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Amazônidas: Grupo Tamboiaras apresenta a força e resistência das mulheres no Carimbó

O grupo gravou a música “Flor de Aipim”, que traz vivências das guerreiras da Amazônia

Paloma Lobato
fonte

O carimbó é uma das expressões culturais mais tradicionais do estado do Pará. O ritmo, que é reconhecido como patrimônio cultural e imaterial do Brasil, ainda é marcado por machismo e preconceito com a figura feminina. Diante desse cenário dominado por homens, um grupo de mulheres apaixonadas pelos ritmos da cultura e da herança ancestral paraense, as Tamboiaras, resolveu dar um passo à frente na busca por seu espaço no mercado musical.

Formado por 13 mulheres musicistas da cidade de Belém, o grupo iniciou em 2017 e tem como inspiração a potência dos tambores da Amazônia e em Iara, uma divindade de águas doces, muito conhecida por seu canto. Para elas, cantar e tocar carimbó é uma forma de mostrar a força que as mulheres têm e que os palcos também é um lugar que deve ser ocupado pelo poder feminino.

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"Por muito tempo houve uma tentativa de silenciar vozes da cultura afro-brasileira, como forma de apagamento da cultura de um povo. Por isso, reunir mulheres para cantar e tocar carimbó é um ato de resistência. Felizmente isso tá mudando", declara Ludimila Maia, percussionista e uma das primeiras integrantes do Tamboiaras.

Com inspiração em grandes mestras do carimbó, as artistas apresentam em seu repertório muito batuque, lundum, baião, boi e outros ritmos que cantam e encantam o público, com mensagens marcadas por suas lutas e conquistas diárias, dentro e fora do palco.

"A música do Tamboiaras transcede politicamente por suas atuações nos movimentos sociais. Somos um grupo de percussão e vozes, porém 80% do nosso repertório são carimbós inspirados nas mestras Nazaré Pereira, Cristina da Sereia do Mar, nos mestres de carimbó e em outras artistas mulheres, como o carimbó da cantora Iva Rothe, que traz o imaginário da sereia", ressalta Roberta Evi, que também é percussionista e foi uma das primeiras a dar vida ao grupo.

Lugar de pertencimento

As mulheres sempre estiveram presentes na cultura do carimbó. Porém, eram limitadas aos bastidores das apresentações e grandes festivais ou de uma forma sensualizada, nas danças. A visão de que o público feminino tinha como função apenas costurar as saias rodadas e dançar é algo do passado. É importante mostrar as gerações futuras que a cultura do ritmo não pode mais ser patriarcal e que há lugar para todos, sejam homens, mulheres, de todas as idades, independente de gênero. 

"As mulheres no carimbó sempre foram retratadas de forma sensualizada, e foi com muita luta que nós começamos a tocar percussão e a falar das nossas vivências de mulheres cabanas, caboclas, do nosso lugar de pertencimento com as identidades, singularidades, reunindo as manas e começando a ocupar os nossos lugares, como no Batuque das Marias, coletivo de mulheres que lutam por garantias de direitos. Levamos isso para as nossas vidas, o que reflete em nosso trabalho", ressalta Ludimila.

Flor de Aipim

Lançar uma música autoral sempre foi um grande desafio para muitas artistas paraenses. Após muitos anos de luta e busca por espaço no cenário musical local, o Grupo Tamboiaras deu um novo passo na carreira, ao lançar a música "Flor de Aipim", que é o primeiro single do grupo e teve inspiração na divindade afro Mamãe Oxum. A letra da canção retrata a força e resistência da mulher da Amazônia.

"Nós falamos sobre todas as mulheres amazônidas que na sociedade buscam o seu lugar, o seu reconhecimento, que são as guerreiras, como a história das Icamiabas, que não aceitavam um lugar subalterno, e é um ato de resistência e que nós mulheres já estamos mudando essa realidade. Retrato essa mulher indígena que referencia uma divindade afro, na mata da floresta. Dando ênfase a essas duas culturas que falam muito sobre nós, da nossa identidade", destaca Roberta.

Representatividade e oportunidade

A representatividade feminina na música ainda é um problema atual. A participação e inserção da figura feminina está cada vez mais presente, mas elas fazem parte de uma minoria, já que a participação das mulheres no mercado musical ainda é muito pequena em relação ao espaço ocupado pelos homens. Para o Grupo Tamboiaras, é fundamental fazer com que outras mulheres reconheçam a sua força e o seu talento.

Mas não basta que mulheres artistas se empenhem para mudar esse quadro. É importante contar com ações que valorizem o potencial feminino e dê voz a esses tantos talentos que estão em busca de uma oportunidade. Um exemplo disso é o "Amazônidas", projeto criado pelo Grupo Liberal, em parceria com a Vale, que tem como objetivo destacar e valorizar talentos femininos do cenário da música paraense.

Para Ludimila, um projeto que busca a valorização das fazedoras de cultura da Amazônia brasileira é de grande relevância. “É reconhecer e fortalecer um movimento que tem crescido. Somos plurais, com linguagens artísticas diferenciadas, com um lugar-comum em nossa cultura. Parabéns pelo projeto! Ter uma rádio tocando nossas músicas é motivo de alegria e é só o começo", comenta a percussionista.

Com o “Amazônidas”, diversas artistas locais estão tendo a chance de disseminar o seu trabalho para todos os cantos do Estado. Para Roberta, fazer parte da primeira edição do projeto é motivo de felicidade.

“Nos sentimos honradas e felizes por sermos contempladas por um projeto de tamanha relevância, que busca visibilizar as músicas produzidas por mulheres na Amazônia. Que tanto o Tamboiaras e outras mulheres amazônidas, que têm voz e são artistas, possam ter seus trabalhos divulgados, reconhecidos e fomentados”, finaliza.

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