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A graça de Marco Luque

Lorena Filgueiras

Você prefere enxergar o copo meio vazio? Pois para nosso entrevistado especial e capa desta edição da Troppo + Mulher, o copo sempre esteve meio cheio. Decidido a fazer carreira no meio artístico, trabalhou como palhaço, animador de festas infantis, garçom de buffet – ao mesmo tempo em que cursava a faculdade. Foi quando a capacidade de rir das dificuldades ficou mais evidente, porque era uma opção. Assim, Luque foi crescendo (e se fazendo notar). Atualmente, está no elenco fixo do programa “Altas horas”; estará em Toy Story (dublando um brinquedo) e no segundo semestre, deve rodar o país em turnê com um espetáculo solo. Ufa! São tantas as novidades e, depois do papo que tivemos com ele, todas muito merecidas. Confiram!
 
Troppo + Mulher: O bom humor é uma característica tua, do Luque?
Marco Luque: Sim, desde pequeno eu sempre tive essa característica. Na época da escola, eu costumava fazer algumas imitações para divertir meus amigos. Contava piadas também. Era uma forma de interagir com as pessoas, porque eu era bem tímido. Até meus professores achavam graça das minhas brincadeiras e piadas. Percebi que através do humor eu conseguia me conectar melhor com as pessoas ao meu redor.

T + M: Garçom de buffet, animador de festas infantis, instrutor de acampamento... você fez tanta coisa até que a oportunidade para atuar chegasse e como ela chegou? Conta pra mim esse começo e os perrengues que você enfrentou?
ML: Eu cursava Arte Plásticas na FAAP. Fiz várias coisas para poder pagar a faculdade, como ser garçom em buffet, animador de festas e até palhaço. Como palhaço, cheguei a atuar no teatro e logo entrei para o grupo do Terça Insana. Como sempre gostei dessa vertente mais humorística, levava tudo numa boa. Procurava enxergar o lado positivo em tudo e extrair o meu melhor ali naquele momento. Com isso, me aperfeiçoei na arte do humor e de atuar e comecei a correr atrás. Foram anos de muito trabalho e dedicação para chegar até aqui e sou grato a tudo o que vivi e passei.

T+M: Seu debut foi no Terça Insana, certamente um dos mais engraçados que já vi - foi um choque de realidade muito grande pra ti? Como foi essa experiência?
ML: Foi uma experiência incrível. Eu passei por muita coisa até chegar ao Terça Insana. Estudei com preparadores de elenco, como a Fátima Toledo. Também fiz peças dramáticas e depois entrei no grupo do Terça Insana, idealizado pela brilhante atriz e diretora Grace Gianoukas. Foi neste projeto que nasceram alguns dos meus personagens principais. O motoboy Jackson Faive, o taxista Silas Simplesmente, a diarista Mary Help e o rastafári Mustáfary, por exemplo, surgiram lá. A partir dali muitas portas se abriram na minha vida. Só tenho que agradecer!
 
T+M: E também passaste, mais recentemente, pelo CQC, cujo humor era mais refinado, apesar do tom crítico - política no Brasil, por tudo que viveste, é uma piada? Como vês o momento atual brasileiro?
ML: O CQC me proporcionou um grande aprendizado. Acredito que mesmo ao contar uma piada, tem que ter respeito. É preciso ter discernimento sobre até onde vai o limite de uma brincadeira. Estamos em um momento político delicado e ao mesmo tempo importante, em que as pessoas estão mais atentas a tudo. Procuro sempre me policiar sobre o que estou falando, sobre como isso pode ser interpretado. Prefiro focar em outros temas. Mas acredito no papel do humor como uma forma de promover reflexões necessárias e importantes numa sociedade em desenvolvimento.
 
T+M: Integras a equipe do Altas Horas, que é completamente diferente de todas as tuas demais experiências - ainda assim, tens plateia e isso deve te lembrar muito do teu começo. Vejo tuas interações com a Laura Müller e acho um barato - tens tido um feedback bacana daqueles jovens ali?

ML: Sim! Eles são sempre muito receptivos comigo e o feedback tem sido bastante positivo. Essa troca que tenho com eles é muito importante. É muito bacana ter esse reconhecimento e o carinho deles. Fico extremamente feliz!
 
T+M: Qual tua fonte de inspiração para compor teus personagens? Também rola um trabalho vocal intenso, pelo que percebo - como é tua preparação vocal? Como definir a personalidade vocal deles?
ML: Gosto de observar as pessoas ao meu redor, analisar suas características e peculiaridades. O povo brasileiro é muito rico em trejeitos e expressões. É nele que busco minha fonte de inspirações. Cada um dos meus personagens tem trejeitos característicos de alguma região. A preparação vocal passa pelo mesmo processo de análise e observação. Me inspiro, pego algumas referências e coloco toques de originalidade nos meus personagens. Se você analisar o Jackson Faive, por exemplo, vai notar traços do paulistano na fala, na forma de agir. O Mustáfary já tem mais um toque do nordestino, mais tranquilo, com sotaque mais arrastado. É importante entender a linguagem corporal e a mensagem que quero passar com aquele personagem para poder compô-lo.
 
T+M: Falando em jovem, aparentas ser muito mais jovem - o humor é o segredo? Como ser leve mesmo quando os dias são pesados?
ML: Obrigado! (risos) Pode ser que seja sim meu segredo! (risos) Como disse, eu acredito que o humor torna tudo mais leve, ele tem a função de aproximar e alegrar as pessoas. Tento me lembrar sempre disso, principalmente quando os dias estão mais difíceis.
 
T+M: Me fala um pouquinho dos teus planos para o futuro?
ML: São muitos! (risos) Acabei de ganhar um novo quadro de entrevistas no Altas Horas, onde eu entrevisto de cara limpa um convidado e depois, caracterizado como um de meus personagens, troco todas as perguntas para as respostas deles. Também estou em fase de gravação da série “Eu, a Vó e a Boi”, da Globo Play. Interpretarei o Montgomery, filho da “Boi”, Yolanda, personagem da Vera Holtz e marido de Norma, que é interpretada pela Danielle Winits. Em junho, empresto minha voz para o “Patinho” na sequência de “Toy Story”. Retorno aos palcos no segundo semestre com meu novo show solo, “Marco Luque em: Todos Por Um”, que tem um texto totalmente novo, vocês poderão ver os meus personagens mais queridos e mais algumas surpresas. Para o segundo semestre também tem o retorno da “Escolinha do Professor Raimundo”, onde interpreto o Patropi. Além disso, também tem o filme da história do Jackson Faive em andamento. Tem bastante trabalho para que vocês possam me acompanhar! (risos)

“Acredito que o humor torna tudo mais leve, ele tem a função de aproximar e alegrar as pessoas. Tento me lembrar sempre disso, principalmente quando os dias estão mais difíceis”


T+M: Fiquei muito surpresa ao saber que você esculpe! Onde nasceu esse hobby?
ML: Eu sempre gostei muito de artes e, como disse, sou formado em Artes Plásticas pela FAAP. Lá me aprimorei mais na técnica e hoje é meu hobby. Aliás, é através dele que moldo as máscaras que meus personagens usam.
 
T+M: O que te tira o bom humor?
ML: Gente que joga bituca de cigarro na rua, que fura fila. A falta de empatia, de querer tirar proveito, ao invés de olhar para o próximo. Gente que não cuida do planeta, que não cuida dos animais, isso me tira do sério. O “jeitinho brasileiro” me incomoda muito.

O Liberal