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Arborização do futuro: Belém busca estratégias para ampliar cobertura vegetal

Mudas de espécies típicas da Amazônia estão sendo plantadas nas ruas da cidade

Fabrício Queiroz

Registros históricos apontam que Belém foi uma das pioneiras na adoção de estratégias de arborização desde a segunda metade do século XVIII. O processo ganhou ainda mais força nos séculos seguintes, especialmente durante a chamada Belle Époque, quando as principais vias ganharam o plantio de mangueiras, que levaram à atribuição do título de Cidade das Mangueiras.

A presença da espécie ainda é marca da paisagem do centro, porém o envelhecimento e morte natural dos vegetais aliado às perdas decorrentes da intervenção urbana ou de eventos climáticos provocam alertas sobre o risco de diminuição da cobertura vegetal na metrópole. De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Belém conta com cerca de 120 mil árvores, no entanto, a situação da arborização ainda preocupa, sobretudo após o recente desabamento de 22 árvores e a queda da centenária samaumeira do Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN).

Apesar da situação chamar a atenção, a doutora em Ciências Agrárias e pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, Noemi Vianna Leão, explica que a perda de vegetais faz parte do seu ciclo natural de vida, contudo é possível tomar medidas de amparo e de redução dos danos provocados pelas condições do clima e pela urbanização.

“Nossa região tem um regime pluviométrico muito elevado, temperaturas e umidade relativa do ar muito altas, o que propicia a ocorrência de pragas e doenças. Outros fatores que influenciam é a falta de manutenção dos canteiros onde essas árvores estão. É comum encontrar cimento na base de árvores, o que impede a drenagem da água, e outras construções que enfraquecem o vegetal”, explana Noemi, que ressalta o papel que os gestores devem ter nessa área.

“Recomenda-se um Plano de Manejo de todas as árvores plantadas na cidade, e um mapeamento com os dados dendrológicos de cada indivíduo arbóreo. Essas informações podem ser obtidas através de um inventário florestal e do georreferenciamento de cada árvore”, acrescenta.

Noemi é uma das autoras do Manual Técnico de Arborização de Belém, elaborado em conjunto com especialistas de 11 instituições estaduais, federais e municipais, órgãos de classe e entidades do setor privado. Para ela, é fundamental conjugar ações de manejo, reposição de árvores nas áreas onde há carência e a substituição de espécies inadequadas às características das vias.

“Árvores de grande porte devem ser plantadas, preferencialmente, em praças públicas e canteiros centrais largos, desde que não possuam frutos pesados. Nos canteiros centrais médios, pode-se plantar espécies de médio porte como o pau preto, os ipês, etc. Nas calçadas estreitas temos a opção de árvores de médio e pequeno porte, como ipezinho e outras que constam na lista no Manual”, exemplifica a pesquisadora.

Outros fatores levados em conta no estudo são o processo de caducifólia, que é a perda de folhas, bem como aspectos paisagístico e ambiental. “É importante ressaltar que devemos escolher sempre árvores com floração bem colorida para dar um visual bonito na cidade, além da sombra e de tantos outros benefícios que as árvores nos oferecem”, complementa Noemi Leão. 

Espécies típicas da Amazônia estão sendo plantadas na capital

Para contornar o problema da arborização na cidade, a Semma afirma que tem atuado em três frentes de trabalho, que envolvem o acompanhamento e vistoria das árvores, a apuração de denúncias relacionadas à arborização e o mapeamento dos bairros para identificação de indivíduos que necessitam de retirada, poda ou outros cuidados. Além disso, o órgão defende que o plantio na cidade seja pautado pelo que é descrito na lei de arborização.

“A gente preza pela orientação no que se refere à arborização. A secretaria não impede que ninguém plante algo na frente da sua casa, em um quintal ou terreno abandonado, mas é importante que nos procure para que as equipes técnicas possam prestar os esclarecimentos. Entendemos que junto com a população esse trabalho é mais interessante”, afirma Leonardo de Jesus, diretor geral da Semma.

Com base nessa perspectiva, a ideia é ampliar a cobertura vegetal e incentivar a diversificação das árvores na paisagem, privilegiando espécies típicas da região e mais bem adaptadas às condições do clima e do solo local, como é o caso do uxi, umari, pau preto, copaíba e outras.

“Nós temos um problema com a espécie fícus, que a população gosta de plantar porque é possível dar forma a copa dela. Contudo, existe já uma proibição em relação a esse plantio porque o fícus tem raízes superficiais, sem sustentação e que acabam obstruindo e danificando calçadas e tubulações. Nesse plano, a gente busca priorizar os vegetais que tenham raízes profundas e que não causem esse tipo de problema”, explica o diretor.

Leonardo de Jesus ressalta ainda que o estímulo a maior variação de espécies não compromete as ações de preservação e replantio de mangueiras, quando necessário. Segundo a legislação municipal, em caso de retirada de uma árvore desse tipo, é necessário o plantio de outra da mesma espécie no local.

“Continuamos sendo a Cidade das Mangueiras e vamos continuar até porque a legislação obriga. Mas a gente quer trabalhar a diversidade que nos impõe o desafio de fazer essa ordenação. Vamos trabalhar para adequar a espécie ao local que possa comportá-la e, onde não for possível, vamos fazer o plantio com as árvores próprias e adequadas ao nosso clima para avançar nessa cobertura vegetal”, destaca.

Aliado a isso, Noemi Leão avalia que é necessário ampliar o foco das ações, abrangendo, por exemplo, a educação ambiental nas escolas e fortalecimento de programas de produção de mudas para fomentar o plantio entre os habitantes. “Considero muito importante plantar na cidade diferentes espécies da nossa floresta para possibilitar ao cidadão urbano o conhecimento das espécies que muitas vezes só vemos nas áreas rurais. Sugerimos também o fortalecimento do plantio de espécies de valor cultural, como a cuieira, o guaraná e o pau brasil, e ameaçadas de extinção, a exemplo do pau rosa e pau amarelo em áreas urbanas e que tenham segurança como nas unidades de conservação do município e outros logradouros”. 

Amazônia Viva