Alimentação servida nas escolas municipais de Belém é livre de alimentos ultraprocessados
O Pnae determina que o mínimo de 30% dos recursos da merenda escolar sejam utilizados na aquisição de gêneros alimentícios da agricultura familiar
O Governo Federal determinou, esta semana, a redução de 20% para 15% o limite de alimentos processados e ultraprocessados que poderão compor o cardápio das escolas. Em Belém, a Secretaria Municipal de Educação, por meio da Fundação Municipal de Assistência ao Estudante (Fmae), informou que já trabalha com um cardápio livre de alimentos ultraprocessados e com uma quantidade mínima de processados, valorizando alimentos naturais, regionais e provenientes da agricultura familiar local.
A equipe de nutricionistas da Fmae planeja e prepara, todos os anos, um cardápio que atenda as necessidades nutricionais das diferentes faixas etárias da rede municipal de ensino, além de orientar as escolas, merendeiros (que manipulam os alimentos), estudantes e famílias, conforme preveem as diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).“Nós trabalhamos para que os alunos tenham uma merenda de qualidade, nutritiva e bem aceita pelos alunos”, afirma a diretora-geral da Fmae, Neusa Lobato, que também é nutricionista. O trabalho da Fmae inclui o planejamento, a logística de contratação (via pregão e chamada pública), distribuição, orientação e educação nutricional e avaliação do que é servido nas escolas.
Valorização do alimento regional
O Pnae determina que o mínimo de 30% dos recursos da merenda escolar sejam utilizados na aquisição de gêneros alimentícios da agricultura familiar. A diretora da Unidade de Ensino Infantil Casa da Amizade (Icoaraci), Monique Cruz, atesta a qualidade da merenda. “Avalio como excelente, por conta da questão nutricional, porque é uma alimentação completa. As nutricionistas da Fmae dão preferência a alimentos naturais, que não sejam ultraprocessados”, atesta a diretora. A unidade escolar possui turmas do Maternal II, Jardim I e Jardim II, e em cada turno são servidas duas merendas: um lanche e uma refeição completa.
A Lara Mariana tem 2 anos de idade e é a primeira vez que frequenta uma escola pública. Ela está no processo de adaptação na Unidade de Educação Infantil Catalina I no bairro do Bengui, e como diz o seu responsável, Marco Antônio Nascimento, Lara tem gostado muito da alimentação que é servida na escola "Eu perguntei se ela tinha almoçado, me respondeu que sim, e que a comida é muito gostosa. Achei isso muito legal, porque a prefeitura leva a sério essa merenda e tem até nutricionista pra balancear essa merenda, estou contente com isso", disse Antônio.
Além de movimentar a economia local, também há uma valorização dos alimentos e da culinária regional. A nutricionista Ana Clara Miranda, Chefe da Divisão de Planejamento e Organização da Fmae, conta que isso já é realizado nas escolas de Belém, e que para 2025, por exemplo, estará incluso no cardápio uma variedade de alimentos regionais. “A gente vai ter açaí, pupunha, tucupi, cupuaçu, jambu, cariru, entre outros. E já experimentamos também servir vatapá de frango, que foi muito bem aceito pelos alunos”, afirma a nutricionista.
Garantia de direito básico
Todos os dias, as escolas municipais de Belém recebem estudantes que vêm de diferentes contextos socioeconômicos, muitos deles de insegurança alimentar. Seja pela escassez do alimento ou pela qualidade do que é servido na mesa. “Nós estamos num meio onde as crianças têm uma carência alimentar. Se você for conversar com as crianças, o que eles comem em casa é completamente diferente [do que é servido na escola]. Geralmente eles comem enlatados, embutidos, até pela questão socioeconômica”, comenta a diretora Monique.
Ela ressalta a importância cognitiva da alimentação, porque interfere diretamente no aprendizado. “Tem crianças que vêm para cá para comer, para não passar fome, e tem aquelas que não tem comida de qualidade. E criança que não está alimentada não consegue aprender”, complementa a diretora.
Alimentação é educação
Outra vertente de trabalho da Fmae é a educação alimentar nas escolas, que passa pela orientação da equipe escolar, dos merendeiros, mas também pela educação de alunos e famílias. “Alimentação é educação, a gente trabalha com isso. O nosso ‘cliente’ é o aluno, que está em sala de aula, mas que também vai para casa, por isso a família também precisa ser envolvida”, comenta Rosana.
Ela explica que existem crianças que se alimentam mal em casa, com excesso de açúcar, por exemplo, e que quando chegam na escola têm dificuldade de aceitar a merenda. “A gente precisa introduzir o hábito saudável na criança, a gente não pode ‘alimentar’ o costume que ela tem em casa. Alimentação é educação. E a gente começa desde cedo”, complementa a diretora.