O TEMPO DO CLIMA

Márcia Wayna Kambeba
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E houve um tempo
Em que dançavam as borboletas
Na grama verde pousavam para descansar
E ouvir o canto do vento ecoar 

Houve um tempo em que o sol brilhava mais forte 
Clareando o caminho com paz e bem 
Amadurecida os frutos 
Não prejudicava ninguém 

Houve um tempo 
Em que a terra no seu esplendor 
Alimentava o mundo com alegria e amor 
Dela brotava a planta, tinha respeito e valor. 

Houve um tempo 
Em que a lua virava Nayá 
E o sol se escondia para essa dama brilhar 
Na noite escura ela chamava as encantarias 
Protetoras da água, rio e mar. 

Mas o homem filho da terra
Que por ela foi moldado
Escravizado na arrogância 
Dinheiro, um pecado
Secou o rio, retalhou a terra 
Deixou tudo mudado. 

Espantou os animais 
Enganou os encantados 
Arrasou a samaumeira 
E os pássaros desesperados 
Procuraram uma morada 
Só acharam um descampado 

O sol ficou curioso 
A pele fez arder 
A lua entristecida 
Num eclipse se escondeu 

A inteligência humana 
Não parou de atacar
A queimada e derrubada 
Afetaram até o ar 
Respirar é um problema 
A fumaça não vai parar. 

O clima foi alterado 
Meu tio mudou o rumo 
Minha secou no verão 
Perdi até meu fumo 
A aldeia não viu mais peixe 
Cadê o pirabutão 

A macaxeira não criou raiz 
Minha aldeia virou sertão 
Da fonte que eu bebia 
Restou a recordação 

Sinto cheiro de poluição 
Envenenando a nação 
Para ajudar o clima 
Precisamos do tempo
Só o velho ancião 
Pode contar a máquina da destruição. 

De: Márcia Wayna Kambeba 
Do livro: O lugar do Saber Ancestral

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