Campanha da Fraternidade: ‘A fome é um grave problema moral’, enfatiza bispo dom Antônio Ribeiro

A Campanha da Fraternidade deste ano aborda a problemática da fome, que assola mais de 30 mil pessoas somente no Brasil

Eduardo Rocha
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A Arquidiocese de Belém realiza neste sábado (25) a abertura da campanha Campanha da Fraternidade 2023 (CF2023), que foi lançada nacionalmente na última quarta-feira (22). O tema deste ano aborda a problemática da fome, que assola mais de 30 mil pessoas somente no Brasil, segundo a Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). Sobre o assunto, dom Antônio de Assis Ribeiro bispo auxiliar da Arquidiocese de Belém e secretário da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Regional Norte II), concedeu entrevista ao Grupo Liberal.

De que forma o tema será trabalhado ao longo da CF 2023 nas paróquias da Arquidiocese de Belém?

O tema da CF, “Fraternidade e fome” nos chama a atenção para a delicada situação em que o país está vivendo. Com a pandemia da Covid-19, a economia entrou em crise, o desemprego cresceu, muitas pessoas que viviam de aluguel foram despejadas, aumentando o número de moradores de rua e as ocupações desordenadas. O lema, “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16) é uma ordem de Jesus aos seus discípulos para que não fossem indiferentes diante da fome do povo. Ainda Jesus nos lança a mesma ordem. Os cristãos não podem de forma alguma serem insensíveis diante de 30 milhões de brasileiros que sofrem com o problema da fome.

Quais ações serão realizadas?

Quando falamos de Arquidiocese, devemos entender uma rede de paróquias, áreas missionárias, comunidades, pastorais, grupos, movimentos, instituições católicas. Sendo a fome um problema transversal, é objeto de preocupação de todas as pastorais, como por exemplo, a da Criança, da Pessoa Idosa e  a Familiar. Todavia, com relação à fome, a Cáritas  Arquidiocesana  mantém a Campanha Belém Casa do Pão, atendendo as famílias em situação de vulnerabilidade social cadastradas para receber alimentos na região metropolitana ( ( 21.755 famílias atendidas no Natal 2022); implanta hortas comunitárias; capacita famílias assistidas para desenvolver habilidades e obter renda e promove as jornadas sociais e a Jornada Mundial dos Pobres. As pastorais atendem crianças, adolescentes, jovens, adultos, encarcerados, doentes, idosos, moradores de rua, estrangeiros, migrantes, etc.

Por que existe fome na sociedade?

A fome enquanto necessidade de comida é uma questão humana, existencial. Mas a fome enquanto a falta de alimento é um problema ético e social. A fome tem muitas causas, dentre elas, o egoísmo que gera o acúmulo de riquezas nas mãos de poucos; a fome é fruto do abismo entre ricos e pobres e consequência de uma economia produtora de alimentos para a exportação, mas sem critérios éticos. O Brasil é um dos maiores produtores de alimento do mundo e, ao mesmo tempo contraditoriamente, aparece no mapa mundial da fome. Isso é vergonhoso! Significa que a fome é um grave problema moral. Está em jogo a qualidade da política que não leva em conta a totalidade das necessidades humanas dos brasileiros. Um país que zela pela qualidade de vida dos seus filhos, alimenta primeiramente os da própria casa. Outra causa da fome é a ausência da cultura da solidariedade e da partilha, bem como a ausência de uma política agrária capaz de favorecer a agricultura familiar.

 

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