MENU

BUSCA

A 'magia nas arquibancadas': o processo criativo dos mosaicos nas torcidas de Remo e Paysandu

O futebol está além das quatro linhas. Esporte mais popular do mundo, a modalidade, para muitos, é sinônimo de paixão e compromisso

Aila Beatriz Ainete

O futebol está além das quatro linhas. Esporte mais popular do mundo, a modalidade, para muitos, é sinônimo de paixão e compromisso. E essa relação pode ser percebida nas arquibancadas. Enquanto a bola rola dentro de campo, a torcida está gritando, cantando e fazendo uma grande festa para apoiar o time.

Aqui no Pará, a dupla Remo e Paysandu é reconhecida não só pela tradição no futebol, mas também pelas suas torcidas apaixonadas. No Re-Pa de número 776, que ocorreu no dia 23 de fevereiro, pelo Campeonato Paraense, por exemplo, os torcedores das duas equipes fizeram uma grande festa no duelo, com mosaicos que chamaram a atenção nacionalmente.

E essas celebrações com mosaicos costumam envolver muito trabalho. Com isso, para entender todo o processo, conversamos com Paulo Lima, o Paulinho, como é conhecido, empresário cearense e responsável pelos projetos azulino, e com Thiago Andrade, presidente da Comissão de Festa do Paysandu.

Paulo Lima trabalha com bordados computadorizados e, desde 2012, quando fez o primeiro mosaico pelo Fortaleza, usa a experiência que tem no trabalho para produzir as peças.

"Na torcida do Remo, a criação do mosaico passa pela Comissão de Festa da Maior do Norte. Então, esse grupo debate a ideia do que fazer para o jogo. Sempre tem uma temática, uma simbologia para representar no mosaico", contou Paulinho.

"No ano passado, por exemplo, coincidiu de ser na época do Círio [de Nazaré] e do jogo decisivo de acesso à Série B. Então, o pessoal pensou em fazer algo que remetesse à fé, à positividade. Assim, foi feito o mosaico em 3D do Leão com a Santa, fizemos também a bandeira do Brasil, para representar o Círio a nível nacional, e a do Pará, para representar regionalmente", detalhou o empresário.

O trabalho não é simples. É preciso ter planejamento, organização, confeccionar as peças e uma equipe comprometida em fazer tudo dar certo. São horas no estádio distribuindo as partes que compõem o projeto para, no final, ter cerca de cinco minutos de apresentação, que (quase) sempre valem a pena.

Conforme o produtor, o ideal para um mosaico ser produzido é de 15 dias, mas pode ser feito em uma semana.

Já do lado do Paysandu, Thiago Andrade, de 34 anos, formado em marketing, designer gráfico e apaixonado pelo Papão, ajudou a montar a Comissão de Festa Bicolor em 2014. Ele explicou que todo o projeto que vai para as arquibancadas é produzido pelos próprios torcedores, a partir de uma temática.

"A gente procura entender o contexto que a gente está vivendo, a competição, se está perto de uma data comemorativa. Trabalhamos o projeto todo, desde a captura de recursos, divulgação, se for preciso produzir material, a gente mesmo produz. Toda a operação é feita por nós na comissão. Não terceirizamos", detalhou o torcedor.

O primeiro feito pela comissão foi o "Payxão", em 2014, que, segundo Thiago, foi um divisor de águas. "Se tivesse dado errado, talvez a gente nem existisse hoje, talvez tivéssemos parado ali", revelou o torcedor. Depois dele, o grupo só evoluiu e surgiram muitos outros, como o "Caldeirão", em 2023, e o do Dia dos Pais, em 2024. Os três projetos estão na lista dos preferidos do bicolor.

'Payxão' e identificação

A relação de Thiago com o Paysandu foi passada pelo pai; por isso, desde criança, ele tem um grande apego pelo clube bicolor. Por conta disso, todo trabalho feito à frente da comissão de festa do clube é muito gratificante.

"É muito especial o que a gente vive porque estamos há 10 anos fazendo história com os mosaicos. As nossas festas ganham proporções mundiais. Então, estamos sempre procurando nos superar. Cada mosaico é um desafio. Procuramos inovar, nos diferenciar para conseguirmos nos manter na vitrine das torcidas que promovem grandes festas, não só no Brasil, mas no mundo todo", destacou.

Para Paulinho, o hobby de produzir os mosaicos se transformou em empreendimento. Ele também faz peças para outros clubes como Cruzeiro, Flamengo, Vasco, Vila Nova-GO, Santa Cruz, Vitória-BA e Bahia-BA, além do Fortaleza e Leão Azul.

No caso do Remo, o empresário não considera como trabalho. Pela proximidade das torcidas do Leão Azul e do Leão do Pici, a relação com o clube azulino é de muito respeito e carinho. Desde o início da parceria, em fevereiro de 2024, já foram 10 mosaicos produzidos para o Remo.

"Você demonstra o real sentido de torcida [com os mosaicos], do que a gente vai fazer para poder enaltecer o nosso clube. Os mosaicos entraram para poder fazer essa comunicação com o clube, porque não há outra forma mais direta de comunicação com o clube do que a torcida estando ali na arquibancada", destacou.

"E a questão da identidade é uma forma de você sair por cima. Você ser o primeiro, ser a torcida mais organizada, o pessoal da comissão de festa preza muito por isso: pela qualidade, pelo empenho, pelo prazer de executar. Começamos a fazer esses mosaicos no ano passado e, neste ano de 2025, blogs internacionais já estão postando e está pegando uma dimensão muito grande", concluiu Paulinho.

Os mosaicos deram uma cara nova para o esporte e é fato que, sem a torcida apoiando o time, o futebol não seria o que é hoje: cheio de cores, canto e muita alegria.

Amazônia