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Autismo em foco: crianças autistas exercem direito à cultura e vão sair nos arrastões juninos

Parceria entre o Grupo Mundo Azul e Instituto Arraial do Pavulagem garante inclusão para pessoas com TEA na temporada de festejos juninos em Belém

Eduardo Rocha

O primeiro Arrastão Junino do Instituto Arraial do Pavulagem, neste domingo (11), vai contar com a participação de crianças e adolescentes com autismo, reforçando desde já a parceria com o Grupo Mundo Azul, que será evidenciada ainda mais no dia 18, Dia Mundial do Orgulho Autista, quando, então, haverá uma ala da entidade no cortejo. A presença de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos arrastões é uma conquista desses cidadãos, de vez que o acesso à cultura é um direito deles previsto em lei. Nessa sexta reportagem da série "Autismo em Foco", veiculada em O Liberal e no Portal oliberal.com, você confere que arte e afeto andam juntas por um mundo mais acolhedor.

Essa parceria entre cidadãos com autismo e o Arraial do Pavulagem, que leva milhares de pessoas às ruas de Belém em junho e também em outubro, por ocasião do Círio de Nazaré, é capaz de revelar laços de afeto mais profundos do que se imagina. Esse é o caso de José Ernesto Cherr Moura, de 14 anos, estudante do 9º ano. A mãe dele, Luciana Cherr, médica veterinária, relata a experiência de garantir ao filho autista o contato com expressões artísticas e culturais do Pará.

Essa alegria de viver José traz sempre com ele. Tanto que, desde bebê, está presente no dia a dia do Instituto Arraial do Pavulagem (com 36 anos de história). Ele tem sete anos de atuação no Batalhão da Estrela, do Arraial. Aprendeu a tocar maraca e caixa de boi, graças a oficinas de percussão. José já saiu nos Arrastões usando, inclusive, pernas de pau. Luciana e José integram a primeira torcida de inclusão do Pará e do Norte, como ela destaca, que é a Torcida Autista Fiel Bicolor, do Paysandu Esporte Clube, fundada em 3 de abril de 2023.

image José e Luciana, prontos para os arrastões juninos (Foto: Thiago Gomes / O Liberal)

"O importante de José estar aqui, no Arraial, é fazer parte do cenário da vida, que é um direito de todo ser humano; essa oportunidade que o José tem contribui para ele se desenvolver, ele desenvolve habilidades", ressalta Luciana Cherr. E é o próprio José quem se expressa sobre essa conquista. "Aqui, no Arraial do Pavulagem, é um local de muita alegria, onde tenho muitos amigos; já estou preparado para este ano (sairá tocando maraca no Batalhão da Estrela", afirma. "Aqui, ele tem uma inclusão verdadeira, porque lá fora ele tem dificuldades no dia a dia, mas aqui é diferente, todo mundo é igual; ele estar aqui é a realização de um sonho; eles são o Arraial do futuro", completa Luciana.

Luciana é esposa do cantor e compositor Ronaldo Silva, um dos fundadores do Arraial do Pavulagem. Ronaldo Silva destaca que se quer por meio do processo pedagógico da cultura no Arraial do Pavulagem atender as demandas da sociedade de hoje, "desse tempo que a gente vive, esse tempo de inclusão". "Fico feliz com o Arraial sendo esse lugar democrático, por sermos pessoas aqui dentro", observa. "Nenhum ser humano cabe dentro nem de um conceito, imagina de um preconceito"; então, esse é um passo coletivo", pontuou. Ronaldo enalteceu a parceria com o Mundo Azul, para o acolhimento das pessoas com autismo no Arraial e na condução dos cortejos.

Primeira vez

O menino Murilo Costa Ferreira, 7 anos, mora com os pais (Marineuza Costa, dona de casa, e o vigilante Fábio Ferreira), no bairro da Cidade Velha. Murilo tem autismo e participará, pela primeira vez, do Arrastão Junino do Arraial do Pavulagem. "Eu gostei muito do Arraial do Pavulagem, e ele e outras pessoas com autismo participarem do evento serve para demonstrar que lugar de criança com autismo é em qualquer lugar; vai ser muito bom", enfatiza Neuza.

image Murilo e Marineuza, união reforçada pela cultura (Foto: Acervo pessoal)

Ela conta que no sábado (3), as mães das crianças participaram de uma oficina de confecção de adereços de mão e do chapéu do Pavulagem. "Essa é uma conquista de todos nós, de conquista de um espaço que abre portas para outras conquistas", ressalta Neuza.

