Apagão nacional evidencia dependência tecnológica de usuários paraenses
Uso do celular para serviços básicos diários foi exposto de maneira severa
O apagão que deixou quase todo o Brasil sem energia elétrica e rede de internet na última terça-feira (15/08) acendeu um alerta para a questão da dependência tecnológica. Em Belém, por mais de seis horas, várias pessoas ficaram aflitas diante do impedimento do uso do celular para serviços que já se tornaram básicos e são realizados diariamente, seja para lazer ou mesmo para o trabalho.
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No dia do apagão nacional, a população da capital paraense ficou sem vários serviços básicos, como abastecimento de água e sinal para ligação pelo celular. Mas o que realmente parece ter afetado de maneira exagerada foi a falta de conectividade via internet. Para Walter Macedo, de 49 anos, que trabalha como motorista por aplicativo, o dia histórico serviu para mostrar como ele e outros trabalhadores se tornaram dependentes da tecnologia.
“Ninguém conseguiu trabalhar nesse dia. Como tenho formação na área de tecnologia, já tinha percebido que estamos sujeitos a internet e que cada vez mais isso piora. A energia é essencial para tudo, mas sem o celular e os aplicativos, um grande percentual de pessoas não consegue trabalhar. Somos dependentes da internet, do aparelho e também do funcionamento do app e justamente essas três coisas não funcionaram. Então, para mim, e acredito que para outras pessoas também, é praticamente um dia inteiro perdido”, diz.
De acordo com Walter, as atividades que antes poderiam ser feitas sem o uso de aparelhos tecnológicos, passaram a ter a necessidade de serem realizadas com o auxílio da tecnologia, principalmente a internet.
“Algumas funções básicas, que nós fazíamos antes, já não conseguimos fazer. Um exemplo é escrever. As pessoas não usam mais canetas e quando eu peço para alguém escrever algo, há uma dificuldade já que pelo celular é só falar que ele mesmo digita. Muitas funções de serviços, até as mais simples, hoje só podem ser exercidas se a pessoa tiver conectada com a outra. É uma bola de neve que vai ser formando, tanto social quanto, no meu caso, do app”, analisa.
Atividades interrompidas
Paula Lopes, de 34 anos, é técnica de Enfermagem, mas também trabalha como designer de unhas. Assumidamente viciada em internet, ela afirma que seu trabalho foi quase totalmente comprometido pelo apagão.
“Eu utilizo muito a internet. O apagão afetou demais as pessoas e, no meu caso, que trabalho com a internet e divulgo meus trabalhos pelas redes sociais, senti que fui muito prejudicada. Eu sou manicure e preciso estar em contato com minhas clientes. Além disso, o fato de não conseguir abrir aplicativos de banco ou usar aplicativos de carros de corrida, tudo isso me deixou parada. Eu não consegui usar nada e não fiz nada, já me considero viciada. Ficar sem internet no celular me afeta demais”, conta.
Alerta à dependência
A dependência tecnológica se dá quando não é possível controlar a necessidade de utilizar smartphones, internet ou jogos, como ocorre em um vício. Os riscos e prejuízos são grandes, no entanto, o diagnóstico é difícil de realizar, já que as tecnologias estão inseridas no cotidiano e nas atividades realizadas, tornando difícil de prever quando o uso está excessivo. Conforme a Psicóloga Roberta Rios, as pessoas passaram a ver as tecnologias como um tipo de ‘extensão’ do próprio corpo.
“Hoje, sejam adultos, crianças ou adolescentes, possuem dificuldades de não terem algo na mão, devido às facilidades que a tecnologia pode proporcionar. Mas isso causa inúmeros prejuízos também, como nas relações sociais, emoções, sentimento e convivência com o outro. Esse excesso de tecnologias ao qual todos estamos inseridos nos faz ser imediatistas. Ninguém gosta de esperar para resolver algo, todos buscam aplicativos, sites e outras tecnologias. Então, o nível de ansiedade aumenta, pois essas telas são ansiogênicas”, explica a psicóloga.
Roberta Rios ainda cita o ocorrido no dia do apagão nacional e como as pessoas se mostraram completamente à mercê do aparelho celular. “Nesse dia foi um desespero total. As pessoas demonstraram um enorme despreparo quando se trata de não conseguir ter acesso a um celular e a internet. Já que, sem isso, ninguém consegue se locomover, pedir um alimento, falar com as outras pessoas. Então isso gerou ansiedade, um desânimo, enquanto as pessoas esperavam a conectividade voltar. É como se estivessem sem saber o que fazer”, observa.
Como superar o problema?
Para a Psicóloga, o primeiro passo para aprender a lidar com a dependência tecnológica e superá-la é compreender a existência do problema.
“Quem é adulto precisa ter consciência desse problema. Depois, buscar outras atividades que não precisem do celular, como as feitas ao ar livre, e evitar estar com o aparelho tecnológico em mãos o tempo todo. Quando o problema envolve crianças e adolescentes, a questão passa a ser o monitoramento, tanto na quantidade de tempo, quanto na qualidade. Os adultos são responsáveis por monitorar as crianças e também o próprio comportamento diante das tecnologias”, declara Roberta.
Como identificar possível dependencia de tecnologias?
Alguns sinais que o corpo transmite quando há um problema de uso severo de tecnologias são:
Dificuldade nas interações e desenvolvimento de habilidades sociais;
Imediatismo;
Problemas emocionais ou psicológicos;
Fácil distração;
Dificuldade com o sono;
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