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Apraxia da fala: entenda o distúrbio ainda pouco conhecido que dificulta a fala das crianças

O Dia de Conscientização da Apraxia da Fala na Infância é comemorado nesta terça, 14. O transtorno tem semana de atenção, por Lei, no Pará

Camila Guimarães

O atraso na fala e a dificuldade na pronúncia e expressão das ideias são problemas no desenvolvimento infantil que preocupam pais e familiares. Esses sinais podem apontar para um distúrbio ainda pouco conhecido e de diagnóstico sutil: a Apraxia da Fala na Infância (AFI). Nesta terça,14, é comemorado o dia de conscientização sobre o assunto. No Pará, o transtorno ganhou uma semana inteira de atenção há quase um ano, por meio da Lei 9.993, de 10 de julho de 2023, com o objetivo de intensificar ações de conscientização para o problema.

O que é?

A apraxia da fala na infância é um distúrbio neurológico-motor no qual a criança não consegue articular os movimentos da mandíbula, dos lábios, da língua e de outros articuladores, de acordo com o que ela pensa em dizer, comprometendo, assim, a comunicação.

"É como se os movimentos para produzir a fala não estivessem conectados. O som das palavras, das vogais, sai errado e distorcido, porque a criança não consegue planejar o movimento desses articuladores", detalha a fonoaudióloga, especialista em AFI, Lia Mendes.

Por ser um diagnóstico novo no Brasil, ainda não existem estatísticas da doença no país, conforme explica a Associação Brasileira de Apraxia da Fala na Infância (Abrapraxia), porém, a  American Speech-Language-Hearing Association (Asha), em 2015, havia calculado uma incidência de uma ou duas crianças a cada mil.

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Como é o diagnóstico?

A incipiência do assunto no país também afeta o diagnóstico. A fonoaudióloga Lia Mendes explica que ainda são poucos os especialistas qualificados para identificar a AFI, o que atrasa os resultados e a evolução do paciente.

Foi o que aconteceu com Carlos Eduardo, de 7 anos de idade, filho da funcionária pública Ana Carolina Vilhena Gonçalves, de 42 anos. Ela conta que o filho ainda não falava com um ano e meio de idade – o que fez a família buscar ajuda médica. Porém, ele recebeu uma série de diagnósticos errados e fez vários tratamentos infrutíferos até chegar ao diagnóstico de AFI, aos quatro anos de idade.

"Eu cheguei a ir para São Paulo e o consultei com um neuropediatra. Foi quando conseguimos o diagnóstico dele. Em pouco tempo, ele já teve um avanço de 70% com o tratamento correto", comenta Ana Carolina, que diz que, hoje em dia, o filho já fala, vai à escola e consegue socializar.

Como é o tratamento?

Lia Mendes explica que o tratamento de AFI é personalizado, ou seja, cada paciente requer um caminho específico. De um modo geral, o objetivo do processo será a aprendizagem motora. “Eu tenho que entender a dificuldade da criança e fazer um tratamento trabalhando a parte visual, auditiva e por meio de pistas. Se a criança tem dificuldade de falar 'pato', por exemplo, a gente tem que mostrar como é a boca do P, do A, do T. A gente usa várias pistas e várias repetições. Quanto mais repetir, mais ela vai conseguir falar”.

A AFI não tem cura, mas, com o tratamento correto, a criança pode evoluir e desenvolver a fala.

Parâmetros importantes

De acordo com a fonoaudióloga Lia Mendes, toda criança tem até os cinco anos de idade para falar todos os fonemas da língua e desenvolver fala e linguagem.

“Se, com um ano, ela não falar 20 palavras, tem algo errado. Se, com um ano e meio ou dois, não falar 200 palavras, tem algo errado”, alerta.

Diante desses cenários, é necessário consultar um fonoaudiólogo especialista em AFI para investigar a situação. “A dica é não esperar ‘mais um pouco’, mas investigar logo a causa do atraso. No caso da apraxia, a criança nasce com essa dificuldade. Se você não começar o tratamento, fica mais difícil, depois, intervir. Mas, com a abordagem correta, há evolução”, afirma a fonoaudióloga.

Belém