Câncer: Região Norte poderá ter 25 mil novos casos em 2023, alerta infectologista
Regiões Norte e Nordeste deverão responder por 26% dos 700 mil novos casos no Brasil. Exame e diagnóstico cedo são principais modos de prevenção à doença
Ao participar da programação de encerramento do 4º Fórum Todos Juntos contra o Câncer Norte e Nordeste, promovido pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), no Hotel Princesa Louçã, nesta quarta-feira (30), a médica sanitarista com mestrado em Saúde Pública e CEO da entidade, Catherine Moura, enfatizou a necessidade de o Poder Público e a sociedade civil unirem esforços para a prevenção ao câncer, pontuando que, de acordo com levantamento do Instituto Nacional do Cãncer (INCA), em 2023-2025 a previsão é de 704 mil novos casos no país, sendo 26% deles nas regiões Norte e Nordeste -- 25 mil novos casos na Região Norte. Como divulgou o INCA, o Pará deverá responder por 11.560 novos casos no ano que vem. Buscar informações em fontes oficiais e fazer exames para obter diagnóstico são ações preventivas esssenciais para se evitar a enfermidade.
As estimativas do INCA para novos casos em 2023/2025 abrangem: nas regiões Norte e Nordeste, o câncer de próstata (Norte: 28,40/100 mil; Nordeste: 73,28/100 mil) é o mais incidente, seguido do câncer de mama feminina (Norte: 24,99/100 mil; Nordeste: 52,20/100 mil) e câncer do colo do útero (Norte: 20,48/100 mil; Nordeste: 17,59/100 mil).
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O Fórum resulta de um trabalho do Movimento Todos Juntos contra o Câncer, criado em 2014, e está na 4ª edição Norte e Nordeste. No evento em Belém, foram debatidos aspectos da atenção oncológica, o tratamento do câncer nas duas regiões mediante debate com especialistas, pacientes, estudantes, Imprensa, gestores públicos, parlamentares e especialistas no Direito Público.
As estatísticas são alarmantes, como pontua a médica, que ultrapassagem 700 mil novos casos nos diferentes tipos de câncer para 2023, segundo dados oficiais do INCA. "No recorte regional, na Região Norte a gente está falando 4% desse volume total e a Região Nordeste, 22%, ou seja, somando Norte e Nordeste desse número total de casos. Isso dá um número de quase 181 mil novos casos nas duas regiões. Então, na Região Norte, 25 mil novos casos e, na Região Nordeste, quase 160 mil novos casos de câncer para o ano de 2023", destacou Catherine Moura.
Outro dado importante, como frisou a médica, é que ao se observar a estatística de 2022 para 2023 verifica-se que houve um incremento. "Isso quer dizer que não só a estatística do Inca estava bem próxima da realidade como a expectativa desses estudos epidemiológicos é de que aumente o número de novos casos", ressaltou. A expecativa era de 625 mil casos novos em 2022 e já saiu a previsão do INCA para 2023 com a correção, indicando o aumento para 704 mil novos casos. A médica salientou que mais de 700 mil novos casos é superior a população de muitos estados.
A concentração de 26% dos novos casos previstos no Norte e Nordeste do Brasil está relacionada à distribuição da população, com a Região Nordeste tendo uma alta densidade demográfica em algumas capitais; e ainda faixa etária, gênero e os tipos de câncer. Catherine Moura destacou que dentre os novos casos de câncer estimados para 2023 na Região Norte se tem uma prevalência entre as mulheres, por ordem, o câncer de mama, câncer de cólo de útero e o colorretal. Nos homens, a expectativa é para o câncer de próstata, de estômago e pulmão/vias aéreas. Entre o conjunto de tipos de câncer, figuram os evitáveis, por meio da promoção à saúde e detecção precoce (exames de rotina).
