Com Romulo Maiorana, O LIBERAL chegou à Nova República
Visionário, o empresário escreve um novo tempo para a imprensa na Amazônia
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A República Brasileira conta apenas 77 anos, quando o jornalista e empresário Romulo Maiorana seleciona o passo que muda não apenas sua vida, como ajuda e grava um novo tempo para a imprensa da Amazônia. O bem-sucedido empresário do comércio paraense já experimentou o sucesso no ramo de confecções e via crescimento de uma cadeia de lojas que levava como Inicial do seu nome: RM. Com vitrines atrativas, vendedores treinados para atender o público e até uma lanchonete, como Lojas RM revolucionou o conceito de atendimento e padrão na praça.
Para alguém que começou a vida fabricada em filmes, depois de produzir catálogos telefônicos e placas de rua com paradas de ônibus (por incrível que pareça, que não existe em Belém!), Em uma cidade quase desconhecida, Romulo Maiorana teve acesso ao topo da glória. Seu sonho, porém, possuía outra margem.
Apaixonado pela atividade jornalística, ele já havia trabalhado no setor comercial de jornais que viria a adquirir e, mais tarde, assumiu duas colunas em “A Folha do Norte”, o maior e mais importante matutino da capital paraense: “RM Informa” e “ Sempre aos domingos ”. Dono de um estilo que viria a ser sua marca registrada, porque não apenas escrevia, como escrevia bem, Romulo Maiorana ou “seu Romulo”, como nós, da Redação, ou chamávamos, sabia onde estava a notícia e cercava-se das mais bem informações fontes de Belém. Aos poucos, foi construindo um capital de credibilidade, o que significa o dobro do valor de duas colunas no jornal alheio. Ele tem todas as coisas desejáveis, no seu próprio jornal.
Investimentos para uma nova era
Em 1964, a República Brasileira foi mais uma vez testada. Os militares adotam ou implantam um regime que termina com a eleição do presidente Tancredo Neves, por via indireta, e posse de José Sarney. Naquele ano, o Pará era governado por um homem íntimo e decente chamado Aurélio do Carmo, que perdeu o mandato e o posto de 27º governador do período republicano. Quando foi desativado, mais de duas décadas depois, não havia nenhum documento causador de “perdão”. Ele não foi considerado nem corrupto, nem subversivo, os dois maiores pecados do catecismo “revolucionário”. A História da justiça e foi feito desembargador do Tribunal de Justiça do Estado.
Em 1964, também iniciou o final de um ciclo não menor e menos importante da cidade, O LIBERAL, fundado em 1946, pelo tenente Moura Carvalho, que encerrou a vida pública com uma patente geral. Naquele ano, criou um veículo que circulava às 16 horas, com apenas quatro páginas, para sustentar os planos políticos também com Magalhães Barata, que viria a ser o 13º governador para a República, na época uma "jovem senhora" de apenas 41 anos.
Quando Barata morreu, também feito em geral, em 1959, o jornal voltou para as mãos de seu criador, que, cinco anos mais tarde, ou vendeu para o engenheiro Ocyr Proença. Experimentando o pior período de sua trajetória de quase duas décadas, O LIBERAL começou a descer na madeira. Sem leitores, anunciantes, ou espera não conseguir tirar mais de 300 exemplos e, apesar da tiragem quase simbólica, ainda havia sobras. Na prática, ninguém, incluindo seu proprietário, queria O LIBERAL. Tanto não queria que negociasse sua venda para aquele que talvez fosse a única criatura nesta cidade disposta a investir num jornal praticamente falido. Esse visionário, na época chamado "louco" até os amigos próximos, era Romulo Maiorana. Quando O LIBERAL circulou na tarde de 1º de maio de 1966, apenas uma chamada da primeira página,
Sob o comando de um homem já experimentado em redações e bastidores da imprensa local, O LIBERAL começou uma nova era com uma marca de empreendedorismo. Aos poucos, o RM foi ampliando uma equipe, incluindo novos equipamentos (na época, o jornal era composto por linotipos e impresso no sistema chamado “quente”, pois os textos são montados com peças de móveis, grudadas uma a uma sobre chumbo). As fotos eram transformadas em clichês e preparadas no tamanho em que sairiam impressa.
