Pão de açaí é rico em nutrientes e possui DNA paraense
Projeto utiliza farinha do caroço de açaí, que antes ia para o lixo, para elaborar produto saboroso e nutritivo
Ele virou paixão nacional. O açaí é consumido por milhares de apreciadores Brasil afora, mas é no Pará que o fruto movimenta a economia e alimenta a população em todos os 144 municípios. Para se ter uma ideia, conforme mostra o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2023, foram produzidas cerca de 1,6 milhão de toneladas do fruto, o que coloca o estado como o maior produtor de açaí do país.
Apesar da produção vasta e exportação pujante, apenas 15% do volume do açaí é utilizado na extração da polpa. O que resta, ou seja, os caroços, são descartados, muitas vezes de forma irregular, ao ponto de poluir as cidades. Mas você sabia que esse rejeito pode ser reutilizado? Um projeto inovador e bem saboroso fabricou o pão feito a partir da farinha do caroço de açaí.
“A ideia de utilizar a farinha do caroço de açaí surgiu para agregar valor aos resíduos agroindustriais na Amazônia, promovendo o conceito de economia circular e sustentabilidade”, explica Merilene Costa, da Coordenação das Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (COPSAN), da Prefeitura de Belém.
A iniciativa é uma parceria do órgão municipal com o curso de Engenharia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (Uepa). O professor Diego Aires da Silva, coordenador do curso na Uepa, e coordenador do projeto de pesquisa, detalha que a matéria-prima veio de comunidades e cooperativas locais que já processam o açaí. “O processo de transformar caroços nessa farinha especial e com DNA bem paraense constitui em secar o bagaço, moer, peneirar e extrair um produto rico nutricionalmente”, explica.
Testes físico-químicos da farinha mostram que o produto tem baixo teor de lipídeos (1,50 %), mas grandes concentrações de proteínas (3,52%), fibras (73,52%) e carboidratos (20,55%).
Até chegar a fornada ideal, o professor conta que foram necessárias várias tentativas. “O desenvolvimento da receita levou aproximadamente seis meses. Primeiro, começamos com a pesquisa sobre as propriedades desse insumo que é a farinha do caroço de açaí e a sua elaboração. Depois, passamos a colocar a mão na massa, literalmente. Testa daqui, prova dali. Foi uma deliciosa fase até que, depois de análises laboratoriais e sensoriais, chegamos ao resultado esperado, aliando sabor e nutrição a esse produto”, comemora Diego Aires.
Uma vez com a receita pronta, foi a vez de disseminar essa nova e saborosa invenção. Do laboratório da Uepa, a equipe partiu para compartilhar, junto às comunidades carentes de Belém, muito mais do que uma aula de culinária, mas a possibilidade de encontrar uma nova e nutritiva forma de se alimentar. “Nosso maior objetivo sempre foi democratizar o acesso a alimentos nutritivos e promover a segurança alimentar, especialmente em populações que vivem em situação de vulnerabilidade alimentar em Belém”, pontua.
Para Diego Aires, é sempre satisfatório quando o conhecimento da universidade ultrapassa os muros da instituição e chega até a outra ponta, na sociedade. “Essa receita pode ser uma alternativa econômica e saudável para a alimentação popular. Ver que nosso esforço consegue atingir esse objetivo me deixa muito orgulhoso e entusiasmado para continuar com nossos estudos e conseguir criar soluções para problemas que podem ser resolvidos com um olhar mais atento na região”, complementa.
DESAFIOS
O professor lembra ainda que os insumos amazônicos, apesar de seu grande potencial nutricional e diversidade, ainda enfrentam desafios em termos de acesso a tecnologias de processamento e conhecimento técnico. “A falta de infraestrutura, o desconhecimento sobre o valor agregado desses insumos e a ausência de políticas públicas robustas para promover seu uso são fatores que limitam o aproveitamento. Projetos como o de enriquecimento com farinha do caroço de açaí buscam justamente mitigar esses desafios, demonstrando as vantagens e viabilidades de seu uso”.
FARINHA DO CAROÇO DE AÇAÍ É TUDO!
Alimento de baixo teor calórico;
Possui antioxidantes que auxiliam no combate dos radicais livres;
Fonte de fibras, proteínas, gorduras do bem, potássio, vitaminas B1, B2 e E.
TABELA NUTRICIONAL (quantidade por 100g)
Calorias: 364
Gorduras Totais: 1g
Gorduras Saturadas: 0,2g
Colesterol: 0g
Sódio: 2mg
Potássio: 107mg
Carboidratos: 76g
Fibra Alimentar: 2,7g
Açúcar: 0,3g
Proteína: 10g
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