O Observatório de Oncologia, com sede em São Paulo, divulgou que, a partir de informações do Registro Hospitalar de Câncer (RHC) do INCA, entre 2015 e 2020, cerca de 42% dos procedimentos de pacientes diagnosticadas com câncer de mama ocorreram em estadiamentos avançados (estadiamentos 3 e 4). Os estados com piores desfechos de estadiamento ao diagnóstico foram: Acre com 56% de diagnósticos tardios, Pará e Ceará com 55% de diagnósticos tardios.
Uma fração da população brasileira não consegue fazer esses exames de forma regular ou demora muito para o agendamento, e isso atrasa e prejudica a detecção do câncer na rede pública. Outra fração da população não entende a importância desses exames e, muitas vezes, está com um estágio adiantado da doença. Quanto mais cedo o diagnóstico, mais chance de ter melhor qualidade de vida e de cura, fora o custo para o sistema de saúde. A distribuição das estimativas de novos casos na Região Nordeste: mulheres - mama, cólo de útero e da tireóide; homens - próstata, pulmão e estômago.
Sob risco
"O Brasil já tinha avançado bastante no controle desses três tipos de câncer, o de mama, o de cólo de útero e o de pulmão, mas a gente está regredindo. Os números estão aumentando, por vários fatores mas também os jovens e os adultos também estão aderindo, por exemplo, ao tabagismo, utilizando esses cigarros eletrônicos, os narguilês, e todo tipo de fumaça inalatória causa câncer", observou. O câncer é uma doença crônica, como outras, mas é uma mortalidade com maior mortalidade e se apresenta como a segunda principal causa de morte no Brasil, atualmente, após as doenças cardiovasculares. "Estamos caminhando para uma inversão. As estatísticas mostram que nas próximas duas décadas, se a gente não faz nada no ponto de vista de saúde pública, a gente vai ter aí uma inversão, pela primeira vez, no Brasil, o câncer vai matar mais do que as doenças cardiovasculares", assinalou.
Para se prevenir contra o câncer, a pessoa precisa buscar orientação com o médico, equipe de saúde, mas desde cedo pode-se cuidar da saúde, controlar os fatores de risco. Os cinco principais são: alimentação, sedentarismo (obesidade), alcoolismo, tabagismo e a exposição a poluentes ambientais. Deve-se ter foco na alimentação saudável, nada de alimento processado. A gente precisa comer direto da terra, e não abrir pacote", salientou Catherine Moura. Precisa-se controlar o sobrepeso, mantendo-se ativos fisicamente como atividades regulares. Não fumar, não consumir em excesso bebida alcoólica, evitar bebidas açucaradas e reduzir a exposição em áreas de poluição ambiental, como industriais e outros - ter um estilo mais saudável, como prevenção ao câncer e outras doenças.
Os exames são encaminhados na rede pública de saúde, envolvendo avaliação médica. No caso do tratamento, o Sistema Único de Saúde (SUS) presta atenção integral ao paciente com câncer. No entanto, o acesso aos serviços anda esbarram em dificuldades, como se verifica na Região Norte com pacientes morando em áreas remotas e ocorre concentração de unidades de saúde na capital. Pesquisa da Abrale indicou o problema da falta de informação que leva as pessoas a não percebem sinais, sintomas de alerta da doença, e quando percebem demoram meses para buscar atendimento. Outro ponto percebido pela Associação é que para essa pessoa conseguir fazer um diagnóstico demora muito tempo, isso no Brasil todo, e ainda mais no Norte, como pontuou a médica. Há também demora para exames especializados e também para o acesso ao tratamento.
Por esse contexto, a Abrale e outras entidades oferecem ao apoio aos pacientes, inclusive, o Movimento Todos Juntos Contra o Câncer. Catherine Moura ressaltou que a busca por informações sobre o câncer deve ser feitas em fontes oficiais - Ministério da Saúde, Organiação Mundial da Saúde (OMS), INCA, e, em caso de dúvidas, com o Todos Juntos contra o Câncer (www.tjcc.com.br). O 4º Fórum Todos Juntos contra o Câncer Norte e Nordeste terá um documento oficial a ser divulgado em janeiro de 2023 e será encaminhado aos governos estaduais e municipais.
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