Elas são a nova força no campo

Nos últimos anos, 50% do que o Brasil evoluiu em relação à participação feminina no mercado de trabalho foi proveniente do agronegócio

Anna Peres | Conexão AMZ
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Foram necessárias três tentativas para que, finalmente, a Conexão AMZ conseguisse conversar com a empresária Cirede Carloto, em meio a correria comum ao dia a dia de qualquer grande executiva. O que ainda não é tão comum é a atividade exercida por Cirede. Ela administra uma fazenda de três mil hectares, em Paragominas, na Região Nordeste do Pará. “A diferença é que nós, mulheres, fomos educadas para ser uma boa dona de casa”, comentou a agricultora, que não se contentou com o papel designado a ela na cadeia produtiva do campo.

E essa realidade está mesmo mudando. De acordo com um estudo realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura da USP, entre os anos de 2004 e 2015,  o Brasil registrou aumento do número de mulheres atuando no agronegócio. O crescimento foi de 8,3%, passando de 24,1% para 28%. “Nos últimos anos, 50% do que o Brasil evoluiu em relação à participação feminina no mercado de trabalho foi proveniente do agronegócio”, explicou Leandro Gilio, pesquisador do Cepea.

Para os pesquisadores, o impacto do sexo feminino no setor reflete algumas mudanças na atividade agrária no país. No período de pouco mais de uma década que compreende a pesquisa, o agronegócio mudou bastante, tornou-se mais técnico e passou a exigir capacitação mais elevada. O produtor rural passou a ser também um gestor, um "CEO" da propriedade. Foi essa evolução que teria contribuído para colocar as mulheres à frente do negócio, não apenas dentro da porteira, mas também nas agroindústrias e serviços prestados pelo agro.

NO PARÁ

Nascida em Bossoroca, no Rio Grande do Sul, e filha de agricultores, Cirede chegou ao Pará em 1997. Veio acompanhando o marido, que é engenheiro agrônomo e tinha sido convidado pra iniciar um projeto de agricultura em Paragominas. “Foi um período muito difícil, não conhecíamos nada, a agricultura não existia, não tinha variedade, época certa de plantio... Começamos com um escritório de consultoria e, com muito trabalho, conseguimos a nossa fazenda”, conta.

“Com o tempo fui entendendo que a fazenda era uma empresa e que precisava ser muito bem administrada. É um investimento muito alto, com muitos riscos, e eu precisava de informações para conquistar meu espaço em um meio que ainda é predominantemente dominado por homens”, completa Cirede, que hoje controla a parte administrativa e financeira do agronegócio da família.

NÚMEROS

Enquanto os homens do agronegócio estão predominantemente atuando no segmento primário (agropecuária), as mulheres atuam principalmente nas agroindústrias e nos agrosserviços. De acordo com a pesquisa do Cepea, 45,32% da mão de obra feminina no campo está no segmento de agrosserviços; 34,11% na agroindústria de processamento; 19,66% dentro da porteira; e 0,91% na indústria de insumos.

Outro dado importante é que, enquanto a participação das mulheres com instrução igual ou inferior ao ensino fundamental recuou expressivamente entre 2004 e 2015, aumentou a participação das mulheres com ensino médio e superior atuando no agro. Especificamente, a participação das mulheres com ensino superior dobrou nesse período, passando de 7,6% para 15%.

Esse aspecto da pesquisa também se reflete na família Carloto, onde Cirede investe na preparação das duas filhas para assumirem, ao lado do irmão, o comando da fazenda no futuro. “Fico muito feliz em ver que as mulheres, aos poucos, estão mudando essa história. Ainda enfrentamos muitos preconceitos e precisamos trabalhar em dobro para conquistar respeito, mas estamos avançando”, finaliza.

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