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Poderoso ‘Cupú’: nova pesquisa indica futuro dos plantios

Sequenciamento do genoma do cupuaçu aponta caminhos para pesquisas com frutas amazônicas

Fabrício Queiroz | Especial para O Liberal

O cupuaçu (Theobroma grandiflorum), um dos frutos mais apreciados dentro e fora da Amazônia, ganhou uma nova pesquisa que aponta para o futuro dos plantios da espécie: o sequenciamento do primeiro genoma completo do cupuaçu, em projeto apoiado com recursos das fundações de amparo à pesquisa do Pará e de São Paulo (Fapespa e Fapesp).

O trabalho desenvolvido pelos pesquisadores Vinicius Abreu, da Faculdade de Computação da Universidade Federal do Pará (UFPA); Rafael Alves, da Embrapa Amazônia Oriental; e Alessandro Varani, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), visa encontrar uma variedade de cupuaçu mais resistente a pragas e mais produtiva.

Rafael Alves explica que uma das preocupações dos agricultores e da ciência é com as doenças que atingem os frutos do gênero Theobroma, abrangendo tanto o cupuaçu quanto o cacau. Entre elas estão a chamada vassoura-de-bruxa e a monilíase, que tem potencial de trazer grandes prejuízos em duas culturas muito significativas da produção rural paraense.

A vassoura-de-bruxa, por exemplo, é uma praga que se caracteriza por deixar os ramos das árvores secos, impossibilitando o desenvolvimento da flor e do fruto. Os efeitos podem ser devastadores para os plantios, por isso as pesquisas pelo método tradicional de melhoramento genético já buscam há anos o desenvolvimento de cultivares mais resistentes à doença, como é o caso da BRS Coari, que foi uma das plantas matrizes selecionadas para o estudo.

A outra variedade selecionada é um clone conhecido pelo número 1074, cujos principais diferenciais são os frutos de grande porte e polpa com melhores características organolépticas, isto é, com qualidades como cor, sabor e textura mais bem aceitas entre os consumidores.

Para o estudo, foram coletadas amostras das folhas novas dos dois cupuaçuzeiros. O material foi congelado em hidrogênio para manter sua integridade e enviado para extração do DNA em um laboratório de uma instituição parceira no estado do Texas (EUA). Após a retirada do material genético, iniciou o processo de sequenciamento, montagem e análise do genoma que culmina na publicação de artigos para divulgação dos achados.

Os resultados do projeto “Genoma e Transcriptoma do Theobroma grandiflorum (Cupuaçu): uma abordagem comparativa, evolutiva e funcional” levaram à identificação dos 31.381 genes que compõem a fruta, o que por si só já é uma conquista. Porém, os pesquisadores esperam que o conjunto de dados tenha implicações práticas na cultura rural.

“Se a gente conhece, através do genoma, qual é o gene responsável pela resistência à uma doença, isso facilita bastante o trabalho de melhoramento porque se pode fazer marcadores. Hoje, a saída é pegar as plantas nos viveiros, levar para o campo, inocular e ver se pegam ou não. Com os marcadores genéticos, a gente pode levar para o campo só os materiais mais resistentes. Isso ajuda muito o programa de melhoramento tanto para o cacau quanto para o cupuaçu”, comenta Rafael Alves.

Benefícios

A longo prazo, a ideia é que seja possível saber quais genes são responsáveis por determinar as qualidades da polpa do clone 1074 e quais garantem a maior resistência à vassoura-de-bruxa na BRS Coari e, assim, tentar combiná-los em uma terceira variedade que poderá ser oferecida no mercado. “Ter uma tecnologia desse nível para uma cultura tão pobre, do ponto de vista científico, é uma mudança de patamar”, ressalta o pesquisador da Embrapa.

“Outro avanço que a pesquisa traz é a possibilidade de reconhecer as características de interesse de produção, como a amêndoa, a polpa e o tamanho. Esse tipo de característica pode ser identificada através do genoma e utilizada para melhorar a planta. O projeto marca um avanço muito importante para a agricultura paraense, porque tem um impacto social e econômico e coloca o estado do Pará como capaz de produzir a sua própria biotecnologia voltada para as produções locais”, acrescenta o professor Vinícius Abreu.

 

Amazônia Viva