Aterro de Marituba: quatro dias antes de fechamento, destino do lixo preocupa população
O aterro sanitário recebe resíduos sólidos domiciliares de Belém, Ananindeua e Marituba, que juntos somam cerca de 40 mil toneladas por mês
O aterro sanitário recebe resíduos sólidos domiciliares de Belém, Ananindeua e Marituba, que juntos somam cerca de 40 mil toneladas por mês
Na próxima quinta-feira (31/08) está previsto o encerramento das atividades no Aterro Sanitário de Marituba, que deixará de receber os resíduos sólidos do próprio município, Ananindeua e Belém. Operado pela Guamá Tratamento de Resíduos, ele está em funcionamento desde 2015, e recolhe cerca de 40 mil toneladas de detritos por mês. Até a sexta-feira (25), ainda não havia resposta das três prefeituras sobre o local onde seria destinado o lixo domiciliar a partir de setembro ou qual seria a decisão sobre o prorrogamento do funcionamento do aterro. Moradores de Belém e Ananindeua estão preocupados com a destinação final do lixo. Já os moradores de Marituba estão contando as horas para o aterro sanitário parar de funcionar no município.
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“Eu fico muito satisfeita com o fechamento, até porque quando o odor vem de lá é horrível e não conseguimos nem respirar dentro de casa. A gente espera que a nossa condição de vida básica melhore, se Deus quiser será assim, esse é o propósito. Desde que ele chegou, afetou muito a gente que vive aqui perto, é horrível. Quem vive aqui próximo ao aterro sente muito mais esses impactos. Daqui para frente eu espero que seja tudo melhor, porque já basta a gente tá sofrendo com esse mal”, diz Marcileide.
Marcileide relata situações vividas pela família e explica o motivo de acreditar que alguns problemas de saúde estão relacionados ao aterro sanitário. “Eu me sinto muito mal e preocupada, até mesmo porque o meu esposo também adoeceu e pegou pneumonia, é foi muito difícil a recuperação, principalmente pelo mau odor que dificulta a nossa respiração. Não somente meu marido, mas minha filha, meu outro filho pequeno e até quando eu fiquei doente de pneumonia também”, fala.
Ao lado da filha Milena Silva e Souza, de 15 anos, Marcileide conta que mesmo estando feliz com a possibilidade do fechamento do local, também lamenta que outras pessoas terão que conviver com o aterro sanitário, caso ele seja direcionado para outro município. “Espero que ele não vá afetar mais pessoas para onde quer que eles levem o lixo, porque a gente sabe como isso foi ruim prá nós aqui em Marituba”, afirma.
Milena também compartilha do sentimento da mãe sobre a retirada do aterro sanitário do local e diz se entristecer pelas pessoas que terão de lidar com os problemas que elas acreditam surgir devido ao convívio perto do lixo. “Eu suponho que a nossa condição vai melhorar, mas também acho que para onde esse aterro vá muitas pessoas também vão piorar. Assim como nós chegamos a piora, para onde ele vá, as pessoas também vão ter”, supõe.
Conforme Jucélia Alves, de 54 anos, outra moradora que vive há 15 anos na comunidade perto do aterro sanitário, ela acompanha desde o início as mudanças na vida da população, que precisou se adaptar à nova realidade que surgiu com a chegada do aterro sanitário. A dona de casa diz que, mesmo com o sentimento de alívio entre os moradores após o anúncio do fechamento do aterro, todos temem por não saber se ainda terão que continuar ali.
“A gente fica feliz por acabar com isso (aterro sanitário), mas ainda assim os problemas não vão acabar por que esse fedor vai demorar anos para ter fim. O que a gente quer é um pedaço de chão, para tirar a gente daqui. Alguém tem que tomar providências, indenizar a gente que quer sair desse lugar. Isso aqui já foi bom, mas agora não está sendo mais. Antes desse ‘lixão’ chegar aqui, isso já foi bom, mas não presta mais. A gente tá pedindo socorro, não aguentamos mais”, declara Jucélia Alves.
Por não ter condições financeiras para sair do local, dona Jucélia diz que só poderá fazer isso se a decisão partir do órgão público, já que eles podem dar a indenização. “A gente quer que eles nos indenizem, por causa dos danos que já tivemos aqui. Tudo que eu gastei, rios de dinheiro comprando remédio, poderia ser usado em outro lugar. Eu peço que alguém venha nos socorrer, nos tirar definitivamente desse lugar. Não aguento mais”, manifesta a dona de casa.
Como esclarecimento aos relatos dos moradores de Marituba, o Aterro Sanitário de Marituba afirma que segue padrões internacionais no tratamento de seus resíduos e cumpre a legislação ambiental, que assegura o uso adequado, controle e monitoramento dos recursos naturais, tudo devidamente fiscalizado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semas). “O aterro sanitário tem a função de isolar os resíduos sólidos despejados de qualquer contato com o meio exterior ou vida humana – isso tudo para garantir a disposição e tratamento adequado, assim, evitando impactos severos ao meio ambiente e a disseminação de doenças”, diz a nota.