Olhando para o futuro que cada dia se coloca mais perto, trouxe para Belém ou o sistema "off-set", ou a frio, que manda para o passado de velhos linotipos e produz uma impressão "a frio", de altíssimo nível, com impressionante nitidez de imagens e textos.
Impressão “off-set” é revolução
Com o jornal circulando pela manhã, já desprovido de qualquer vinculação política, como era o tempo de Magalhães Barata, Romulo Maiorana surpreendeu uma cidade com um novo veículo que, impresso de uma forma revolucionária, uma vez com poucos jornais no Brasil qualidade, não acumulava tinta no papel e, por isso, não deixava marcas nas mãos dos leitores.
Quando o primeiro exemplo em "off set" saiu da máquina, ele não quis saborear a conquista sozinho. Apanhou um exemplo de jornal e correspondência para sua casa, na travessa Padre Eutíquio, em frente à Praça Batista Campos, e foi exibido como pessoa que, mais uma companheira expecional, foi o grande amor de sua vida: dona De Maiora.
Uma cena a seguir foi exibida por Déa Maiorana, há muitos anos, em uma entrevista rara, concedida em seu apartamento, então na rua dos Pariquis. Ela grava cada momento que pode ser chamado de entrada triunfal de um guerreiro, com uma vitória empunhada na mão. “Eu já estava deitada, dormindo, quando o Romulo abriu uma porta do quarto, quase gritando: 'Deinha, Deínha (era como ele tratava Déa, pela forma carinhosa do diminutivo), acorda! Olha o nosso jornal, Deínha. Ele não suja mais como mãos. E esfregava O LIBERAL no lençol branco da cama, para mostrar uma nova impressão. Eu fiquei muito feliz, porque estava feliz e era importante não apenas para ele, mas para todos nós ”.
Com O LIBERAL impresso em “off set”, uma empresa, chamada de Delta Publicidade, depois transformada no Grupo Liberal, já possuía uma emissão de rádio e partida para a televisão.
Grupo Liberal surge com Romulo
O jornal que Romulo Maiorana construiu convênio, sob sua administração, com os governadores Alacid Nunes (29º da República), Fernando Guilhon (30º), Aloísio Chaves (31º). Clóvis Moraes Rego (32º), Alacid Nunes (33º) e Jader Barbalho (34º). Mesmo nos anos em que os quartéis estavam retangulares, a época que acabou, no Pará, com uma seleção de Jader Barbalho, O LIBERAL, como bem como definiu o publicitário e jornalista Oswaldo Mendes, manteve uma coragem que fez seu nome uma declaração de princípios. Sob a proteção de Romulo Maiorana, o jornal adotou uma postura firme de liberdade de imprensa, ou driblou uma ação dos censores, ou deu garantia de nomes de regimes preferenciais distantes da mídia, como, por exemplo, Isaac Soares, Claro Bernardo de Macambira Braga, Hélio Gueiros, Newton Miranda e Acyr Castro,
Romulo Maiorana foi um homem que viu o futuro antes que ele raiasse. Um jornal sem nenhuma perspectiva, depois de comprar o maior concorrente, “A Folha do Norte”, instalou a Rádio Liberal e a TV Liberal, hoje uma das cinco maiores afiliadas da TV Globo. Ao morrer, aos 63 anos de idade, na manhã de 23 de abril de 1986, em São Paulo, uma semana após completar 20 anos no comando do jornal que tanto amou, deixou plantadas como raízes de um império de comunicação e viu o seu O LIBERAL é apontado como o maior e mais importante jornal do Norte e Nordeste do país. Naquele ano, uma república brasileira, rebatizada por Tancredo Neves da Nova República, completa 97 anos.
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