmente, os vários projetos de ordenamento do Centro não evoluem, importante deixar claro que o Centro Comercial agoniza com a desorganização”. Ele defende o diálogo entre as partes envolvidas nessa área de Belém. “O poder público, os empresários formais e os profissionais informais precisam, juntos, encontrar uma solução para salvar aquele espaço que é fundamental para a vida da cidade”.

Fábio Costa faz Mestrado Profissional em Economia Aplicada pela Universidade Federal do Pará (UFPA), e a dissertação dele enfoca o Centro Comercial de Belém. Ele pontua que “o caminho é um trabalho de ordenamento, com a participação de todos”, de vez que, com a desorganização, os valores patrimoniais, dos aluguéis sofrem alterações. “As seguradoras não querem mais fazer seguro contra incêndio naquela área, em função dos riscos iminentes”, enfatiza. Fábio ressalta a dificuldade de locomoção dos Bombeiros na área para atender a uma emergência.

Vilões 

Charles Pimentel, ex-presidente da Associação dos Ambulantes do Centro Comercial de Belém, atua na área há 33 anos. “O grande problema aqui no Centro Comercial de Belém é que tudo de ruim que acontece eles têm mania de dizer que o culpado é o ambulante, e isso não é verdade; nós somos geradores de emprego, tem muita gente que depende da gente, como o vendedor de café, de almoço, o carregador”, diz.

Como argumenta Charles, alguns lojistas, ao comprar ou alugar uma loja,  acabam não cuidando da manutenção da parte elétrica, e a fiação é antiga, sem aguentar a estrutura atual de aparelhos elétricos. O Corpo de Bombeiros, como pontua ele, deveria exigir do Poder Público que em cada esquina do Centro Comercial dois hidrantes com mangueira e fazer treinamento contra incêndios para todos que atuam na área. Sobre a vistoria dos Bombeiros no Centro, ele destaca: “Eu trabalho aqui há 33 anos e nunca vi loja nenhuma ser fiscalizada; a gente conta no dedo as lojas que têm hidrante e mangueira de incêndio”.  

Nessa semana, ainda, o Corpo de Bombeiros informou que a fiscalização nas lojas é feita por amostragem diariamente e que a manutenção das instalações elétricas  nos estabelecimentos é dos responsáveis pelo uso.

Para os ambulantes, há necessidade de maior limpeza na área, de ordenamento das barracas, instalação de equipamentos novos para os  ambulantes cadastrados e novos mediante levantamento pela Prefeitura e necessidade de um ponto de apoio para armazenamento de mercadorias e de segurança na área.

Prefeitura 

A Prefeitura de Belém informa que há diversas ações no sentido de revitalizar o Centro Histórico da capital, como o Boulevard da Gastronomia, revitalização de todo o Complexo do Ver-o-Peso e também há ações previstas no Centro Comercial,  por meio do projeto Via dos Mercadores, em parceria com o Governo Federal. “Na primeira etapa deste projeto será revitalizado o eixo na avenida João Alfredo e rua Santo Antônio”, como comunica a Prefeitura.

Como informa a Secretaria Municipal de Economia (Secon), estão cadastrados no órgão aproximadamente 1.800 permissionários que atuam nas ruas do Centro Comercial de Belém. Entretanto, existem ainda os auxiliares desses trabalhadores que também exercem atividades na área. 

A Secon informa que equipes de fiscalização atuam no ordenamento do Centro Comercial de segunda-feira a sábado. “As ações constam de verificação do cumprimento do Código de Posturas do Município de Belém, a fim de conciliar as atividades do comércio informal com as demais atividades do local”, como repassa a Secon.

A Secretaria externa que “possui constantes diálogos com os representantes da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), bem como as associações de ambulantes que atuam no Centro Comercial de Belém, no sentido de buscar melhorias para ambas categorias, na garantia da preservação do Centro Histórico da nossa cidade e no ordenamento da atividade econômica”.

 

Belém