Regeneração da Amazônia pode gerar benefícios climáticos e sociais

Estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) revela que a Floresta Amazônica pode ser recuperada em larga escala

Ana Paula Gama
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Dados de um estudo realizado pelos pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontam que a maior parte das áreas em regeneração na Amazônia está em locais de difícil plantio de grãos. Sendo assim, é possível recuperar a floresta em grande escala sem que ocorra a perda de terras agricultáveis e com baixo custo. Isso gera benefícios para o clima, para o país e para os agricultores.

A pesquisadora do Imazon, Andréia Pinto, explica que a regeneração florestal é uma das maneiras de recuperar a mata em uma área desmatada. Esse processo aproveita a capacidade da própria natureza de cicatrizar os espaços alterados. Porém, dependendo de quanto um ambiente foi modificado, ele precisa de mais intervenções humanas para se recuperar.

“Assim, essas intervenções podem variar desde uma simples assistência à regeneração natural, como, por exemplo, a proteção da área que está se recuperando contra o fogo, a remoção ou o controle de espécies invasoras e a retirada do gado, método chamado de Regeneração Natural Assistida (RNA); até um plantio total de mudas, por meio da semeadura direta de sementes ou outras estratégias para restauração florestal”, explica a pesquisadora, que é doutora em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido e atua no Imazon desde 2006.

Segundo Andréia Pinto, independente de como a floresta vai ser recuperada, o processo é essencial e urgente diante do avanço do desmatamento e da degradação na Amazônia. “Estudos têm mostrado que a região já tem 20% de sua área desmatada e 20% degradada por causa dos incêndios ou da extração ilegal de madeira”, afirma.

Em 2021, a Amazônia registrou a maior devastação dos últimos 14 anos, desde que o Imazon implantou o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), que é baseado em imagens de satélite. “Foram derrubados 10.362 km² de mata nativa, o que equivale à metade de Sergipe; e é maior do que a soma das áreas derrubadas em seis anos, de 2008 a 2013 (9.956 km²). Apenas em comparação com 2020, último recorde até então (8.069 km²), a área perdida em 2021 foi 29% superior”, acrescenta Andréia Pinto.

Para a pesquisadora, este ano, a situação pode ser ainda pior, pois apenas no primeiro semestre, foram derrubados 4.789 km², quase 20% a mais do que no mesmo período do ano passado. Diante desse cenário, é necessário investir cada vez mais na recuperação da Amazônia, pois isso trará benefícios com efeitos individuais e impactos nas escalas nacional e global.

“Em relação aos impactos diretos, recuperar a floresta nos dará mais qualidade de vida, pois o desmatamento está relacionado com os piores indicadores de saúde, segurança e educação, por exemplo. Além disso, contribui para a redução da desigualdade, porque a derrubada da floresta desregula o regime de chuvas no país, causando baixas nos reservatórios das hidrelétricas, o que aumenta o preço da energia e prejuízos para a agropecuária, impactando na alta do custo dos alimentos. E, consequentemente, no crescimento da própria inflação”, avalia Andréia.

Técnicas

As técnicas utilizadas no processo de restauração florestal dependem de uma análise prévia da área a ser recuperada. Deve-se observar se ela tem condição de regenerar naturalmente com alguma assistência, o que seria mais barato e, possivelmente, mais eficiente em termos de diversidade de espécies e de capacidade de absorção de carbono. Além disso, é necessário analisar se há necessidade do plantio de mudas ou sementes para gerar a cobertura florestal futura.

“Outro ponto importante é levar em consideração o objetivo da restauração. Por exemplo: para uma agricultora ou um agricultor familiar, o interesse é voltado para uma ‘restauração produtiva’, que pode ocorrer com a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), com o enriquecimento de plantio de espécies de uso econômico na área em regeneração e com o manejo de recursos florestais dessas áreas regenerantes”, explica a pesquisadora do Imazon, ao ressaltar que é possível usar áreas que estão em processo de regeneração para gerar renda a partir de práticas sustentáveis.

image Imagem mostra avanço de área em regeneração em Paragominas, bem próximo de uma produção de eucalipto (Imagem mostra avanço de área em regeneração em Paragominas, bem próximo de uma produção de eucalipto)

“Ao destinar parte da propriedade rural para a conservação da floresta nativa, as famílias agricultoras podem passar a trabalhar com a comercialização dos produtos oriundos das espécies amazônicas, que vão desde frutas e sementes até óleos e artesanatos. No Imazon, temos um projeto que se chama ‘Floresta para Sempre’ em que estamos apoiando pequenos agricultores que vivem em assentamentos a recuperarem áreas de floresta em suas propriedades e gerar renda a partir disso”, destaca a profissional.

O mais recente estudo do Imazon, publicado em 2021, mapeou o total de 7,2 milhões de hectares em regeneração com idade acima de cinco anos no bioma Amazônia, o que equivale ao território da Irlanda. Esses dados se referem à análise da floresta em 2019.

Além disso, foram selecionadas apenas áreas em regeneração acima de cinco anos para evitar que locais de “pousio” entrassem na conta, uma técnica muito comum na região, que consiste em suspender o plantio em uma área por até cinco anos para que o solo possa se recuperar antes de novos cultivos.

MapBiomas

O Imazon faz parte da rede que monitora a plataforma MapBiomas, que correlaciona o uso e cobertura do solo desde os anos 80. Segundo o pesquisador do Instituto, Luis Oliveira Junior, na coleção seis da plataforma é informado que a Amazônia perdeu aproximadamente 44 milhões de hectares de floresta entre 1985 e 2020. Entre os estados, os que mais perderam áreas de floresta foram Pará e Mato Grosso. Somados, eles representam uma perda de 29 milhões de hectares.

“O uso agropecuário (pecuária e agricultura) substituiu 99% das áreas de floresta perdidas no bioma. Já a expansão da mineração (industrial e garimpo) no bioma Amazônia, foi de 134 mil hectares entre 1985 e 2020. Outra informação importante é que, entre 1999 e 2020, a Amazônia perdeu 19,5 milhões de hectares de superfície de água”, revela Junior, que também é mestre em Ciências Ambientais.

Já na contramão da perda de floresta, foi observado o aumento das áreas de pecuária e agricultura entre 1985 e 2020. Na série histórica, também foi contabilizado na Amazônia uma redução nas áreas campestres e savânicas. Além disso, a expansão total das áreas urbanas no bioma foi de 236 mil hectares entre 1985 e 2020. 

 

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