No Pará, houve um aumento de mais de 200% nas infrações por descarga livre - quando a motocicleta funciona apenas por um cano e não tem nenhum abafador ou silenciador. De janeiro a dezembro de 2023, foram registradas 155 infrações por conduzir veículo com descarga livre, informou o Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran). Em 2024, foram 469 infrações registradas. Um aumento de 202%, portanto. Ainda segundo o Detran, os dados de 2025 ainda estão sendo contabilizados.
Quem convive com o barulho causado por esse tipo de moto relata o quanto isso afeta a qualidade de vida das pessoas. A administradora Jéssica Fróes, 33 anos, mora no bairro do Comércio, em Belém. “Eu sou prejudicada com o barulho das motos desde a minha gestação. Eu tive uma certa dificuldade na gestação: desenvolvi hipotireoidismo, pressão alta. E, à noite, quando as motos passavam, o bebê ficava muito agitado. E até hoje ele é agitado por conta disso”, contou.
“Meu filho (Gael) está com um ano de idade. E, quando essas motos passam, geralmente ele já está dormindo, porque é aquele horário de 2h30, 3 horas da manhã. Então ele acorda se batendo mesmo. Ele acorda chorando e aos gritos. Então a gente é bem prejudicada por conta da saúde dele”, contou. “A gente, enquanto adulto, tenta ter esse controle. Mas, com criança se torna um pouco mais difícil”, afirmou.
Na casa de Jéssica há uma calopsita. “Nós tínhamos dois. No ano passado, a outra, a Joanes, numa dessas passadas das motos, se bateu todinha e acabou falecendo na mesma hora. A gente tem outro (o Elvis) que também está sendo prejudicado quando passam as motos. Ele fica se batendo também, fica agitado por um bom tempo e, para acalmar ele, é bem difícil”, contou.
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"Para eles, é uma diversão. Mas somos prejudicados”, diz Jéssica
Jéssica disse que é mais difícil fiscalizar os condutores dessas motos porque eles se dispersam rápido. “Principalmente aqui no bairro do Comércio a gente tem bastante travessas que dão acesso ao Ver-o-Peso, à Cidade Velha", disse. Ela faz um apelo às autoridades competentes: "Enquanto moradora do bairro do Comércio, eu gostaria que se deixasse uma fiscalização ali na (avenida) Presidente Vargas. A principal rua de acesso eu creio que seja a Riachuelo. Então, deixe (a fiscalização) tanto no início da Presidente Vargas com a Riachuelo quanto ali perto da Praça da Bandeira também, porque é a descida deles (dos condutores dessas motos barulhentas). E no Portal da Amazônia, que é onde eles se concentram”.
Jéssica acrescentou: “A gente entende que, para eles, que são jovens, é uma diversão, mas somos muito prejudicados por conta disso. Nós trabalhamos. Isso não ocorre só aos fins de semana - ocorre durante a semana. Todo mundo aqui trabalha. E, além disso, a gente tem uma concentração aqui no bairro de muito idosos. Então, eles também são prejudicados por conta disso”, afirmou.
Também residindo no bairro do Comércio, dona Ruth Helena tem 67 anos e vende refeição. Ela também contou o quanto o barulho prejudica a sua qualidade de vida. “Incomoda, sabe? Às vezes, a gente está dormindo e se assusta com o barulho das motos. É um barulho imenso mesmo”, contou. “Às vezes eu acordo apavorada. Assustada”, afirmou. “E não é só uma não. São muitas. Parece que estão atirando”, afirmou ela, fazendo, com a boca, o som de disparos de arma de fogo. “A gente acorda e não consegue mais dormir. Acho que deveria ter mais fiscalização para parar com o barulho dessas motos”, completou.