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A beleza que pulsa no Pará: identidade, ritmo e ancestralidade

Joelma, Jeff Moraes e Naieme refletem sobre o que é beleza a partir da cultura paraense

Matheus Viggo

O que é beleza para você? Pode parecer uma pergunta simples, mas quando feita a artistas que vivem e respiram a cultura paraense, a resposta vai muito além da aparência. A beleza no Pará, não se limita à estética: ela se move, dança, pulsa, canta, tem cheiro, som e sabor. É identidade, é raiz, é resistência. É o reflexo de um povo que aprendeu a fazer da arte o seu modo de existir no mundo. Para entender como essa beleza se manifesta, ouvimos três artistas que são rostos, vozes e símbolos da música paraense: Joelma, Jeff Moraes e Naieme. Cada um, à sua maneira, traduz o orgulho de pertencer a uma terra que emociona, encanta e não passa despercebida.

“Eu tenho muito orgulho de ser paraense”

A beleza, para Joelma, está no sentimento de pertencimento e na força que vem da mistura que forma o povo do Pará. “A cultura paraense é única e tem uma energia e riqueza que não se vê em nenhum outro lugar. É uma mistura de ritmos e sabores que vêm do nosso povo, e isso faz parte da nossa identidade. Eu tenho muito orgulho de ser paraense”, declarou. Ela escolhe a palavra “encantadora” para definir a beleza da cultura do Pará. E explica: “Todo mundo que conhece o nosso estado se apaixona. O Pará tem uma cultura rica e conquista qualquer um. Nossa culinária é um grande exemplo disso, o açaí, o tacacá… São sabores únicos que o pessoal ama! Sem falar na nossa música, né?”

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Ao falar sobre o maior símbolo da beleza paraense, Joelma é direta: “É o nosso povo. Cheio de garra, força de vontade, e que faz do nosso estado um lugar tão especial. E claro que eu não posso deixar de falar da nossa culinária, que é a melhor do mundo, né?”. Para ela, beleza está nas pessoas e no que elas produzem, e isso é o que realmente importa.

“Tecnologia ancestral: a gente tem raiz e também tem futuro”

Já o cantor e compositor Jeff Moraes vai além do visível e mergulha na essência. Para ele, a beleza da cultura paraense pode ser definida por duas palavras que parecem opostas, mas que se complementam: “tecnologia ancestral”.

“Eu descreveria a beleza da cultura paraense como tecnologia ancestral, justamente porque acredito muito que nós estamos com as nossas raízes fincadas de onde a gente veio, fincadas na conexão com a floresta, fincadas na conexão com as nossas águas… E ao mesmo tempo, a gente está com os nossos braços conectados nessa mega metrópole que é o mundo digital, o novo. A gente entende nossas potencialidades enquanto indivíduos que respiram cultura e, ao mesmo tempo, consegue se conectar com o futuro.”

Jeff reconhece as barreiras de visibilidade impostas à cultura nortista, mas reforça que, apesar disso, o Pará se mantém em movimento. “Mesmo que o Brasil ainda tenha essa dificuldade muito grande de olhar pra gente, a gente está aí fomentando, crescendo, expandindo a nossa música, a nossa arte e a nossa gente. A gastronomia paraense é prova disso, hoje é referência internacional".

E quando o assunto é símbolo da beleza paraense, ele elege o som grave que vem da terra: “O curimbó é um símbolo de beleza poderosíssimo. É um tambor originário, que mistura os povos indígenas e africanos. Ele se toca sentado, e o som que ele produz faz tremer o chão, arrepia a pele. E ele conduz uma dança tão leve e bonita que é o carimbó. É força e poesia juntas”.

“Colorida, alegre, cheia de identidade”

A cantora Naieme também encontra no carimbó a síntese da beleza cultural do Pará. Para ela, essa manifestação vai além da dança: é pertencimento e representatividade. “Acredito que é o carimbó! Toda a cultura da Amazônia como um todo é muito plural e diversificada, em cada estado há movimentos únicos. Mas de modo geral, como nortistas, nós defendemos nossos sabores, cores, músicas, costumes. E o povo paraense tem as suas especificidades também: a chuva da tarde, o almoço do Círio, nossas festas populares, folguedos, pássaros juninos… Nosso jeito de celebrar e mostrar nossa cultura com orgulho".

Ela define a cultura paraense como “colorida”. “Porque essa nossa pluralidade se espalha colorindo tudo, contagia, espalha alegria!” E assim como Joelma e Jeff, Naieme enxerga a beleza do Pará nas pessoas, mais especificamente na mulher paraense. “Ela é símbolo da nossa força e da nossa expressão cultural. Uma dançarina de carimbó com suas vestes coloridas e bailado elegante, com traços de beleza indígena e negra, cabelos compridos, adornos, pulseiras, pés descalços, um curimbó, um maracá, e um sorriso. Pra mim, o símbolo da beleza paraense é esse".

Beleza é ser quem se é

Em tempos onde se discute tanto sobre padrões de beleza, esses artistas paraenses mostram que a beleza verdadeira é aquela que vem do chão, das raízes, da conexão com a terra e com a ancestralidade. E no fim das contas, talvez a melhor resposta para “o que é beleza pra você?” esteja justamente nos detalhes: no toque do curimbó que arrepia, no aroma forte do tacacá que invade as esquinas, no rodopio vibrante das saias de carimbó, no brilho no olhar de quem vive e celebra sua própria história. Porque no Pará, a beleza não se exibe, ela pulsa. Se sente na pele, se ouve na alma e se reparte com o mundo.

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