Sobre o odor, a Guamá Tratamento de Resíduos declara que as frentes de disposição dos resíduos são as menores possíveis e são cobertas rapidamente. Também informam que há desodorizadores pulverizados no empreendimento e que as lagoas de armazenamento de chorume são cobertas com mantas impermeabilizadas, assim como o aterro. “O sistema de queima do biogás e a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) são duas tecnologias que ajudam a reduzir o odor, pois auxiliam na captura e uso dos gases, evitando que sejam liberados no ar”, comunica.
Além de todo o processo para evitar danos ao meio ambiente da área do entorno, a empresa declara que desenvolve projetos sociais ligados à educação ambiental e geração de renda, por meio de convênios com a comunidade e cooperativas de reciclagem de resíduos. “O diálogo com a comunidade também é constante. A empresa divulga periodicamente dados sobre suas operações e realiza reuniões com a comunidade em visitas abertas no Aterro de Marituba para saber como a população avalia a empresa e como pode aprimorar processos e mitigar impactos às comunidades”, finaliza a nota.
Os demais moradores de Belém e Ananindeua continuam preocupados com o destino dado ao lixo produzido nas cidades. O técnico em manutenção de micro, Kleber Castanheiro Viana, de 44 anos, mora em Ananindeua e diz saber as consequências de ficar com o lixo espalhado pelas ruas. “Eu morei próximo ao lixão do Aurá e lembro bem como o odor incomodava o dia todo. Se parar realmente as atividades no aterro de Marituba, tenho certeza que o lixo vai ficar espalhado pelos bairros. A gente fica apreensivo sobre isso, já que afeta centenas de pessoas”, expõe.
O técnico ainda diz que deveriam ocorrer ações para oferecer à população outras opções de descarte, como a coleta seletiva, que é mais consciente. “Antes de pensarem em fechar o aterro, que no meu ver já não deveria funcionar há muito tempo, o poder público tinha que criar meios para o descarte do lixo doméstico. Isso iria facilitar para que não tivesse esse tanto de lixo na rua também. Mas o interesse econômico estará sempre acima do social”, diz descontente.
Valter Barros Peres Júnior, morador do bairro do Curió Utinga, em Belém, diz que assim que soube do fim do aterro ficou assustado. "Eu fico preocupado. Não sabemos onde colocar o lixo, onde vai ficar a partir de agora, o que que vai acontecer, como vai ficar o lixo que tá em casa. Eu nem tenho ideia do que fazer com o que acumular em casa, já que não pode jogar na rua que podem denunciar, pode ser preso ainda. Vai gerar muito lixo na cidade e confusão também", fala.
Seu Augusto Silva, de 54 anos, que presta serviços para uma lavanderia, diz que está angustiado por imaginar os problemas de saúde que vão surgir devido ao acúmulo de lixo, se o aterro de Marituba for fechado. "Vai trazer muita poluição. Imagine só o tanto de gente que vai adoecer. Eu não acho que deveria parar as atividades. Eles tem que encontrar logo um local para fazer outro aterro. São toneladas de lixo poluído que nem deveria tá aqui tão perto da cidade. A gente fica com temor do que vai ser da gente aqui em Belém. Nem sei onde ia poder colocar e nem onde jogar o lixo caseiro”, aponta o Augusto.
Em nota, a Prefeitura de Belém, por meio da Procuradoria-Geral do Município (PGM), esclarece estar tomando todas as medidas para seguir com o processo de escolha e instalação de uma Parceria Público-Privada (PPP) responsável pela criação do novo sistema de limpeza urbana, coleta, destinação, tratamento e gestão dos resíduos sólidos da capital. Esse processo licitatório para a instalação da PPP ocorre pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan).
“A partir da licitação, o parceiro privado terá a responsabilidade de instalar uma nova Central de Tratamento de Resíduos Sólidos, permitindo a paralisação da atual instalada em Marituba. Na nova central deverão ser contempladas diversas atividades operacionais como coleta, transbordo, transporte, triagem para fins de reutilização ou reciclagem, tratamento, compostagem e destinação final dos resíduos”, diz o comunicado.
A Sesan ainda ressalta que, para a realização do processo licitatório público-privado, foi produzido um estudo sobre o sistema de limpeza urbana de manejo de resíduos sólidos para o território de Belém, fruto de mais de dois anos de análises técnicas. “Os estudos foram fundamentais para viabilizar o cumprimento de um acordo judicial firmado pelos Municípios de Belém, Ananindeua e Marituba com o Estado do Pará”, diz a nota.
A Redação Integrada de O Liberal solicitou e aguarda esclarecimentos das prefeituras de Ananindeua e Marituba.