Aumento de intensidade das chuvas, falta de ações e planejamento aumentam alagamentos em Belém
Chuvas aumentaram de intensidade em dezembro trazendo também aumento dos alagamentos
Todos os anos a chegada do período das chuvas traz novamente a vida da idosa Raimunda Mota, de 73 anos, a desilusão e a tristeza por morar nas proximidades do canal da Pirajá, no bairro da Pedreira. A senhora que reside há 48 anos na passagem E viu em dois dias desta semana a água invadir sua casa com os fortes temporais. Na última quarta-feira (11/12), a água chegou até o joelho da idosa dentro de casa.
“Desde quando vim para cá é esse sacrifício. Quando vem chuva, eu já fico chorando às vezes, as minhas meninas vêm e dizem que é para não chorar. Eu vou me acalmando devagar”, relata a idosa muito triste. Como ela, milhares de pessoas sofrem com as inundações em Belém nas proximidades dos canais. Na última quarta-feira, o túnel do entroncamento alagou e deixou passageiros de um ônibus presos. Eles precisaram ser resgatados pelo Corpo de Bombeiros. Nas imediações da rodovia BR-316, onde ocorrem as obras do BRT Metropolitano, um rio se formou parando o trânsito.
O professor Valério Vinagre, docente no Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia (Unama), ressalta que são necessárias ações constantes dos governos municipal e estadual para minimizar os alagamentos. “É necessário que os governos estadual e municipal façam limpeza e manutenção dos sistemas de drenagem, bem como planejar e gerenciar os componentes desses sistemas, como canais, comportas, unidades de armazenamento e microdrenagem. Também é necessário manter um dia de monitoramento, que inclua informações de nível de maré, intensidade de precipitação e níveis dos principais canais”, atesta.
Vinagre aponta que a dragagem deve ser uma atividade permanente, combatendo o assoreamento e prevenindo os transbordos e alagamentos. Uma ação que a idosa Raimunda Mota não tem visto no canal da Pirajá. “É difícil eles limparem o canal”, confirma.
Na análise do pesquisador de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), Juliano Ximenes, alguns fatores como o relevo natural de Belém próximo do nível do mar, marés que atingem 3 metros, alto índice pluviométrico agravados por ações humanas como construções que impermeabilizam o solo pioram a situação. Ele ressalta a importância de repensar os projetos e modelos para a capital.
Um exemplo são novas concepções de projetos de macrodrenagem que tenham vegetação e pedra, misturando pequenas praças e parques interligados espalhados pela cidade para aliviar a carga pluviométrica em direção aos canais.
“Além desses aspectos, infelizmente muitos dos nossos projetos de macrodrenagem são muito conservadores, baseados em grandes estruturas de concreto e com muito aterro, o que impermeabiliza margens de rios/canais e não possui a flexibilidade necessária à nossa realidade de chuvas, marés e impermeabilização. Essas estruturas de drenagem em concreto, tradicionais, muitas vezes foram dimensionadas para chuvas de 30, 40 anos atrás, e hoje elas são mais intensas e frequentes. Quanto mais você impermeabiliza uma bacia hidrográfica urbana, como a área da Estrada Nova, do Tucunduba ou do Una, mais água você vai ter que administrar nos canais de concreto”, explica.
Por meio de nota, o Governo do Estado do Pará respondeu sobre as ações durante o alagamento na BR-316 que agentes de fiscalização do Departamento de Trânsito do Estado (Detran) estiveram na rodovia monitorando o trânsito e realizando contenções e desvios de fluxo nas áreas mais alagadas. O Núcleo de Gerenciamento de Transporte Metropolitano, responsável pela obra do BRT, informou que as equipes estão trabalhando nos pontos identificados e em frentes simultâneas com limpeza e desobstrução para solucionar os alagamentos na BR-316.
A Prefeitura Municipal de Belém (PMB) não respondeu a solicitação de entrevista da reportagem e nem enviou nota sobre o assunto.
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