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Rios amazônicos recebem 182 mil toneladas de plástico por ano

Descarte inadequado do plástico tem causado sérios problemas para a fauna amazônica

Ize Sena | Especial para O Liberal
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A região amazônica, conhecida por sua imensa área de floresta, vastos rios e rica biodiversidade, também carrega outra característica: é a segunda bacia hidrográfica mais poluída do mundo, com estimativa de lançamento de 182 mil toneladas de plástico nas águas da Amazônia brasileira, por ano. O alerta é do pesquisador José Eduardo Martinelli Filho, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Em uma investigação recente denominada “A retenção de partículas plásticas por macrófitas no Rio Amazonas, Brasil”, de autoria inicial do aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UFPA, Gabriel dos Anjos Guimarães, foi analisada a capacidade de plantas aquáticas em conter esse tipo de poluente. O estudo foi orientado pelo professor doutor Gustavo Hattori da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e contou com a colaboração de pesquisadores de outras instituições, entre eles, José Eduardo Martinelli Filho, especialista na área e coautor do estudo.

Essas plantas, também chamadas de Igapós, sobrevivem permanentemente na água. Para a análise, publicada em junho deste ano no período científico internacional Environmental Science and Pollution Research (ESPR), as plantas foram coletadas às margens do Rio Amazonas, no município de Itacoatiara, Região Metropolitana de Manaus. Como essas plantas formam pequenas ilhas flutuantes, o material foi cuidadosamente triado e lavado para, posteriormente, separar e remover os plásticos e os microplásticos a serem quantificados.

“As plantas retêm as partículas por mecanismos diferentes que dependem do tamanho. Partículas grandes têm um mecanismo de retenção diferente de partículas de médio porte, de pequeno porte e aquelas ainda menores, microplásticos e nanoplásticos. Então cada categoria de plástico pode ter um processo diferente de retenção pela planta. Plásticos grandes e flutuantes como garrafas, embalagens de marmitex, de isopor, esse material bem grande e leve pode ficar preso entre as folhas”, explica José Martinelli.

Risco à saúde das plantas 

Enquanto as partículas de médio porte, que variam de meio centímetro a dois centímetros e meio, tendem a ficar presas entre galhos, folhas e até raízes, os microplásticos - menores que cinco milímetros -, têm uma tendência de ficar retidos, principalmente entre as raízes, que têm estruturas mais finas, mais alongadas, e uma arquitetura mais complexa.

E quanto menor o plástico maior o risco, avalia José Martinelli. “O nanoplástico é tão pequeno, que dependendo do tamanho, pode entrar nas células, ser incorporado pelo tecido das plantas”, afirma o professor. O impacto desses microplásticos e até desses nanoplásticos para o metabolismo,  fisiologia, e saúde das plantas ainda é algo inicial na literatura científica. “O que a gente sabe é que muitos desses microplásticos acabam carregando substâncias tóxicas”, destaca.

Martinelli explica que muitos plásticos não são tóxicos, porém recebem substâncias tóxicas durante sua produção, a exemplo de alguma tinta com coloração, retardantes de chama, entre outros aditivos que potencialmente poderão causar danos às plantas.

O pesquisador faz ainda outro alerta: “O microplástico, não todos eles, mas uma boa parte deles, funciona como uma esponja no sentido que pode reter e concentrar poluentes que estão na água, como metais pesados, por exemplo. Então quanto mais tempo aquele microplástico está na água, maior o potencial dele se tornar tóxico”, avalia. 

Para tentar reduzir os impactos e implementar medidas de mitigação eficazes, o professor aponta algumas medidas relacionadas às comunidades ribeirinhas e cidades que estão à margem de rios, entre elas um sistema mais eficiente de saneamento básico, de coleta de lixo, de destinação, além da reciclagem do lixo e de tratamento do esgoto. 

Aves utilizam plásticos para construir os "ninhos azuis"

O professor José Martinelli foi o orientador do primeiro estudo que registrou o uso de plástico pelas aves para a construção dos chamados Ninhos Azuis. “Os ninhos azuis são ninhos poluídos por plástico que encontramos aqui na Amazônia. E recebe esse nome porque o principal plástico encontrado em sua composição são cordas e redes de pesca azuis”, explica a pesquisadora Adrielle Lopes, primeira autora da pesquisa Blue nests: The use of plastics in the nests of the crested oropendola (Psarocolius decumanus) on the Brazilian Amazon coast, publicado na revista científica Science Direct, em julho.

O estudo apontou que a grande incidência de plástico em alguns ninhos está, principalmente, em áreas de manguezais, onde esses resíduos estão mais disponíveis para serem utilizados. O resultado destacou ainda que 67% dos ninhos de Psarocolius decumanus, também conhecidos como Japu ou Japu-preto, continham plástico. 

Adrielle destaca os riscos para a vida dos pássaros apontados no estudo. “Pode ter diversos impactos, como emaranhamentos, carcinogênese, e outros problemas para prole e ovos por conta das toxinas presente no plástico”, aponta. Para a pesquisadora, algumas medidas podem ser tomadas para evitar os problemas que o descarte inadequado do plástico tem causado na fauna amazônica, entre elas, fomento à reciclagem, limpeza de praias e manguezais, e políticas públicas que reduzam o plástico nos oceanos e outros ambientes aquáticos e terrestres. 

 

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