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Barcos elétricos ajudam a descarbonizar rios e transformar o transporte fluvial

Embarcações representam avanços tecnológicos importantes para a sustentabilidade e para a mobilidade fluvial da Amazônia

Gabriel Bentes

Dois projetos pioneiros de barcos elétricos na região amazônica têm potencial para descarbonizar os rios e revolucionar o transporte fluvial, beneficiando diretamente as populações ribeirinhas e urbanas. Iniciativas da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, as embarcações, duas voadeiras e um catamarã, chamam atenção por serem avanços tecnológicos importantes para a sustentabilidade e para a mobilidade fluvial da Amazônia. 

Desde maio, a primeira voadeira elétrica da região, o Poraquê I, está em atividade na operação da usina, em Altamira, no Pará. Com a medida, ao final de cada mês, a companhia calcula que, em substituição à embarcação tradicional a diesel, tenham deixados de ser consumidos cerca de 1.400 litros de combustíveis fósseis. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) estão em fase final de testes do motor do segundo protótipo, o Poraquê II. As voadeiras transportam de seis a oito pessoas, têm velocidade média de 27 km/h e autonomia para percorrerem 40 km. 

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Já o catamarã elétrico foi concluído em setembro e se integra a dois ônibus movidos a energia solar. Atualmente, o projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) da Norte Energia, regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e realizado por professores da UFPA, é utilizado como meio de transporte no campus universitário. Juntos, os dois modais formam o primeiro corredor verde da Amazônia e têm capacidade para transportar 2 mil pessoas por dia e evitar o lançamento de 161 toneladas de CO2 na atmosfera por ano, o que equivale a 30 carros populares circulando no mesmo período. Só o catamarã evitará a emissão, por ano, de 100 toneladas de gases de efeito estufa.

“Os projetos dos barcos elétricos podem proporcionar mudanças importantes na vida da população local, já que o custo com combustível para transporte compromete grande parte da renda das famílias. E enquanto promovemos a mobilidade fluvial na Amazônia, deixam de ser emitidas toneladas de gases de efeito estufa. Em 2019, quando começamos nossos projetos de barcos elétricos não podíamos prever que seriam concluídos em um momento tão oportuno, às vésperas da COP 30. Estamos orgulhosos desse legado”, disse Sílvia Cabral, Diretora de Regulação e Comercialização da Norte Energia. 

Pensando em uma forma de fornecer barcos elétricos em escala comercial e a preços acessíveis para a população da região amazônica, a Norte Energia iniciou há um mês um novo projeto de PDI, regulamentado pela ANEEL, que também será executado pela UFPA. Apelidado de Enguia, em alusão ao peixe elétrico, os pesquisadores terão como missão desenvolver uma voadeira elétrica nacional completa, bem como o sistema de carregamento elétrico, com bases flutuante e terrestre.

“O desafio é grande, mas a expertise que adquirirmos com os dois projetos anteriores nos garante a segurança que precisamos para darmos mais esse passo. Queremos tornar a tecnologia dos nossos barcos elétricos acessível a todos, de maneira que num futuro não muito distante possa ser uma realidade nos rios da região amazônica”, resumiu Sílvia. 

O Pará é cercado por rios que integram duas das maiores bacias hidrográficas brasileiras: Amazônica e do Tocantins-Araguaia. Os rios Amazonas, Tapajós, Tocantins, Xingu, Jari, Pará, Guamá e Maguari, banham diversas regiões do estado e as embarcações a diesel são os principais meios de transporte da população dessas localidades locais. 

“Ambientalmente falando é uma embarcação que possui zero adição de gás carbônico, ela é totalmente elétrica, a energia que abastece as baterias é de usina fotovoltaica. Não utilizamos combustíveis, lubrificantes, o nível de ruídos é menor do que de uma embarcação comum. Então quando se fala de impacto ambiental ela é muito mais vantajosa do que a que funciona a combustão. Do ponto de vista social, o custo operacional é menor, não usamos gasolina, disponibilizando o transporte de forma mais acessível para população que pode facilmente recarregar as baterias sem custo de operação”, explicou o professor Emannuel Loureiro, Engenheiro Naval e pesquisador da UFPA.

O Liberal