Preparativos

Em maio e no começo de junho, foi realizada a Oficina Infantil de Brinquedos Animados, para crianças e adolescentes de 5 a 15 anos aprenderam a dar vida aos personagens dos Arrastões, como o boizinho, os cabeçudos e os cavalinhos.

Em 3 de junho, uma oficina reuniu mães de pessoas com autismo, como parte da parceria Grupo Mundo Azul e Arraial do Pavulagem. O foco foi prepará-las para o Arrastão a ocorrer em 18 de junho, Dia Internacional do Orgulho Autista, com cerca de 50 pessoas com autismo e suas famílias em uma ala exclusiva. Com o tema "Arrastão do Pavulagem 2023 - Arraial por um Mundo de Paz", a realização é do Instituto Arraial do Pavulagem, com patrocínio da Equatorial Energia e Programa Semear; co-patrocínio da Fundação Cultural do Estado do Pará (FCP), Secretaria de Estado de Cultura (Secult), Governo do Pará e Prefeitura de Belém, por meio da Fumbel.

Autoconfiança

Como explica João Guilherme Ribeiro, coordenador de oficinas e ensaios no Instituto Arraial do Pavulagem, são duas etapas de trabalho para os arrastões juninos: a formação de iniciantes  inscritos nas oficinas em 15 dias de atividades para aprender ofícios como tocar instrumentos percussivos, dançar, manipular os brinquedos populares (boi, cabeçudos, cavalinhos) ou andar em pernas de pau; e, também em 15 dias, os ensaios nos quais iniciados e iniciantes se juntam formando o Batalhão da Estrela.

"Nós acreditamos que as oficinas oferecidas (percussão, manipulação de brinquedos, dança e perna de pau), contribuem para o desenvolvimento e bem estar da criança no espectro autista. Além de estimular a sociabilidade, elas auxiliam no desenvolvimento da fala, inspira criatividade, autoconfiança, sociabilidade, essas práticas  e exercícios do ofício da arte, como tocar um instrumento, dançar ou se equilibrar numa perna de pau, auxiliam  para o desenvolvimento motor de quem pratica", enfatiza João Guilherme.
 
As oficinas são oferecidas na segunda quinzena de maio e primeira quinzena de junho. Elas atendem a um público diverso, como cadeirantes, pessoas com espectro autista, Síndrome de Down, e cada pessoa faz a atividade de acordo com suas possibilidades, no seu tempo. "Atendemos cerca de 370 pessoas nas oficinas, nos ensaios atendemos 700 pessoas; as oficinas são realizadas há pelo menos 20 anos, e o Instituto sempre recebeu PCD's (pessoas com deficiência), ou seja, há muito tempo somos inclusivos, porém há algum tempo temos tentado ampliar essa inclusão, tentando garantir a acessibilidade  desse público nos nossos eventos".

Direitos

A Lei Berenice Piana (Nº 12.764/2012) determina que pessoas com Transtorno de Espectro Autista (TEA) são consideradas, para todos os efeitos legais, pessoas com deficiência. Logo, todos os direitos  garantidos a pessoas com deficiência também são asseguradas a quem está no espectro do autismo. Sendo uma lei federal, obviamente é válida em todo território nacional.

Vigora também a Lei 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência ou Estatuto da Pessoa com Deficiência), legislação que assegura não somente os direitos de quem tem o diagnóstico de TEA, mas também de PCDs. A partir dessas duas legislações, por exemplo, e da própria Constituição Federal, o direito à cultura e lazer, compreende-se que esses direitos são algo que não lhes pode ser negado. E o protagonismo nas atividades culturais é incentivado pela parceira do Mundo Azul e o Instituto Arraial do Pavulagem.

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