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Síndrome de Burnout: no limite do limite

Pouco conhecida, a síndrome atinge cerca de 21% da população brasileira economicamente ativa. Psicóloga paraense, que também teve Burnout, relata a experiência e explica como são diagnóstico e tratamento

Rodrigo Vieira | Conexão AMZ

De repente, percebe-se que se chegou ao limite. Mesmo. Não há mais condições físicas nem emocionais para realizar tarefas do trabalho que, até então, eram  tiradas de letra. Uma sensação de fracasso toma conta da mente. Ao mesmo tempo, não se consegue desconectar das atividades. E, para piorar, sente-se extremamente infeliz e improdutivo. Por vezes, até incompreendido, já que, muitas vezes, continua-se a parecer muito competente perante colegas, amigos e familiares.

 

Situações como essas podem representar “apenas” um momento de extrema pressão no trabalho. Mas, quando se tornam prolongadas, causam enorme sofrimento e incapacitam o profissional, ganham outro status: Síndrome de Burnout(em tradução livre, algo como “queimar-se por completo”). Dados da International Stress Management Association (IsmaBR) apontam que 70% de brasileiros economicamente ativos sofrem de estresse. Deste grupo, 30% podem ser diagnosticados com a Burnout.

 

A Conexão AMZ conversou com a psicóloga paraense Liane Dahás, ex-vice-presidente da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental, pesquisadora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e doutora e mestra em Teoria e Pesquisa do Comportamento pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela vive em São Paulo e também sofreu com o Burnout.

 

“Estava com muita responsabilidade em cargos de chefia, planejando o segundo congresso nacional que eu presidiria, consultório cheio, muitos alunos, orientandos e aulas pra dar conta, último ano do pós-doutorado… Ainda tenho marido, amigos, uma casa, dois cães... E, obviamente, não estava conseguindo curtir nada disso. Só conseguia pensar no trabalho e ficava irritada quando alguém me chamava pra sair, porque eu “estava muito ocupada”, lembra.

Assista ao vídeo com o relato de Liane.


Além dos dados nacionais, Liane também destaca uma pesquisa, de 2011, apontando que 50% dos professores de Medicina da Universidade Estadual do Pará (UEPA) apresentavam Burnout. Outro estudo revelou  a prevalência da síndrome em 35,5% dos enfermeiros de um hospital em Santa Catarina. Os dados brasileiros permanecem apontando as mesmas populações de risco que os dados internacionais.

Diagnóstico e tratamento

De acordo com Liane, o primeiro passo para tratar a síndrome é obter um diagnóstico correto e não confundir a Burnout com outros sintomas também recorrentes hoje em dia.

 

“Profissionais da saúde mental são os mais capacitados para identificar os sintomas. Procure ajuda psiquiátrica ou psicológica. Os transtornos ansiosos, depressivos, a própria Burnout e até alguns transtornos de personalidade têm vários sintomas em comum. Quem não é da área não consegue identificar quais as variáveis relevantes, que realmente importam no diagnóstico”, esclarece.

 

Em relação ao tratamento, Liane recomenda psicoterapia e, ao menos, uma passada no psiquiatra pra checar se alguma medicação não poderia ajudar a diminuir os sintomas e a melhorar a qualidade do sono. “Com as primeiras noites bem-dormidas, o portador da síndrome já começa a se sentir melhor e passa a ser mais produtivo no trabalho. Alguns antidepressivos também ajudam, mas isso quem avalia, cuidadosamente e caso a caso, é o psiquiatra. Em psicoterapia, também costumo incentivar os pacientes a se exercitarem e a inserirem momentos de mindfulness no decorrer do dia para aprenderem a cuidar do corpo e a dar pequenas paradas no trabalho”, recomenda.

Especial AMZ