Inteligência Artificial transforma práticas na Indústria de Alimentos

Tecnologia é aposta do setor, com grande potencial de expansão, tanto em nível nacional quanto local.

Amanda Engelke
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O uso de Inteligência Artificial (IA) na Indústria de Alimentos e Bebidas já é realidade no Brasil. De forma simples, é como se a tecnologia passasse a possuir a capacidade de execução de atividades de forma inteligente, próxima à capacidade de um ser humano. Seu bom uso está associado à redução de custos e ao aprimoramento do processo produtivo. Grandes marcas, como a Nestlé, a Miverva Food's, a McDonald's e a Ambev já se utilizam da tecnologia.

A Nestlé, empresa já consolidada no país, por exemplo, aderiu à IA no processo de produção em 2021 e, conforme divulgado pela própria companhia, o ganho de eficiência foi de 12% em suas fábricas. O investimento foi na produção do leite Ninho e o foco se deu nos processos de automação e coleta de dados. Relata-se que, através do projeto, foi possível centralizar as informações de produção, rastrear os erros com mais facilidade e evitar possíveis desperdícios.

Luiza Helena da Silva Martins, professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e da Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos na Universidade Federal do Pará (UFPA), onde ministra a disciplina de Inteligência Artificial, destaca que a utilização de IA no segmento de alimentos e bebidas é uma aposta em curso e com um enorme potencial de expansão, tanto em nível nacional quanto local. Ainda que, em grande parte, sua adoção ainda esteja ligada a empresas de grande porte e startups, suas possibilidades são inúmeras. No Pará, seu uso ajudaria na produção de Açaí, por exemplo.

A professora participa, pela universidade, de um projeto de classificação de produtos de abelhas nativas da Amazônia, em que é possível distinguir as variações químicas resultantes de diferenças em solo, vegetação, umidade e clima. Ela defende que essa classificação precisa não só ajuda na conformidade com legislações, como no caso do mel de abelha, mas também na tomada de decisões estratégicas no processo de produção, independente da cultura. O projeto teve início a partir de um trabalho de conclusão de curso de um discente do curso de Zootecnia da Ufra, que faz parte do projeto

"É uma ferramenta que, com certeza, faria com que a nossa produção pudesse expandir, trazendo um crescimento expressivo. Contudo, isto precisa de grandes investimentos e de políticas públicas. Pelo que já temos estudado, posso dizer que sim, essa ferramenta com toda certeza ajudaria na otimização da nossa produção, tanto em termos de crescimento econômico, quanto a enfrentar questões climáticas emergentes", garante a professora Luiza.

Afinal, o que a IA faz?

O projeto citado pela pesquisadora paraense atua com "redes neurais". Essas redes, que simulam o funcionamento do cérebro humano, são empregadas para identificar e classificar automaticamente produtos alimentícios em linhas de produção. "Na prática, máquinas equipadas com IA analisam imagens de alimentos em esteiras rolantes, determinando sua qualidade, tamanho e estágio de maturação com precisão superior a métodos manuais," explica.

image Luiza Martins, professora especialista na área, destaca o potencial de expansão da IA (Cristino Marntis / O Liberal)

As redes neurais são uma das principais formas de uso da IA para controle de qualidade, por exemplo. Além desta, outra possibilidade de aplicação de IA na produção de alimentos é a chamada "visão de máquina" e internet das coisas (IoT) na agricultura. Luiza explica que trata-se de sensores e câmeras equipados em drones ou tratores que escaneiam plantações, identificando áreas afetadas por doenças ou pragas, e com resultados significativos para a otimização do processo e redução de custos.

A visão de máquina, conforme explica a professora Luiza, também pode desempenhar um papel crucial na rastreabilidade dos alimentos, um aspecto fundamental para a segurança alimentar. "É possível monitorar e registrar cada etapa do processo produtivo, desde a colheita até a embalagem, facilitando o rastreamento de qualquer problema de contaminação," explica Martins.

Para além do processo produtivo, também é possível colher os frutos do uso da IA na própria comercialização. A professora acrescenta que esta forma de emprego da tecnologia assegura que, em caso de recall (retirada do mercado) de produtos, as empresas possam agir rapidamente para retirar apenas os lotes afetados, minimizando prejuízos e protegendo os consumidores.

Outras possibilidades

No campo da inovação, o destaque é a criação de alimentos plant-based, que imitam produtos de origem animal. Para isso, a IA analisa grandes quantidades de dados sobre propriedades de plantas e cria formulações que replicam o sabor, a textura e o aroma de carnes e laticínios. Um exemplo seria o hambúrguer vegetariano criado pela Notco, empresa do segmento plant-based, que não apenas parece como carne bovina, mas também tem um sabor convincentemente similar.

Apesar das inúmeras possibilidades, a adoção de IA enfrenta desafios, especialmente em relação ao custo e à integração tecnológica acessível para pequenos produtores. "Através de parcerias e políticas públicas de incentivo, podemos democratizar o acesso à IA, ampliando seus benefícios para toda a cadeia produtiva", defende a professora Martins.

No radar das empresas paraenses

Em resposta às tendências, a Indústria Paraense de Bebidas (Inbepa) está considerando seriamente a integração de IA em seus processos. Ronaldo Maiorana Júnior, diretor executivo, compartilha que está avaliando propostas que sugerem a incorporação nos sistemas de produção de cerveja. "Recebemos ofertas que prometem uma padronização mais eficaz das receitas através de softwares acoplados aos nossos sistemas de cozinha”, diz Ronaldo.

Além do aprimoramento da produção, a Inbepa também estuda o aperfeiçoamento da utilização de IA para criar conteúdo gráfico e publicitário e em fluxos administrativos. “Embora já utilizemos IA para criação de imagens promocionais em redes sociais, estamos explorando maneiras de expandir essa tecnologia para otimizar nossas campanhas de marketing” comenta o diretor.

image Ronaldo Júnior, diretor executivo da Inbepa (Foto: Tarso Sarraf | O Liberal)

Apesar do entusiasmo com as novas tecnologias, Ronaldo enfatiza que o elemento humano permanecerá crucial no processo de produção da Inbepa. “A IA pode ajudar a arredondar as arestas, mas o toque humano é essencial para garantir que nossos produtos se destaquem no mercado”, diz. Essa abordagem equilibrada, para o diretor, visa integrar inovações tecnológicas sem perder a essência que define a qualidade e o caráter dos produtos desenvolvidos pela fábrica.

A visão é semelhante à defendida pela professora Luiza, que avalia que ainda existe muito receio em torno do uso da tecnologia. “Os trabalhadores têm medo de perder seus empregos, o que não vai acontecer. Se você se adaptar à tecnologia, você não perde o seu emprego. É uma ferramenta que pode trazer muitos benefícios e já tem trazido. A gente está falando aqui da área de alimentos, mas se você for ver na área médica, farmacêutica, da educação, os resultados são sempre promissores”, afirma.

No caso da Inbepa, Ronaldo acredita que a incorporação de IA é um estudo a médio prazo, com potencial para significativas transformações. O diretor, inclusive, viajará em breve para uma feira em São Paulo para conhecer de perto experiências de aplicação dessas tecnologias. “Estamos olhando para a IA não só como uma ferramenta para melhorar a eficiência da produção, mas também para nos ajudar a antecipar tendências de mercado e nos adaptarmos de forma mais ágil”, acrescenta Maiorana.

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