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Fake news e insensibilidade

Em meio a tragédias, a propagação de notícias falsas aumenta a dor e manipula opiniões

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Em meio à enxurrada de lama que desceu da barragem da Vale, soterrando o Vale do Feijão, em Brumadinho (MG), outra enxurrada inundou a internet: a de vídeos, imagens e informações falsamente atribuídas à tragédia. Enquanto meios de comunicação de todo país faziam a cobertura do desastre ambiental, internautas de todos os cantos recebiam e compartilhavam conteúdos classificados como fake (falsos) mais rapidamente que o deslocamento da lama sobre o rio Paraopeba.

“Na internet, temos uma condição primordial que é a atemporalidade. Conteúdos atuais circulam com a mesma velocidade que os antigos. O fato de não ser controlada pelo tempo faz com que presente e passado se confundam num mesmo espaço de produção de conteúdos e compartilhamentos. O que causa certa confusão”, explica o professor de Novas Mídias e Conteúdos Digitais da Universidade da Amazônia (Unama), Mário Camarão, que é doutorando em Ciências da Comunicação, Informação e Cibercultura pela Universidade do Minho, em Portugal.

Para ele, tragédias como a que ocorreu em Brumadinho acabam sendo usadas pela grande comoção que provocam, o que se reflete na velocidade de compartilhamento dos conteúdos sem a devida confirmação da veracidade dos fatos, pois estão todos ávidos por informações. “No caso específico de Brumadinho, vimos uma profusão de fotos e vídeos de acidentes anteriores parecidos e até vídeos asiáticos com tragédias em barragens. Para um internauta mais atento, alguns indícios são fáceis de descartar a veracidade dos conteúdos. No vídeo asiático, por exemplo, ouve-se vozes de nativos falando em tailandês”, comenta.

De carona na tragédia, as fake news ganharam tamanha proporção que precisaram ser desmentidas por órgãos oficiais. Como no caso da notícia falsa, que circulou principalmente em grupos de mensagens de redes sociais como o WhatsApp, de que o rompimento da barragem teria sido provocado por um atentado terrorista, executado por um cubano e um venezuelano.  “Nesse caso específico, a propagação se deu em função da questão política atual e a polaridade dos movimentos na rede. O que gerou amplificação imediata de compartilhamentos enviesados e de militâncias pró e contra governo”, avalia o professor. A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) precisou emitir um comunicado negando qualquer tipo de ataque terrorista para por fim as especulações.

Para Camarão, o uso de fake news para gerar conteúdos que atraem militâncias, manipulam grupos, calam vozes, provocam ruídos, estimulam preconceitos, incentivam comportamentos desvirtuosos e ameaçam vidas é onde reside o maior perigo. “Esse é o maior risco das fake news. Muitos desses conteúdos são criados exatamente para alimentar um público ávido para receber o que querem exatamente ler. Mesmo que haja evidências explícitas de desonestidade intelectual. Muito triste. E presenciamos isso contidamente nas redes. Um espaço vasto para a ignorância e a má-fé atuarem sem controle.”

O professor reforça ainda que, independente da situação, o mais importante para evitar a propagação de notícias falsas é sempre checar a veracidade  antes de compartilhar. “Não basta confiar em quem compartilha tal conteúdo. É importante sempre checarmos as fontes, não confundir e acreditar em tudo que se lê. Eu sempre oriento para observar alguns indícios de falseamento dos conteúdos. Mas, em muitos dos casos, as notícias são tão bem construídas que, mesmo conhecendo técnicas de checagem, acabamos sendo enganados. Muitas das vezes pela velocidade em compartilhar um conteúdo, sem mesmo ter lido antes. O importante é ter paciência, bom senso e cuidado”, orienta.

Especial AMZ